Leitores,
gostaria de aproveitar esse espaço para falar de um assunto sério: a situação dos índios xavantes da reserva de Pimentel Barbosa.
Como previsto, fomos hoje visitar duas aldeias, Tanguro e Caçula, que ficam dentro da reserva indígena de Pimentel Barbosa, a 70km de distância de Canarana-MT. Essa visita era muito importante para nós porque os xavantes foram o primeiro povo indígena encontrado pela Expedição Roncador-Xingu.
Chegando lá, encontramos um quadro muito diferente do bucolismo xinguano. Aqui os índios já perderam parte de sua cultura e são muito mais dependentes do não-índio. As ocas da aldeia têm pé direito e as paredes usam telhas galvanizadas, aproveitadas das instalações de uma antiga fazenda que ocupava a reserva. Os telhados das casas – ainda não entendi porque – são cheios de pneus velhos dependurados e a aldeia, que tem a forma de uma ferradura, abriga uma escola, feita de alvenaria, bem ao lado da última oca.
A própria demarcação da área xavante contribuiu para alterar sua cultura. Povo guerreiro e nômade, os xavantes vivem da caça e precisam de uma grande área de cerrado para alimentação. Com a sedentarização forçada, eles se tornaram dependentes da comida do não-índio, mas, por outro lado, não têm fonte de renda para comprar mantimentos nem roupa na cidade.
Em resumo, as aldeias são pobres. Parecem até uma periferia marginalizada de qualquer cidade grande. Nada daquela fartura que vimos durante a pesca com timbó nos Yawalapiti.
Nas cidades vizinhas, o preconceito é forte e tem razões históricas. A ocupação da região pelos não-índios foi sangrenta e são várias as histórias de massacres em aldeias, assim como de ataques dos índios às fazendas. Para algumas pessoas, é aberto o ódio aos índios. Para outras, é um sentimento velado.
Mas onde estão as fotos disso tudo, vocês devem estar perguntando. Não temos fotos. Os xavantes são muito desconfiados do não-índio. Muita gente já ganhou dinheiro vendendo fotos e material jornalístico às custas deles e qualquer trabalho do tipo tem de ser cuidadosamente combinado. Nossa estada nessas aldeias foi só uma visita informal – combinada graças ao Guilherme, que trabalha com ele há mais de 20 anos. Apesar disso, o que nos rendeu de mais valioso foram reflexões sobre como a vida aqui é mais dura que no Xingu.
Além disso, os índios do Pimentel Barbosa não tiveram contato direto com a Expedição Roncador-Xingu. Quem se relacionou mais com ela foram os xavantes da reserva de Areões, próxima a Nova Xavantina – MT. É pra lá que vamos amanhã e esperamos escrever um pouco sobre a história desse povo e a passagem da Marcha para o Oeste pela região.
Fábio
Poxa, achei que a leitura foi um pouco equivocada no que se refere a “atual” (reparei que o escrito é de 2001) situação da aldeia.
De fato, eles sofrem muito até hoje, mas aí dizer que parece a periferia de uma cidade grande qualquer é ignorar completamente qualquer resquício de cultura, a disposição das ocas, a orientação da implantação, tudo bem que para isso é necessário um certo tempo de convívio, mas acho que é uma frase que poderia ter sido descartada para o texto que está muito bem escrito e informativo.
Uma observação quanto a falta de fotografia não é apenas pela desconfiança, mas os Xavantes acreditam que cada foto tira um pouco da própria alma.
Olá MMA, você provavelmente tem razão em relação à nossa leitura equivocada da situação local. E, sim, este foi um texto publicado em 2001, numa rápida visita que fizemos ao local. Não tivemos tempo de fazer uma pesquisa mais profunda. Obrigado pela observação construtiva e se estiver interessado em nos mandar mais informação, estamos a disposição.