Barra do Garças sofreu inúmeras mudanças nas últimas décadas. Se há 40 anos a viagem até Nova Xavantina, distante 150 Km, podia durar um mês inteiro, devido a atoleiros, pinguelas desmoronadas e outras dificuldades encontradas pelo caminho, o mesmo percurso pode ser feito hoje em três horas. Essas e outras transformações, além de impulsionadas pelo movimento desenvolvimentista da Fundação Brasil Central, também podem ser explicadas pela intensa atividade pecuária que se desenvolveu na região.
A indústria pecuária, ou seja, a criação e as atividades de aproveitamento do gado, como frigoríficos e curtumes, respondem por cerca de 80% da receita do município. O secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, é categórico: "A base da nossa economia é a pecuária e a indústria dos segmentos do boi."
A pecuária e atividades afins são responsáveis por cerca de 80% da receita do município. O rebanho bovino é criado predominantemente da forma extensiva, mas já há projetos de confinamento sendo implantados no município. | Foto: Pedro Ivo Alcântara.
Barra do Garças dispõe hoje de um rebanho bovino avaliado em 350 mil cabeças. Além disso, a indústria pecuária instalada na cidade atua sobre toda região do vale do Araguaia, área que se estende do Alto Taquari (divisa Mato Grosso-Mato Grosso do Sul) a Vila Rica (sul do Pará) e abriga um rebanho com cerca de 4 milhões de cabeças de gado.
A criação do gado é feita em grandes fazendas, muitas com área superior a 1000 alqueires e equipadas com infra-estrutura como asfalto, aeroporto, heliporto e pivôs de irrigação. Essas propriedades, segundo o censo realizado em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam 196 dos 596 estabelecimentos agropecuários encontrados em Barra do Garças.
Indústria de segmentos
Além de grandes fazendas, o município abriga dois frigoríficos e um curtume. O maior dos frigoríficos, o Friboi, abate uma média de 1200 cabeças de gado por dia e emprega 750 trabalhadores. Da produção média mensal de 4.100 toneladas de carne por mês, 90% é transportada para São Paulo, e o restante é exportado para a Inglaterra e Holanda.
O segundo frigorífico, Bertin, com capacidade média de abate de 500 cabeças por dia, está desativado. Mas Cláudio Picchi afirma que essa condição é temporária e logo deve voltar a funcionar.
Já o Curtume Santo Antônio (Curtusa) produz o couro curtido e semi-acabado, matéria prima vendida para o mercado interno, Europa e Estados Unidos.
Criação extensiva e intensiva
Em Barra do Garças, a maior parte do rebanho bovino é criada solta no pasto, de maneira extensiva. A geografia da região, caracterizada por um grande planalto sem acidentes geográficos que atrapalhem, repleto de rios e córregos que formam a bacia do Araguaia, permite tal criação. Ainda, os recursos empregados são baixos, assim como a geração de empregos. Para cuidar de mil bois, somente um peão é necessário.
A exceção é a fazenda Marca Agropecuária, onde cerca de 45 mil cabeças são mantidas dentro de cochos, confinadas e alimentadas de maneira a engordar o boi e alcançar seu ponto de abate em um menor espaço de tempo. A tecnologia empregada permite aos criadores transformar, em um prazo de 100 dias, um animal de 380 kg a 400 kg e um de 480 kg a 500 kg.
Nem só de bois vive o vale do Araguaia
Preocupada em diversificar sua economia, baseada quase exclusivamente na pecuária e na indústria de segmentos do boi, Barra do Garças se prepara para explorar um novo tipo de criação: de aves. Há quatro anos vem sendo costurada uma parceria entre a prefeitura de Barra do Garças, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e a empresa Avico para a abertura de um complexo para o desenvolvimento intensivo da avicultura.
O projeto é avaliado em R$ 47 milhões, e prevê a construção de uma unidade de abatimento com capacidade de 120 mil aves/dia, uma fábrica de ração e uma unidade de criação com capacidade de produzir 20 mil aves/dia. A produção, avaliada em 150 toneladas por dia, seria voltada para o mercado interno.
Segundo o secretário municipal de Turismo, Comércio, Indústria e Meio Ambiente, Cláudio Picchi, 70% do complexo já foi implantado e sua finalização depende quase que exclusivamente da aquisição de maquinário e equipamentos. Entretanto, a equipe do Rota Brasil Oeste visitou uma das unidades da Avico e constatou que, embora em estágio avançado, as obras de construção ainda não terminaram. Fotos da construção foram vetadas por um inspetor da obra.
A recente extinção da Sudam preocupa o secretário, pois pode paralisar as obras no ponto em que estão e deixar para Barra do Garças grandes esqueletos como herança. “A exploração da avicultura no município irá gerar 500 empregos diretos e um número sem conta de indiretos. Dentro da Sudam existem falcatruas, mas também existem projetos sérios, e que com certeza, serão prejudicados".