Espalhados pela região da Serra do Roncador e do Vale do Araguaia, os Xavantes já dominaram grande parte da região Centro-Oeste brasileira. Originários de Goiás, migraram para o Mato Grosso no século XIX fugindo dos aldeamentos de colonização no interior do estado.
A migração durou alguns anos e, após atravessarem o Rio Araguaia, entraram em conflitos com os índios Karajá que ocupavam a região da Ilha do Bananal. Posteriormente, brigas internas causaram a divisão da etnia em várias aldeias, que se espalharam e povoaram o vale do Rio das Mortes, iniciando os primeiros contatos com o não-índio.
Tentativas de Catequização
Na região do rio Garças, no início do século XX, alguns grupos Xavante encontraram as missões salesianas de Merúri, no Mato Grosso, que catequizavam os Bororos. Esta aproximação motivou a fundação da missão de São Marcos, às margens do Rio das Mortes, com o intuito de atrair os xavantes. Durante anos os padres buscaram inutilmente contatar os índios, que resistiram se escondendo e atacando quem adentrasse seu território. Em 1932, por exemplo, dois padres foram mortos quando abordaram um grupo de índios.
As missões salesianas, interessadas na conversão e na terra dos índios, se tornaram parceiras do governo Getúlio Vargas na empreitada. Em trecho de carta enviada ao presidente Getúlio Vargas no ano de 1938, o Padre Hipólito Chovelon, diretor da missão salesiana, deixa claro as intenções da Igreja: “O Rio das Mortes percorre uma zona riquíssima de campinas e matas, próprias para lavoura e criação de gado. O povoamento depende tão só da pacificação dos índios xavante que até agora fazem o terror dos moradores das vizinhanças pelas suas correrias e ataques traiçoeiros. Daí percorre a necessidade urgente de amparar a missão salesiana (…), abrindo assim essa imensa zona entre os rios Xingu e Araguaia aos progressos da nossa civilização”.
O indigenista Guilherme Carrano, com mais de 20 anos de trabalho entre os Xavantes, acredita que a ideologia catequizadora e progressista da Igreja contribuiu para a destruição da cultura da etnia. “Os salesianos colocavam os índios em regime de internato, separando pais e filhos, obrigando-os a usarem roupas e tentando proibir festas e a língua indígena”, afirma Carrano.
Aproximação
Com a ação da Fundação Brasil Central e a ocupação da região, tornou-se necessário o contato com os índios. Em 1941, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) fez uma tentativa pioneira de aproximação. Porém, esta primeira iniciativa fracassou. A equipe comandada pelo sertanista Pimentel Barbosa foi massacrada. Apenas no final da década de 1940, o SPI conseguiu estabelecer relações regulares com os Xavante.
Sereburã, um dos líderes da reserva de Pimentel Barbosa, é um remanescente dos tempos quando os Xavantes da região de Água Boa ainda não tinham contato com o “branco”.- Foto: Fábio Pili
Nesta época, passou pela região a Expedição Roncador-Xingu. O sertanista Orlando Villas Bôas conta que os trabalhadores foram cercados pelos xavantes perto do Rio das Mortes. “Ouvimos uma gritaria vindo do lado direito da picada e o Cláudio (Villas Bôas) reuniu todos num lugar só. Por uma sorte danada, tinha um cupim enorme e o Cláudio resolveu subir nele. Exatamente na hora que ele subiu, avistou um grupo de uns 40 ou 50 índios xavantes avançando camuflados com folha de palmeira”, conta o sertanista. Este ataque foi impedido com tiros para o alto. Os expedicionários continuaram sendo seguidos e vigiados enquanto cruzaram a região de cerrado habitada pelos Xavante.
Demarcação
Após anos de dominação, teve início a luta pela demarcação das reservas. Na década de 1970, os principais caciques xavantes se uniram à Funai e a indigenistas para retomar o território ocupado pelas fazendas que se instalaram na região. Foi um processo tenso, repleto de incidentes entre índios e fazendeiros.
Hoje os Xavantes reconquistaram parte de seu território. As aldeias, somando cerca de 10.000 habitantes, estão localizadas dentro de reservas demarcada, como a de Pimental Barbosa, com 328mil hectares de extensão.