Pela primeira vez deixamos de atualizar nossa página, mas fomos pegos por uma grata surpresa. Hoje fomos pela manhã à Atix (Associação Terra Indígena Xingu), em Canarana, e descobrimos que nossa lancha para descer o rio Kuluene já estava nos esperando no ponto combinado. Nos dividimos, Pedro e Fábio providenciaram 450 litros de gasolina e 27 frascos de óleo para abastecer o barco. Bruno, Guilherme e Fernando seguiram para o supermercado, onde compramos suprimentos para a viagem.
Ainda tivemos de organizar nossa bagagem, fechar o hotel, arranjar um frete e alguma coisa para fingir que almoçamos. Em três horas conseguimos botar tudo numa caminhonete e seguir para as margens do Kuluene. Bruno, Fernando e Pedro atravessaram os mais de 100km de estrada de terra na carroceria, o Fábio estava meio gripado e achamos melhor que ele fosse na cabine. Para nossa sorte, a chuva, que não havia aparecido nenhuma vez desde Brasília, resolveu cair.
Atravessamos diversas fazendas de gado e algumas matas ainda preservadas. Chegamos ao rio às 18h, descemos os tambores de combustível e nossa bagagem com a ajuda do motorista, Seu Reizinho, fretista e vereador de Canarana. Nos esperando estava Ualá, piloto e filho do cacique Aritana, da tribo Yawalapiti.
Equipamentos sendo carregados no barco para a viagem até a aldeia Yawalapiti. Foto: Fábio Pili
Saímos uma meia hora mais tarde, pegando o fim do dia no início da viagem, prevista para seis horas. Logo escureceu e continuamos navegando graças à habilidade de Ualá, acostumado a viajar de noite. Com muito vento e umidade, o frio começou a piorar cada vez mais. Nos encolhendo como podíamos, tentávamos improvisar algum apoio para a coluna e nos defender dos mosquitos, que não picavam, mas esborrachavam na cara.
Apesar de não termos lua, acompanhamos o caminho sob um céu incrivelmente estrelado. De vez em quando, o Guilherme iluminava os olhos dos jacarés nas praias, o que nos fazia encolher um pouco mais. Tremendo e morrendo de cansaço aportamos na aldeia Iaualapiti. Com fome, empoeirados, molhados e com frio subimos uma trilha passando pelas primeiras ocas, uma delas, ainda em construção, nos lembrava algo de outro mundo. Acordamos Aritana por volta da meia-noite, ele nos recebeu como todo grande chefe xinguano, usando apenas um cordão em torno da cintura.
Desembarcamos todos os apetrechos para dentro da oca da família de Aritana. Dentro da casa estava agradavelmente quente, volta e meia alguém atiçava o fogo de baixo das redes. Tentando não atrapalhar, o Bruno e o Guilherme amarraram as redes e o resto esticou os sacos de dormir.