Agência Brasil – ABr – Um consórcio internacional de cientistas anunciou ter decifrado o genoma do parasita que causa a malária, o Plasmodium falciparum, e o do mosquito responsável pela transmissão da doença, o Anopheles Gambiae. Os genomas foram publicados, respectivamente, na “Nature” e na “Science”, as duas maiores revistas de divulgação científica do mundo.
A descoberta foi possível pela colaboração entre o Programa de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR), da Organização Mundial de Saúde (OMS), a Fundação MacArthur e o Instituto Pasteur, um esforço que envolveu mais de 160 pesquisadores em dez países.
“É um momento extraordinário na história da ciência. Pela primeira vez temos informações do homem, vítima da doença, do parasita e do inseto”, afirmou o responsável pelo TDR, o brasileiro Carlos Morel, ex-diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A malária (“mau ar” em italiano) predomina em regiões úmidas e próximas ao mar, afeta entre 300 e 500 milhões de pessoas e provoca entre 1,5 e 2,7 milhões de mortes ao ano. Nove em cada dez dessas mortes ocorre na África, a um ritmo de uma morte a cada 10-12 segundos.
Há apenas três anos, os bancos de dados continham menos de dez genes completos deste mosquito. Hoje, os cientistas dispõem de uma base de dados com perto de 14 mil genes. Os pesquisadores dispõem agora de informações sobre a transmissão do parasita, a resistência do mosquito aos inseticidas e de suas capacidades olfativas (o que permitirá compreender porque o inseto é mais atraído por certas pessoas).
A notícia do seqüenciamento dos genomas é especialmente importante num momento em que os medicamentos antiparasitários perdem eficácia. Na última década, as campanhas de saúde pública contra a malária mostraram-se ineficazes pelo aparecimento de resistência aos medicamentos. Além disso, a utilização de inseticidas está limitada por questões relacionadas com o meio ambiente, recorda a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Apesar desses avanços no entendimento da doença, Morel assinala que, à semelhança do que tem acontecido no caso do genoma humano, será necessário tempo para que se comecem a utilizar os resultados provenientes desta pesquisa genética. “Mas temos agora informação suficiente para trabalhar 24 horas diárias com o objetivo de encontrar soluções que possam salvar milhões de vidas”, afirmou.
Hebert França com informações da Agência Lusa