Agência Brasil – ABr – Combinando baixo custo e preocupação ambiental, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Fau), da Universidade de Brasília (UnB), Rosana Stockler, desenvolveu placas de absorção sonora feitas de fibras vegetais e papel reciclado. Elas diminuem a reverberação do som, o que as torna ideal para a instalação em ambientes onde o prolongamento do som não é interessante como estúdios e salas de aula.
Rosana explica que ambientes montados com materiais lisos e rígidos – chapas metálicas, vidros, fórmicas, madeiras envernizadas – refletem o som, promovendo a reverberação. O que não ocorre em espaços cujo acabamento privilegia materiais porosos, macios e flexíveis como os carpetes, cortinas e nos casos em que o isolamento acústico é necessário, a espuma e a própria placa criada pela pesquisadora.
Os experimentos conduzidos pela equipe da Fau, com a participação de alunos do Instituto de Artes e do curso de engenharia mecatrônica, foram realizados com fibras de tronco de bananeira e papel reciclado, mas, segundo Rosana, outras fibras como o capim da soja também apresentam resultados parecidos. “As fibras são necessárias porque inibem a decantação (separação) do papel. Optamos pela bananeira porque era o material mais acessível e otimizava a continuidade da pesquisa”, explica a professora.
Além da fibra de bananeira cozida em água e soda cáustica e da polpa de papel, em partes iguais, a mistura é alimentada com um componente aerante responsável pela formação das bolhas de ar e que tornam a placa porosa. O custo de fabricação dessas peças corresponde a no máximo 10% do valor do metro quadrado das placas convencionais existentes no mercado.
A idéia das placas surgiu após um trabalho feito pela Fau, nas escolas e hospitais públicos do Distrito Federal para avaliar o conforto sonoro e o controle de ruído nesses ambientes. Visando contornar a alta reverberação detectada nesses ambientes o grupo criou essa alternativa aplicável só às escolas porque, por questões de assepsia, não é recomendável o uso de materiais porosos em hospitais. Uma das idéias de Rosana é que as placas sejam empregadas como material pedagógico em salas de aula. “Os alunos poderiam desenvolver trabalhos com formas e cores e até o acabamento das placas poderia ser realizado por eles”, acrescenta.
Na maioria dos casos, construídas quando da fundação da cidade, no início da década de 60, as escolas de Brasília não têm preocupação acústica. Como resultado, mesmo após o professor ter acabado sua explanação, sua voz continua reverberando pelo ambiente e comprometendo o entendimento. Com dúvida o aluno pede que o professor repita e, na tentativa de tornar-se mais claro, o professor fala mais alto o que com o passar do tempo compromete sua voz. Rosana ressalta que o padrão arquitetônico de Brasília, que utiliza predominantemente materiais lisos e rígidos – concreto, vidros de alta espessura e esquadrias metálicas – privilegia a reverberação.
Testadas e aprovadas pelo Laboratório Acústico do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), do Rio de Janeiro, as placas obtiveram índice de absorção superior aos das fibras de aglomerado e semelhante ao da espuma, material tradicionalmente empregado para fins de isolamento acústico. ‘‘Para freqüências médias ou altas, o índice de absorção do som foi de 60% a 90%.’’, informa Rosana.
O processo de patenteamento das placas está em andamento e a pesquisadora aguarda interessados em investir na industrialização e comercialização do produto. “Nesses três anos de pesquisa trabalhamos, sempre, com poucos recursos e tirando dinheiro do próprio bolso, sem investimentos não há como industrializar o processo”, confessa Rosana. Devido ao baixo custo de investimento e a facilidade de produção, a pesquisadora acredita que essa poderia ser uma alternativa de ocupação e renda para entidades associativas que atendem menores carentes, meninos de rua, ou clínicas de recuperação. A prefeitura de São Carlos, em São Paulo, tem uma chácara onde desenvolve atividades profissionalizantes com meninos de rua e deve em breve começar a produzir placas com a tecnologia desenvolvida na UnB.
Hebert França