Campanha Água sem Barragens nas Bacias Amazônicas

ISA – Associações da Amazônia divulgam carta pedindo o apoio da sociedade civil para a campanha Água sem Barragens nas Bacias Amazônicas. As mensagens de protesto devem ser enviadas ao governo.

Participantes da campanha Água sem Barragens nas Bacias Amazônicas enviaram ao presidente Lula e às autoridades do novo governo (veja relação abaixo) carta expressando os temores de várias associações da Amazônia quanto aos empreendimentos previstos para a região pelo Avança Brasil na área de energia articulados a projetos de exploração mineral e plantio de grãos.

A carta foi escrita pelos integrantes do I Encontro Interestadual contra as Barragens do Araguaia-Tocantins, realizado em dezembro de 2002, e que foi referendada durante o II Fórum Social Pan-Amazônico, em Belém (PA), entre 16 e 19/01.

“Os itens apontados no texto reforçam as preocupações com questões que são fundamentais na busca pela sustentabilidade e devem ser de uma vez por todas incorporadas a todas as análises de grandes projetos no Brasil”, analisa Adriana Ramos, uma das coordenadoras do Instituto Socioambiental (ISA).

Manifeste seu apoio à campanha enviando mensagem às autoridades em concordância com o texto da carta com cópia para faor@amazon.com.br e forumcarajas@elo.com.br.

Para quem mandar mensagens de apoio

Exmo. Sr. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva
protocolo@planalto.gov.br

Exma. Sra. Ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff
ramos@mme.gov.br

Exma. Sra. Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva marina.silva@mma.gov.br

Exmo. Sr. Presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa
pr@eletrobras.gov.br

Exmo. Sr. Secretário Nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda
direitoshumanos@mj.gov.br

Carta da Campanha Águas sem Barragens nas Bacias Amazônicas

Belém, 18 de janeiro de 2003

Nós trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos, povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos do Pará, Maranhão e Tocantins participantes da Campanha Águas sem Barragens nas Bacias Amazônicas, em recente encontro na cidade de Imperatriz (MA), que reuniu sessenta e seis entidades, num total de 160 pessoas, analisamos os últimos empreendimentos previstos no Programa Avança Brasil do governo federal na área de geração de energia, articulados a projetos de exploração mineral e de plantio de grãos, na bacia do Araguaia-Tocantins e Xingu.

Conforme dados do mapa de potencial hidrelétrico da Eletrobrás (1999) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um total de 55 obras estão previstas para nossas bacias, sendo 40 barragens planejadas para o rio Tocantins e seus afluentes (31 grandes barragens e nove pequenas barragens), 10 para o Rio Araguaia e Rio das Mortes e cinco para o Rio Xingu.

Já estão em processo de operação quatro destas (Tucuru, Serra da Mesa, Lageado e Cana Brava), uma em construção (Peixe-Angical), quatro em processo de licenciamento (Santa Isabel, Couto Magalhães, São Salvador e Estreito) e, para 2003, 10 barragens estão previstas para abertura de concessão (Belo Monte, Marab, Serra Quebrada, Araguan, Ipueiras, Tupiratins, Maranho, Torixoru, Novo Acordo e Mirador).

Além das barragens, está planejado ou em execução para esta região a construção da hidrovia do Araguaia-Tocantins e a implantação de mais de 10 grandes projetos de plantio de grãos, que trarão impactos cumulativos para a população humana e o meio ambiente.

A exemplo da UHE de Tucuruí (PA) e Lageado (TO), os impactos negativos advindos com a implementação destas grandes obras nas regiões amazônica são:

– Desaparecimento de algumas espécies de peixes (surubins, dourada, jaú etc), base da alimentação da população local, devido a grande quantidade de biomassa na água e o surgimento de plantas aquáticas, que obstruem os leitos dos igarapés; fechamento dos rios com conseqüente inviabilização do ciclo reprodutivo dos peixes;

– Remanejamento das pessoas atingidas, sem a garantia de infra-estrutura mínima necessária para a sobrevivência digna;
Perda das terras de vida e de trabalho, da identidade cultural das populações tradicionais (povos indígenas, ribeirinhos, quebradeiras de coco etc.);

– Perda da biodiversidade, da capacidade produtiva dos lotes das áreas de vazante e proliferação de mosquitos nas áreas atingidas e entorno;

– Inchaço das periferias das cidades e aumento da violência e desemprego na área urbana.

– Impacto climático, especialmente sobre o regime das chuvas e a temperatura;

Mesmo com todos os problemas já vividos persistem os mesmos erros. Os EIA/RIMA que foram ou estão sendo produzidos sobre essas obras na região não contemplam a participação local, apresentam discrepâncias técnicas e realizam estudos fragmentados que desconsideram os impactos cumulativos em toda bacia. É necessário e urgente pensar em outras alternativas de geração de energia, recorrendo a fontes limpas, como a eólica, biomassa e solar, além da redução das perdas do atual sistema e a repotencialização das barragens em operação.

Diante deste quadro, as entidades presentes ao encontro reafirmam o compromisso com a preservação dos rios, ecossistemas e respeito às populações locais das Bacias do Araguaia–Tocantins e Xingu, e propõem: (i) abertura de discussão com a equipe de governo no sentido de propor uma moratória nas obras em curso na região para que, a partir de uma avaliação dos impactos cumulativos e das alternativas existentes, seja revista a política energética do país, a fim de que não haja mais prejuízos às populações e ao meio ambiente local; (ii) criação de uma CPI no Congresso Nacional para investigar os impactos e violações dos direitos humanos e ambientais provocados pela construção e pelo funcionamento de hidrelétricas na bacia Amazônica, tomando as devidas providências; (iii) fomentar políticas no campo da ciência e tecnologia para pesquisa sobre fontes limpas e alternativas de geração de energia.

Participantes do I Encontro Inter-Estadual sobre Barragens do Araguaia-Tocantins e Xingu, 09 a 11 de dezembro de 2.002, na cidade de Imperatriz (MA).

AAE
ABIPA
APA-TO
Associação das Organizações Não-Governamentais (Abong)-Norte
Associação de Pescadores da Ilha de Serra Quebrada
ASMUBIP
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
CENTRU
CEPASP
CPT
Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas (Contag)
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) -Altamira e Tocantins
CÁRITAS-Imperatriz (MA)
Diocese de Tocantinópolis
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)
FETAET
FETAGRI
Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)-Regional Altamira
International Rivers Network (IRN)
MEB
Movimento das Comunidades Indígenas de Altamira e Povos
Juruna da Volta Grande do Xingu
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento pela Preservação dos Rios Tocantins e Araguaia (MPTA)
Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX)
Povo Apinajé
Povo Gavião
Prefeitura de Imperatriz (MA)
STRs do Araguia-Tocantins

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