Estação Vida – Leandro Ferreira* – Áreas legamente protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas estão sendo uma ferramenta eficaz para conter o desmatamento. Esta é a principal conclusão de um estudo recentemente concluído e mandado para publicação: Áreas protegidas dos parques de papel: A importância de áreas protegidas para a redução do desmatamento na Amazônia brasileira, dos pesquisadores Leandro V. Ferreira, do Museu Paraense Emílio Goeldi [MPEG] e Eduardo M. Venticinque, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia [INPA].
O objetivo deste estudo é testar diferenças no nível de desmatamento dentro e fora de unidades de conservação [proteção integral e uso sustentável] e terras indígenas [denominadas aqui como áreas protegidas] em relação à distância das estradas existentes, nos estados de Rondônia, Pará e Mato Grosso para ilustrar a importância dessas áreas protegidas como redutores do efeito do desmatamento na Amazônia.
Estes estados foram escolhidos como estudos de caso, devido a sua importância na participação do desmatamento da Amazônia, que somados foram responsáveis por cerca de 68% do total da área desmatada na Amazônia entre 1999-2000 [INPE 2001].
Os Estados de Rondônia, Pará e Mato Grosso têm cerca de 18%, 29% e 24% de sua área já desmatada, respectivamente. Contudo é crucial determinar como está distribuído este desmatamento dentro e fora das áreas protegidas.
O estudo demonstra que a proporção total da área desmatada fora das áreas protegidas sempre foram significativamentes mais elevadas do que no interior destas. Uma diferença que pode variar de 4,6 a 13,6 vezes dependendo do estado analisado.
Um dos fatores mais relevantes nos estudos sobre desmatamento na Amazônia é a existência ou não de vias de acesso [como estradas] às áreas protegidas, já que estas são reconhecidamente por dois principais responsáveis pelo desmatamento da Amazônia.
O estudo também demonstra que a proporção do desmatamento como uma função da distância que separa as áreas protegidas das estradas apresentaram padrões exponenciais, ou seja, uma grande proporção de desmatamento próximo as estradas e caindo rapidamente com a distãncia. Contudo, o desmatamento dentro das áreas protegidas é sempre menor do que fora delas nos 3 estados analisados. Isso derruba a crença de que as áreas protegidas sofreriam menos desmatamento somente pelo fato de estarem situados mais distantes das estradas.
Estes resultados são extremamente importantes, em termos de políticas públicas para a Amazônia, onde sob o auspicio do Programa Avança Brasil, o governo pretendia investir cerca de 40 bilhões de dólares na construção e recuperação de cerca de 7500 km de estradas, aumentando drasticamente a acessibilidade a muitas áreas remotas. Desta forma, o atual sistema de áreas protegidas, associado a uma política de expansão deste sistema, nos estados de Rondônia, Pará e Mato Grosso e ainda em outros estados da Amazônia são certamente uma das ferramentas mais eficazes na redução do efeito do desmatamento em função das estradas.
* Leandro Ferreira é pesquisador do Museu Parense Emílio Goeldi