Funai – A derrubada das matas que resistiram ao avanço agropecuário no Mato Grosso ameaça a sobrevivência dos povos indígenas da Terra Indígena Parque do Xingu, bem como o Cerrado, um dos biomas mais ricos e a floresta de transição para a Amazônia, característica da região. A situação preocupa os índios que temem não só a destruição das matas, mas também a contaminação do solo e, conseqüentemente, da água dos rios, lagos e lagoas que banham as aldeias. O fato das nascentes estarem situadas fora da terra indígena e sem controle de qualquer política de proteção agrava a situação. Em recente sobrevôo no Parque do Xingu, técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA) mostraram-se extremamente preocupados com o processo de devastação das matas e comprometimento das nascentes e rios do Parque do Xingu e documentaram tudo que puderam observar.
O chefe do Posto Indígena Batovi, situado ao sul da Terra Indígena Parque do Xingu, Kanaiú Waurá e o vereador por Gaúcha do Norte (MT), Amanuá Seus, da aldeia Kamaiurá estão em Brasília há uma semana para buscar apoio do governo federal e de políticos para conter o processo de destruição do local. Para o vereador Amanuá, o perigo é imenso e “se não cuidar agora, o Xingu não vai resistir ao avanço de fazendeiros e madeireiros”, avisou. O chefe de Posto Kanaiú, relatou, que em recente fiscalização aos limites do Parque, uma grupo de indígenas constatou a invasão de madeireiros na Terra Indígena Batovi. “Madeireiros ou fazendeiros abriram uma estrada de 6 metros de largura com trator de esteira e entraram dois quilômetros para dentro da terra indígena. Encontramos também sinais de extração de madeira a menos de 200 metros da Terra indígena”, contou Kanaiú, explicando que os madeireiros extraem a itaúba, de valor comercial e chamam de mossagueira para dizer que não tem valor comercial.
O chefe do Posto disse estar indignado porque além da região ter imensa importância do ponto de vista cultural, pois ali está situada a caverna Kamukuaká, local sagrado para os povos do Alto Xingu, é a sobrevivência dos índios que está ameaçada. “Quando acontece a festa do Kuarup, as aldeias lotam. Este ano, mais de 20 aviões pousaram na aldeia Yawalapiti para o Kuarup que homenageou o Orlando Villas Boas. Quando necessitamos de recursos para a fiscalização, a Funai não dispõe ou então ficamos esperando dois meses e, ao iniciarmos a operação, já encontramos tudo devastado. Só uma fiscalização constante poderia garantir o monitoramento da situação”, afirma Kanaiú.