Rota Brasil Oeste – No Quadrilátero Ferrífero, um dos principais distritos minerais do Brasil, encontra-se parte das bacias hidrográficas do rio Doce e do rio das Velhas, duas das mais importantes de Minas Gerais. A região foi responsável por toda a riqueza e prosperidade vividas, durante séculos, pelo estado. Estes méritos, no entanto, vieram acompanhados por uma triste herança deixada pela própria existência dos depósitos minerais e também pela atividade mineradora: a contaminação das águas, solos e plantas por metais pesados.
Recentemente pesquisadores do Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA) da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), detectaram problemas ligados aos 300 anos de exploração aurífera na região das cidades históricas de Minas. O pricipal deles é a possível contaminação das águas dos municípios da região por arsênio. A questão é levantada por estudiosos, mas ainda não foi confirmada cientificamente.
A presença do arsênio foi detectada em 1999 pelos pesquisadores do LGqA em amostras de água coletadas em alguns pontos da região, como na Mina da Passagem, local onde já foram extraídas, oficialmente, 35 toneladas de ouro, durante 284 anos de exploração, e que, hoje, é aberto à visitação turística.
O professor Hermínio Arias Nalini Júnior, coordenador do LGqA, acredita que possa existir, sim, um risco alto de parte das águas de Ouro Preto e Mariana estar contaminada, mas enfatiza que ainda não foram levantados dados suficientes para se tirar qualquer conclusão. “Será necessário, no mínimo, um ano de estudos para que possamos dizer qual a real situação dos recursos hídricos dos municípios no que se refere à possível contaminação por metais”, afirma ele. “Ainda assim, a cada ano, deveremos coletar amostras para controle, já que podem ocorrer mudanças físico-químicas no meio”, acrescenta.
O arsênio, elemento químico comumente presente nos sulfetos (arsenopirita), é encontrado nos depósitos de ouro da região de Ouro Preto. Com a exploração secular do ouro da região, grande quantidade de arsenopirita foi colocada em contato com o ar e, conseqüentemente, sofreu o processo de oxidação, liberando o elemento. A contaminação pode atingir lençóis freáticos, cursos d’água superficiais e, em determinados casos, se acumular nas plantas e animais. Os efeitos do contato prolongado com o organismo humano vão desde problemas estomacais até o desenvolvimento de câncer de pele.
Segundo o pesquisador, um fator preocupante é que muitas pessoas encontram água no fundo do quintal, às vezes em galerias antigas de minas de ouro, utilizando-a para o abastecimento doméstico. “Precisamos conscientizar a população a respeito dos problemas que podem ser trazidos pela ingestão do arsênio e de outros metais pesados”, alerta.
Ao longo de 2003, serão coletadas amostras de águas em alguns chafarizes e bicas e em todas as captações de água da prefeitura de Ouro Preto. A análise do material permitirá conhecer a concentração de metais nas águas da cidade e, posteriormente, a elaboração de um modelo de gestão e remediação apropriado, caso as suspeitas sejam confirmadas. Os tratamentos de água para retirada de arsênio podem envolver, por exemplo, a utilização de materiais ricos em hidróxidos de ferro, devido a sua alta capacidade de absorção de metais.
As pesquisas deve ser agilizadas graças a aprovação de novos projetos de pesquisa na área. A Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), por exemplo, financiou a aquisição de um equipamento, de quase US$ 100 mil, que analisa elementos químicos em soluções. O objetivo é poder realizar com rapidez os disgnóticos sobre possíveis elementos prejuficiais à saúde no meio-ambiente. Com apoio das análises e pesquisadores do LGqA, a prefeitura de Ouro Preto promete elaborar um modelo geoambiental apropriado para o município.
O Ciclo do Ouro
Por volta de 1695, a bandeira comandada por Manoel Garcia de Almeida Cunha, “o Velho”, ao buscar água no Córrego Tripuí, deparou com um material desconhecido que chamou de “granitos cor de aço” e que mais tarde constatou ser “ouro de fino quilate” revestido por camada de paládio. Tal fato marcou o início de uma verdadeira corrida às minas gerais e da ocupação e exploração aurífera em toda a região, que em 1711 seria elevada à categoria de Vila Rica de Albuquerque e, posteriormente, em 1823, Ouro Preto, nome dado devido ao tipo do ouro descoberto.
O Ciclo do Ouro brasileiro marcou definitivamente a história do país e do mundo, ao dominar a produção global de ouro durante todo o século XVIII. Das 1.421 toneladas produzidas nesse período, a capitania das Minas Gerais contribuiu com nada menos que 700 toneladas, ou seja, 50% da produção mundial.
A situação durou até por volta de 1800, quando o ouro passou a ocupar um plano secundário na economia nacional, sem deixar, no entanto, de ser explorado com fervor ao longo do século seguinte. No auge do Ciclo do Ouro, as cidades de Mariana e Ouro Preto foram construídas pelas mãos de artistas e escravos, com a suntuosidade digna das mais abastadas colônias da época. As ostensivas igrejas, com seus altares dourados e anjos barrocos, ao lado das ladeiras de pedras e do casario colonial, formam o maior conjunto homogêneo da arquitetura barroca do país. Motivo pelo qual, em 1980, Ouro Preto foi declarada pela Unesco “Patrimônio Cultural da Humanidade”.
Com informações da Agência Brasil