"Nós não temos medo de morrer"

Rota Brasil Oeste – Na tarde de hoje, 40 lideranças da etnia Xavante estiveram com o Ministro da Justiça para pedir apoio na disputa com posseiros pela terra indígena Marãiwatsede – localizada na antiga fazenda Suiá-Missú, próxima ao município Alto Boa Vista, Mato Grosso. A área é, com cerca de 170 mil hectares, está homologada desde 1998 e foi ocupada ilegalmente por colonos há pouco mais de oito anos.

No encontro, os Xavante cobraram uma decisão rápida das autoridades para o caso. De burduna em riste, o cacique Simão afirma que existem quarenta índios acampados nas fronteiras da propriedade com os colonos, esperando uma decisão. “Nós estamos cansados, não têm mais paciência. Nós não temos medo de morrer, tem coragem de lutar”, disse golpeando a arma no peito. “O índio é a raiz do Brasil, tem que nos respeitar!” completou.

No mesmo tom, o chefe Damião reafirmou a posição dos índios. “Não vamos matar, não somos invasor, não somos ladrão, mas ninguém tem medo de morrer”, afirmou. O cacique também se mostrou preocupado porque a Polícia Federal retirou-se da região. Ambos pediram mais recursos para a Funai e auxílio para as comunidades indígenas.

Ao lado do presidente da funai, Mércio Gomes, intermediador do encontro, o ministro garantiu às lideranças que os índios têm o apoio do governo e pediu confiança na Funai para resolver a questão. “A terra está homologada, é de vocês”, afirmou. Segundo Márcio Thomaz, a idéia agora é procurar uma solução harmônica, que envolva outras instituições como Ministério do Desenvolvimento Agrário, Polícia Federal e Incra. O ministro também deixou claro que a Polícia Federal estará pronta para agir caso necessário.

Nos últimos anos, índios e posseiros lutam pelo reconhecimento de propriedade. Mês passado, o conflito teve uma escalada de tensão, com ameaças de ambas as partes.

Histórico

O povo Xavante luta há quase 40 anos pela posse de Marãiwatsede. A região é importante cultural e historicamente para a etnia. Ali estão localizados, por exemplo, locais sagrados como cemitérios.

A ocupação da área por não-índios iniciou-se na década de 60 e foi feita com ajuda dos próprios Xavantes. Em 1966, porém, uma multinacional italiana adquiriu as terras de Suiá-Missú e deslocou a comunidade indígena da região. O grupo foi entregue para a tutela da igreja, na Missão Salesiana de São Marcos, e mais tarde se dispersou. A propriedade chegou a ser conhecida como uma das maiores fazendas do mundo, alcançando 560 mil hectares e recebeu milhares em incentivos públicos durante os governos militares.

Em 1995, o caso foi levada à Justiça e agora, índios e posseiros esperam uma decisão nos tribunais sobre os direitos de ocupação da área. Recentemente, a disputa ameaçou tornar-se violenta. O administrador da Funai em Goiânia, Edson Beiriz – que também acompanha a delegação na visita ao ministério – denunciou que está sendo ameaçado de morte por defender o direito dos índios.

Na visita a Brasília, os Xavante também procuraram apoio na Procuradoria Geral da República, na Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos Indígenas e na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

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