A medalha de ouro que o sertanista brasileiro Sidney Possuelo receberá na próxima segunda-feira, na Inglaterra, poderá servir para ajudar a melhorar “indiretamente”, o que ele chamou de “debate calmo e tranqüilo" da causa indígena, "que o povo brasileiro em geral não consegue enxergar, olhando as condições históricas e sem muita pressão ou emoção, principalmente neste momento difícil, às vezes até de violência.”
Sidney Possuelo no momento trabalha apenas com índios ainda isolados na Amazônia, em cinco pontos diferentes, para evitar, segundo disse, que “seja feito um contato indiscriminado com eles”. Também está envolvido na “preservação de grandes áreas de floresta, tão importantes para os indígenas e também para o futuro da nação brasileira”.
O sertanista começou a trabalhar com os irmãos Cláudio e Orlando Villas Boas, que já receberam a mesma medalha da Sociedade Real Geográfica, há 37 anos. E classifica o atual momento de "difícil" em relação a alguns conflitos, como o dos índios Cintas-Largas, de Rondônia. “Os índios, à medida que o tempo passa, vão ficando parecidos com aqueles que fizeram contato com eles e tendo problemas, às vezes, até de violência”, disse Possuelo, para quem os índios integrados – ao contrário dos isolados, que ainda vivem da caça e pesca e andam nus – "têm que arrumar maneiras de sobreviver na sociedade brasileira, que não é feita por eles ou para eles e na qual são inseridos forçosamente e, geralmente, sem grandes opções.”
Sobre o conceito de segurança nacional para as áreas de fronteira em que existam povos indígenas, invocado recentemente na discussão para a homologação da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, o sertanista lembrou que quando é demarcada uma terra indígena em área de fronteira “a propriedade é da União e não do índio”. Explicou que com isso evita-se inclusive que a área seja ocupada por “narcotraficantes e contrabandistas”. E defendeu o atendimento aos índios em saúde e educação: "Quanto mais forem auxiliados, mais se sentirão brasileiros".
Medalha
Desde 1830, quando foi criada, a Sociedade Real Geográfica, da Inglaterra, já concedeu a medalha de ouro que será entregue a Sidney Possuelo no dia 7, a figuras famosas de todo o mundo. Em 1855, por exemplo, foi a vez do missionário David Livingstone que combateu o tráfico de escravos e foi o descobridor das cataratas Vitória, na África, onde pediu para ter seu coração enterado.
Em 1892, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace, que viveu quatro anos nas selvas do Pará e Amazonas, recebeu a medalha, entregue depois, em 1898, a Robert Peary, primeiro a chegar ao Pólo Norte; e em 1907, a Roald Amundsen, o primeiro a ver o Pólo Sul. Dois outros premiados têm relação com a Amazônia brasileira: em 1916, Percy Harrison Fawcett, que desapareceu na Serra do Roncador; e na década de 80, Jacques Cousteau, que navegou com o barco Calypso pelo Rio Amazonas.
O sertanista brasileiro Sidney Possuelo tem 64 anos, seis filhos, e hoje fica mais tempo no Vale do Javari, no Amazonas, fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru, onde existem cinco áreas de povos indígenas em isolamento.