Agência Brasil – Nove comunidades da Bacia de São Pedro, no estado do Pará, serão beneficiadas com um transporte inédito: a cafuringa – uma espécie de caminhonete a diesel, adaptada para regiões com grandes elevações. O transporte permitirá aos trabalhadores da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns o escoamento da produção até os rios.
Habitantes do centro da floresta, que ficam afastados das margens do rios Tapajós e Arapiuns, poderão comercializar seus produtos, após percorrer, na cafuringa, os seis quilômetros que ligam a reserva aos rios. Os principais produtos de extração são: óleos vegetais, mel de abelha, castanha-do-Pará, seringa, andiroba, copaíba, cumaru, uxí, pequiá, cacau, bacaba, tucumã, inajá, patauá, buriti, açaí, jatobá, coco, curuá, ingá e mucajá.
Ao todo, são duas cafuringas: uma que liga as comunidades ao rio Tapajós e a outra ao Arapiuns. Nazareno José de Oliveira, 56, nascido na Reserva, sabe o que é transportar a produção numa região de difícil acesso. Segundo ele, na época em que trabalhava como seringueiro, era preciso levar a borracha nas costas, pois não havia trilha para andar de bicicleta, moto, carro-de-boi ou mesmo a pé. Hoje, é possível andar com a cafuringa pela floresta, mas seu Nazareno trabalha em outra frente, como presidente da Associação Tapajoara, a principal da Reserva, buscando melhorias para a população da região.
“Conheço a realidade dos moradores da Resex. Diante da necessidade de escoamento da produção dentro da reserva, fizemos um projeto e, junto com o Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria de Coordenação da Amazônia e o Projeto de Apoio ao Agroextrativismo, conseguimos R$ 26 mil para a construção das cafuringas e para o frete, de Santarém até o interior da reserva. Com isso, as famílias vão melhorar a sua renda”, disse Nazareno.
Segundo ele, além de levar a produção até o rio e transportá-la para a cidade, os extrativistas precisavam melhorar o preço do produto – o que está sendo remediado por meio de cursos de capacitação, que vêm sendo ministrados na reserva. “Produzir borracha de qualidade traz dinheiro garantido. Além disso, a associação vai capacitar 20 pessoas da comunidade para manusear corretamente o transporte”, disse.
Duas cafuringas, no entanto, representam pouco para a região, segundo o seringueiro. “Ainda não são suficientes. Com crédito, vamos conseguir mais cafuringas, que é o transporte mais apropriado para dentro da floresta”, disse.
A cafuringa vai beneficiar 20 mil pessoas, em 68 comunidades da reserva, que possui mais de 647 mil hectares, e fica localizada no território de duas cidades do Pará: na região oeste de Santarém e noroeste de Aveiro. Criada há cinco anos, a Associação Tapajoara foi resultado da necessidade de união das comunidades frente à invasão das madeireiras. “Tiravam a madeira e acabavam com tudo”, denunciou.
Keite Camacho