Agência Brasil – Desde o final do mês de junho, pescadores da pequena cidade de Morpará, no agreste baiano, viram a informática chegar às suas portas. Por meio de monitores, software livre, internet e boa vontade de uma comunidade que clamava por projetos sociais, eles passaram a conhecer um mundo sem barreiras para a informação.
O projeto é uma iniciativa do governo federal que está sendo desenvolvida em comunidades pesqueiras pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap). O Telecentro de Inclusão Digital de Morpará tem até agora mais de 300 pessoas, a maioria pescadores do rio São Francisco, cadastradas para ter acesso aos computadores e à Internet.
Morpará, que fica a 900km de Salvador, tem pouco mais de oito mil habitantes e o serviço de internet mais próximo fica no município de Xique-Xique, a 90 quilômetros de distância. A cidade também não conta com outros confortos da vida moderna, como telefonia celular.
Acostumados com as dificuldades impostas pela falta de estrutura, o Telecentro de Inclusão Digital tem trazido o acesso às novas tecnologias, a ampliação das relações, o acesso à Internet e a democratização da comunicação, possibilitando a troca de experiências e resultados com outras comunidades conectadas à Internet.
De acordo com a gerente do projeto em Brasília, Adriane Lobo Costa, os Telecentros vão muito além da informática. “Estes centros são locais de interação onde os moradores podem trocar idéias, informações, criar grupos de discussões, desenvolvendo a economia do local”, analisa “Queremos que a comunidade pesqueira tenha acesso às informações que normalmente eles não têm”, informa Adriane.
Idalton Martins, que nasceu e cresceu em Morpará, hoje é o coordenador da organização não- governamental Associação Comunitária de Ação Social e foi um dos responsáveis pela implantação do projeto naquela localidade. Segundo ele, a ONG fez solicitações a vários ministérios para serem contemplados por projetos sociais. “Ficamos muito felizes ao sermos atendidos pela Seap”, disse.
“Queremos agora trazer projetos de hortas comunitárias, marcenaria, escola de música, fruticultura e outros para que a comunidade aprenda ofícios e desenvolva o cooperativismo”, ressalta Martins, acrescentando que a entidade já está em contato com uma ONG da Alemanha que vai fazer um projeto para incentivar a criação de cabras nas famílias de Morpará.
No Telecentro de Morpará, o estudante José Renato Benevides, de 18 anos, tem aulas de informática durante uma hora, três vezes por semana. Os trinta primeiros minutos são voltados para o aprendizado de digitação e manuseio das máquinas. Durante a meia hora seguinte, Renato acessa a Internet, confere as mensagem na sua conta de e-mail, faz pesquisas para o colégio e dá uma olhada nos sites sobre programas do governo.
“Como esse ano tem eleições, aproveito para procurar informações sobre os candidatos à prefeito aqui da minha cidade e suas propostas de governo”, explica Renato, lembrando que com a internet a comunidade tem buscado informações sobre projetos governamentais como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Segundo o coordenador Idalton Martins, a comunidade já está pedindo a aprovação do crédito para a pesca. Ele informou, ainda, que a comunidade de Morporá está elaborando um site para divulgar o Telecentro. Quem quiser entrar em contato com os moradores pode enviar mensagens para o e-mail: projetobelem@ig.com.br.
Os dez computadores do Telecentro funcionam com software livres e foram doados pelo Banco do Brasil. O acesso à Internet é disponibilizado pelo Ministério das Comunicações. A Secretaria de Aqüicultura e Pesca pretende instalar pelo menos um Telecentro de Inclusão Digital em cada estado brasileiro.
De acordo com a gerente do projeto em Brasília, Adriane Lobo Costa, cinco unidades do projeto já foram instaladas. “Estamos buscando mais sete convênios com organizações não- governamentais para fechar os 27 estados”, explica Adriane. O próximo Telecentro será instalado em Cabo Frio (RJ). Já estão funcionando os projetos em Laguna (SC), Lagoas (MS), onde há três, e em Belém (PA).
As comunidades que quiserem ter um Telecentro de Inclusão Digital devem se organizar, disponibilizar um espaço, o mobiliário e a instalação elétrica. A Secretaria de Aqüicultura e Pesca doa todo o equipamento de informática. “A gestão também fica por conta da comunidade que forma conselhos gestores para dar continuidade ao projeto”, finaliza Adriane Lobo Costa.
Bianca Estrella