O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje o projeto do governo de transposição e revitalização do rio São Francisco como incentivo ao desenvolvimento regional. "A gente fica discutindo como se a água do rio São Francisco tivesse dono. O dono, na verdade, é o povo brasileiro. Sabemos que tem problema de seca e fome na beira do rio São Francisco porque não tem projeto de desenvolvimento para aquela região, mas isso não impede que nós levemos água para onde as pessoas precisam".
O presidente participou essa manhã da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que discutiu a Política Nacional de Desenvolvimento Regional.
Em seu discurso, Lula disse que é preciso levar água ao semi-árido nordestino para que a região possa se desenvolver. "Tem gente que é contra sem saber porque é contra. Tem que gente que é favorável sem saber porque é favorável. Tem gente que coloca isso em um debate ideológico, As pessoas não se dão conta de que nós temos uma região onde moram milhões e milhões de brasileiros e brasileiras que há 300 anos foram vítimas do governo da época, que detectava a seca, e que até agora não teve solução", destacou.
O governo reservou mais de R$ 1 bilhão no orçamento de 2005, enviado ao Congresso Nacional na última terça-feira, para as obras de transposição das águas do rio São Francisco.
Carolina Pimentel
Visão Rota Brasil Oeste
A transposição do São Francisco é criticada por muitos especialistas como mais uma obra faraônica sem tanta repercussão social. O formato da transposição é apontado como centralizador e de pouco alcance social.
Segundo o secretário executivo do Movimento Organização Comunitária, organização não-governamental que trabalha no semi-árido, Nadilson Quintela, a transposição é um mito. "É um projeto velho, cheio de politicagem que não promove o uso difuso da água, reproduz uma idéia de crescimento, mas não de desenvolvimento social. Está centrada na grande irrigação e não na agricultura familiar, alimenta a concentração de riquezas", afirma.
Um proposta mais interessante e barata, por exemplo, seria a construção de cisternas de capitação de água da chuva. Uma cisterna, ao custo de R$1.470,00, garante o abastecimento de uma família de cinco pessoas durante 11 meses. Além de estimular a indústria de construção local, esta solução tem alcance maior no sertão e descentraliza a propriedade da água.