Dezenas de lideranças indígenas presentes ao Encontro Nascentes do Rio Xingu, ocorrido em Canarana (MT) entre 25 e 27 de outubro, permaneceram mobilizados para protestar contra a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Culuene, um dos principais afluentes do Xingu, localizado a 160 km de Canarana, perto da vila de Couto Magalhães. Os 42 líderes conseguiram negociar a paralisação da obra e a realização, no próximo dia 13, de uma reunião com os responsáveis pelo empreendimento e autoridades dos governos estadual e federal.
Os índios não estão dispostos a ceder. A obra está sendo construída em local considerado sagrado pelos povos do Alto Xingu, onde o deus Mawutsinin teria realizado pela primeira vez a festa do Kuarup. A celebração acontece todo ano e é reconhecida mundialmente como uma das principais manifestações culturais xinguanas.
Mas esse não é o único problema. A barragem está sendo construída a 2 quilômetros da Reserva Ecológica Culuene quando deveria estar a dez quilômetros de seu entorno. (veja o mapa ao lado)
Embora localizada fora do Parque Indígena do Xingu, a usina encontra-se no Rio Culuene, um dos principais formadores do Rio Xingu. Por essa razão, as lideranças estavam preocupadas com os possíveis impactos negativos da barragem sobre o meio ambiente e as comunidades. Só quando chegaram ao local para inspecionar a construção é que constataram a invasão do santuário. Eles prometeram manter vigilância sobre a área.
"Ficamos chocados com o que vimos, é lamentável", afirma Makupá Kaiabi, presidente da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX). Ele informa que as comunidades da região esperam que as obras sejam desativadas o quanto antes. Depois da visita, os índios elaboraram uma carta convocatória para o encontro que deverá discutir a situação no dia 13 de novembro. Na semana passada, uma comitiva formada por representantes das comunidades do Alto Xingu, do Ibama e da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat) visitou novamente as obras da usina.