Motivados pela campanha publicitária sobre a Macha para o Oeste, três jovens irmãos paulistas foram atraídos pela idéia de fazer parte daquela aventura. A família havia se mudado de Botucatu para a capital há pouco tempo, mas uma sucessão de tragédias os deixou órfãos, o que também serviu de estímulo para a partida rumo ao interior. Orlando Villas Bôas, tinha 27 anos e trabalhava de escriturário na Esso. Cláudio, de 25, deixou o emprego de mensageiro na prefeitura de São Paulo para embrenhar-se na mata. O caçula, Leonardo, de 23, trabalhava numa empresa distribuidora de gás e foi contagiado pela empolgação dos mais velhos.
Acostumados com a vida no campo – o pai era fazendeiro -, acreditavam que não teriam dificuldades em ser aceitos naquele exército expedicionário. Alguns pontos, porém, pesavam contra os Villas Bôas: sabiam ler e escrever. E foi este o motivo alegado para que os três irmãos fossem recusados quando se apresentaram pela primeira vez, em São Paulo. Considerados “educados demais para a vida no sertão”, logo foram descartados.
Inconformados com a negativa decidiram prepararem-se para a dura vida sertaneja. Durante quase um mês, deixaram crescer barba e bigode e tomaram banhos de sol diariamente. Voltaram ao local de alistamento e se declararam analfabetos. Com a pele escura e barbas fartas, foram aceitos e passaram a fazer parte da Expedição Roncador-Xingu. Eles jamais imaginariam que estavam iniciando uma viagem que mudaria suas vidas, entraria para a história do Brasil e seria importantíssima para a preservação de diversos povos indígenas. Jamais imaginariam que iriam passar 35 anos no coração da selva.
Leonardo e Cláudio começaram o trabalho na enxada e Orlando como ajudante de pedreiro. A farsa durou até o dia em que o avião bimotor que levava mantimentos e ferramentas para a expedição sofreu um pequeno acidente. Cláudio e Leonardo estavam capinando a pista de pouso, aberta no meio do matagal, e foram chamados para ajudar. Na conversa com o piloto, acabaram se revelando alfabetizados. Os irmãos foram denunciados ao comando da expedição. No dia seguinte, Orlando foi nomeado secretário da base, enquanto Cláudio e Leonardo ficaram encarregados do almoxarifado.
Os números deste trabalho falam por si só. Com o apoio da Fundação Brasil Central, foram 1 500 quilômetros de picadas abertas, mais de 1 000 quilômetros de rios percorridos, 43 vilas e cidades nascidas às margens dos novos caminhos, 19 campos de pouso – quatro se tornaram bases militares e pontos de apoio de rotas aéreas internacionais – e 5 mil índios, de 14 etnias, contatados. Os Villas Bôas ainda foram responsáveis pela criação do Parque Indígena do Xingu e receberam comendas estrangeiras, nacionais, títulos e diplomas de Honra ao Mérito duas indicações para o Prêmio Nobel da Paz. Orlando e Cláudio ainda foram premiados com 200 malárias cada um. O impacto da chegada do homem branco repercute até hoje na região.
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