Cerca de mil lideranças indígenas do povo guarani – vindas de oito estados, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai – estão reunidas até terça-feira (7) no município de São Gabriel (RS), localizado a 320 quilômetros de Porto Alegre. Desde ontem (3), participam da Assembléia Continental do Povo Guarani, organizada para lembrar os 250 anos da morte do líder indígena Sepé Tiaraju e o massacre de 1,5 mil índios guarani que lutaram contra a dominação espanhola e portuguesa na região.
É a primeira vez que lideranças do povo guarani participam de um encontro continental. "É um acontecimento muito importante, porque já se passaram dois séculos desde a morte de Sepé Tiaraju e agora é que nós conseguimos nos reunir pela primeira vez", avalia o cacique guarani Mário Karaí. Também estão na assembléia representantes de movimentos sociais como a Comissão Pastoral da Terra, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Via Campesina e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Segundo Mário Karaí, o objetivo do encontro é debater a questão indígena e discutir formas de superar problemas como a falta de terra. "Se você não tem se espaço, como é que vai produzir sua saúde e a educação do seu povo?", questiona. Segundo ele, os índios guarani do Uruguai, do Paraguai, e, sobretudo, da Argentina também enfrentam dificuldades semelhantes às dos que vivem no Brasil.
A liderança indígena diz que os índios guaranis de hoje e os que viveram na época de Sepé Tiaraju têm uma causa em comum: a luta pela garantia da terra. "Mas os problemas enfrentados atualmente são muito piores. Naquela época, eles defendiam os territórios. Hoje, temos que lutar pelo nosso território, pelos nossos direitos e contra o racismo e o preconceito".
Para Mário Karaí, Sepé Tiaraju é um símbolo de resistência e de luta dos índios. "Ele enfrentou grandes exércitos e nos deixou a lição de que temos de lutar pelos nossos direitos, mas de forma organizada". Na terça-feira, no encerramento da assembléia, será realizada uma passeata em homenagem ao guerreiro indígena. Também será inaugurada a pedra fundamental do monumento projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em homenagem ao líder guarani.