CNPq – Há cerca de duas décadas, a água de coco começou a freqüentar laboratórios de pesquisadores brasileiros interessados no potencial do produto como meio de conservação celular. Aos poucos, percebeu-se que o produto, muito mais que uma bebida saborosa e nutritiva, oferece uma variada possibilidade de utilização nas áreas da medicina, da veterinária, da biologia, entre outras.
No entanto, a água de coco (Cocus nucifera L.) é um produto oriundo de vegetações tipicamente tropicais, o que limita a sua difusão em trabalhos em regiões de clima temperado. Além disso, a vulgarização do uso da água de coco está limitada, em primeiro lugar, à inexistência da padronização de insumo tão importante. Uma série de fatores como variedade, tipo de cultivar, idade, sanidade e fatores ambientais, influenciam substancialmente sua complexa composição. Sua labilidade tem, inclusive, dificultado os esforços de inúmeros pesquisadores, muitos deles ligados à industrialização, de obter na prateleira, a água de coco “in natura”, sob forma estável e duradoura.
A solução foi encontrada por pesquisadores brasileiros, que desenvolveram a água de coco em pó (ACP®). A obtenção do fruto ocorre numa seqüência de procedimentos iniciada pela rigorosa seleção e higienização do produto, seguida de colheita do líquido endospérmico do coco (água de coco), sob forma asséptica, realizada amostragem após filtração. O líquido filtrado é bombeado sem intermitência e de forma contínua para o sistema de secagem. A amostra seca é então transformada em pó fino e uniforme, amorfo, destituído de água livre, com alta solubilidade. O produto básico (líquido endospérmico do coco), em sua forma processada, confere estabilidade e longevidade de prateleira, sem problemas de acondicionamento e supera toda e qualquer outra tecnologia de conservação, uma vez que mantém as propriedades inerentes do produto original.
“Mesmo com os avanços do processamento da água de coco na forma líquida, a mesma, depois de acondicionada e armazenada não pára seu metabolismo. Daí a grande vantagem da água de coco em pó: uma vez processada, não modifica sua composição até sua utilização, garantindo um “padrão” confiável”, explicou José Ferreira Nunes, pesquisador nível 1 do CNPq, instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Médico Veterinário da Universidade Estadual do Ceará (UEC), Nunes foi quem realizou os primeiros estudos com a água de coco “in natura” na
conservação de células.
Aplicações
Após testes que comprovaram a eficiência do ACP®, a perspectiva que se tem de sua utilização engloba o desenvolvimento de células germinais (espermatozóides e embriões) de animais e até do ser humano, o desenvolvimento de meios de cultivo de microrganismos, protozoários e insetos, diluente para vacinas antivirais animais, a elaboração de produtos cerâmicos para próteses ósseas e dentárias, a elaboração de meio de conservação de córneas para transplante, a formulação de produtos de confeitaria, a formulação de bebidas isotônicas e produtos para pacientes hospitalares e, enfim, o uso em cosmética.
Hoje, a pesquisa vem sendo aprimorada a cada dia em laboratório e transferida ao setor produtivo de imediato através do trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Tecnologia do Sêmen Caprino e Ovino (LTSCO) da Universidade Estadual do Ceará, sob a responsabilidade do Professor Nunes e com o apoio da FUNCAP, SECITECE, CAPES e CNPq.
Recentemente, os pesquisadores criaram a empresa ACP® Produtos Biotecnológicos, incubada no Parque de Desenvolvimento Tecnológico
(PADETEC) em Fortaleza. A empresa é especializada na elaboração de produtos a partir da água de coco em pó (ACP®) e já despertou o interesse de empresas da área de alimentação esportiva.
O objetivo de toda a pesquisa e, ainda, da criação da empresa, é facilitar a utilização da água de coco e todos seus benefícios, bem como a sua difusão para regiões que não disponham da matéria-prima (coco). Histórico – Durante as décadas de 80 e 90, José Ferreira Nunes obteve excelentes resultados com os primeiros estudos com a água de coco “in natura” na conservação principalmente de células espermáticas. Assim, objetivou-se a elaboração de um meio de conservação à base de água de coco em pó, caracterizado pela padronização e estabilização da água de coco “in natura” através de um processo de atomização e subseqüente formulação de meios de conservação específicos para células e tecidos.
Desde 1997, iniciou-se um estudo que levou à padronização do fruto que seria o ideal para a utilização em processos biológicos. Uma vez selecionado o fruto ideal, buscou-se a estabilização da água de coco, fato logrado no início de 2002.
Os primeiros resultados obtidos com a água de coco “in natura” levaram os pesquisadores Cristiane Clemente de Mello Salgueiro (médica veterinária, doutora em reprodução animal, bolsista DCR/CNPq), João Monteiro Gondim (médico, colaborador) a aprofundar, junto com o Professor Nunes, os estudos com relação à água de coco no sentido de padronizá-la e estabilizá-la na forma de pó (ACP®) para que a mesma, em não perdendo suas características físico-químicas, tivesse seu uso simplificado, podendo representar uma alternativa para a difusão de
várias biotecnologias.
Hoje, já foram realizados testes como o de um médico oftalmologista que testou a eficiência da água de coco “in natura” em comparação com meio comercial na conservação de córneas de coelho e que já está interessado em dar continuidade à linha de pesquisa realizando seu doutorado utilizando a água de coco em pó na conservação de córneas humanas destinadas a transplante.
Há, também, em fase de experimentação, a adição de outras frutas tropicais como maracujá, manga e acerola. Se os contratos comerciais se efetivarem, será possível o processamento em escala industrial.
Mariana Galiza