Embrapa – Brasil e Itália já deram o pontapé inicial em um programa de conservação da biodiversidade que vai beneficiar comunidades rurais, tradicionais e indígenas de várias regiões brasileiras. O Programa “Biodiversidade Brasil-Itália” é o maior projeto de cooperação já realizado até hoje entre os dois países e contará com a participação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), pelo lado brasileiro, e do IAO (Instituto Agronômico LOltremare), pelo lado italiano. O IAO é o órgão de cooperação técnico-científica nas áreas de agricultura e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores da Itália.
O projeto será desenvolvido em um prazo de três anos e vai englobar quatro pontos principais, como explica o pesquisador Luciano Nass da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília –DF), as comunidades de Araripe (Ceará); Cazumbá (Acre); os povos indígenas Krahô, do Tocantins, e Xingu; e, por fim, o projeto Montes Claros que, por sua vez, envolve comunidades carentes de quatro pólos: região norte de Minas Gerais; Cidade Ocidental, em Goiás; Ceará e Sergipe. O foco será promover a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica e de outras iniciativas de desenvolvimento local nessas regiões, com a participação efetiva das comunidades tradicionais e de pequenos produtores, procurando amenizar o nível de pobreza dessas comunidades e garantir a sua segurança alimentar.
A cooperação entre os dois países prevê ainda a realização de um quinto ponto estratégico, que os coordenadores chamam de transversal, já que passa por todos os outros pontos, e que se baseia na aplicação de técnicas de biotecnologia. E para definir as linhas de cooperação que vão compor essa parte do Programa, o professor de genética da Universidade de Florença, Itália, Marcello Buiatti, esteve no Brasil, no período de 15 a 18 de junho, com o objetivo de discutir conceitos e ferramentas da biologia molecular aplicáveis à definição de identidade de materiais genéticos e rastreabilidade de produtos. Buscou-se identificar também oportunidades para aplicação da tecnologia de marcadores moleculares para detecção e rastreamento de caracteres complexos em cultivos de importância agroalimentar, como sabores, substâncias ativas, etc., além do desenvolvimento de marcadores genéticos que possam caracterizar e identificar genótipos com atributos especiais.
Durante a sua estadia no Brasil, o professor Buiatti visitou duas unidades de pesquisa da Embrapa – Recursos Genéticos e Biotecnologia e Hortaliças, ambas localizadas em Brasília, DF – e o Ibama, com o objetivo de realizar uma investigação preliminar dos projetos que envolvem genética molecular para dar início ao programa de cooperação entre os dois países.
Buiatti elogiou o alto nível de competência científica das instituições brasileiras e disse que o Brasil é um bom ambiente para parceria. Ele afirmou que serão priorizados os projetos de biologia molecular e bioquímica com foco na conservação. “Os projetos que conheci durante a minha visita ao Brasil têm um enorme potencial para o desenvolvimento das pesquisas de conservação e uso de espécies vegetais, que vão nortear a realização do Programa “Biodiversidade Brasil-Itália”, ressaltou Buiatti, lembrando que planeja unir todos os projetos em uma plataforma de ação, envolvendo pesquisas de genética molecular.
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Luciano Nass, explica que o Programa foi lançado no ano passado e vai começar efetivamente em 2005. Ainda este ano, de julho a dezembro, serão realizadas iniciativas que vão dar suporte ao Programa, como a capacitação técnica dos pesquisadores brasileiros e italianos envolvidos no seu desenvolvimento.
De acordo com o pesquisador italiano, Marcello Broggio, representante do IAO, está prevista também para este ano a fase de sensibilização da sociedade para a importância do Programa. Nesse sentido, será realizado um evento em Brasília, provavelmente em outubro, para apresentar e divulgar os objetivos do Programa para a opinião pública brasileira. Broggio afirma que serão convidados os Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Social; além de jornalistas e representantes de instituições de pesquisa e universidades brasileiras.
Fernanda Diniz