Agência Brasil – Usando óculos de grau de uma grife estrangeira, a índia Ermelinda Xucuru Kariri, aos 74 anos, cuida de sua saúde com remédios tradicionais à base de ervas. A saúde das mulheres indígenas é um dos principais temas da I Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, que está sendo realizada, em Brasília, nestas segunda e terça-feiras.
“As etnias têm que se unir, senão a vaca vai para o brejo”, disse Ermelinda, arrancando risos dos participantes, a maioria mulheres. Entre elas, as ministras Matilde Ribeiro, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial; e Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.
Para Azelene Kaingang, o sistema de atendimento médico das populações indígenas precisa de um programa de atendimento às mulheres. “Na questão da saúde, não há hoje um programa específico de atenção à saúde das mulheres indígenas. E os que pretendem ser não contemplam a questão cultural, não se pode ter um tratamento igual ao das mulheres não-indígenas”, afirmou Azelene.
Outro tema fundamental da conferência, segundo Azelene, é o combate à fome e à pobreza dos indígenas, em especial das mulheres. “Tudo passa pela garantia territorial, porque a terra é o suporte de tudo para a gente”, disse.
De acordo com Azelene, a maior parte da demarcação de terras indígenas já foi concluída, mas em 90% delas existe problema com invasores. “No Brasil, hoje, há mais de 1,8 milhão posseiros ilegais em terras públicas, mais da metade deles estão em terras indígenas”, alertou.
A população indígena brasileira é de cerca de 734 mil pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2001. Destes, em torno de 48% vivem nas aldeias, sendo que cerca de 110 mil são mulheres.
A ministra Nilcéia Freire reconheceu que o país não desenvolveu, até hoje, uma política direcionada para essa parcela da população brasileira. “A partir desta conferência, uma das nossas metas é traçar alguns programas específicos para as mulheres índias, levando em consideração a realidade delas”, afirmou.
Matilde Ribeiro acrescentou que o governo ainda está identificando as demandas dessa população. “Neste momento, nós estamos entendendo que há uma conexão grande entre as necessidades dos indígenas e dos quilombolas: passa pela garantia de infra-estrutura, pela questão educacional, saúde e pela visibilidade desses povos com as suas vidas tradicionais”, disse.
Cecília Jorge