Agência Brasil – Cientistas, pesquisadores e especialistas de todo o país estão reunidos na sede da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) para debater a aplicação do conhecimento cientifico gerado pelo programa Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) na formulação de políticas públicas para a Amazônia. O encontro de hoje é uma preparação para a III Conferência Científica do LBA, que se realiza na próxima semana entre os dias 27 e 29, na Academia de Tênis, em Brasília.
O encontro discute também a contribuição da ciência para a implantação de uma estratégia nacional de preservação da Amazônia e de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Nesse item a ênfase é para as taxas de desmatamento, alterações dos usos da terra, recuperação de áreas degradas, queimadas e outros problemas provocados pela intervenção humana da floresta. Liderado pelo Brasil, o LBA, é o maior programa de cooperação cientifica internacional em pesquisas ambientais em regiões tropicais do mundo.
Criado em 1998, o LBA gerou, e continua gerando, diversos resultados científicos sobre o funcionamento dos ecossistemas amazônicos e milhares de informações vitais para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Informações como as fornecidas pelas 17 torres de medidas de fluxos de vapor de água, dióxido de carbono, calor sensível e transferência de gases entre a atmosfera e a superfície vegetada, instaladas na região amazônica, e que foram relatadas pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Antonio Nobre, na palestra Serviços Ambientais da Floresta e no Balanço de Carbono.
Segundo o pesquisador, essa rede de estudos e de observações ambientais está ampliando a capacidade de monitorar o comportamento integrado de trocas de carbono para todo o bioma amazônico. “Começamos a descobrir a ponta do iceberg da complexidade amazônica”, ressaltou. Para ele, com inteligência, ciência e tecnologia, é possível preservar o funcionamento dos ecossistemas amazônicos e reverter o processo de destruição da floresta.
“Por ignorância, a humanidade está exterminando os microorganismos e comprometendo o equilíbrio do Planeta”, disse o pesquisador, criticando a destruição de matas nativas para a expansão de fronteiras agrícolas. Antônio Nobre defende a implantação de projetos integrados e a recuperação de áreas degradadas na região: “temos condições de mudar esse quadro de destruição e reconstruir a Amazônia”.
Amazônia sustentada com ciência e Erradicação da pobreza
Para o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a utilização da ciência e da tecnologia para a sustentabilidade da Amazônia deve, necessariamente, ser acompanhada por políticas de erradicação da pobreza, de justiça social e práticas sustentáveis de produção e consumo.
Em sua palestra sobre os experimentos da LBA e sua importância para a Amazônia, Nobre defendeu a consolidação de grandes redes de pesquisas capazes de estimular o conhecimento científico na região. Em sua opinião, seriam necessários pelo menos quatro grandes centros de pesquisa, com cerca de 3 mil pesquisadores trabalhando em rede e um orçamento anual de US$ 500 milhões.
O LBA estuda as interações entre a Floresta Amazônia e as condições atmosféricas e climáticas em escala regional e global. Os trabalhos conjuntos já produziram mais de 1200 projetos de pesquisa sobre as funções biológicas, químicas e físicas da região. Segundo o pesquisador, os resultados do LBA estão fornecendo base cientifica para a implantação de políticas de uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia.
Os trabalhos realizados pelo LBA envolvem a utilização de torres, balões, radares, aviões, satélites e modernos instrumentos de medição, coleta e análise de dados, visando um tratamento ambientalmente responsável e de longo prazo para a Amazônia.
A primeira conferência de hoje também teve a participação dos pesquisadores Enéas Salati – que falou sobre contribuições das emissões da Amazônia e oportunidades no mercado de carbono -, Márcio Santilli – O desmatamento evitável – e Emílio de La Rovere – A fase pós-Kioto e perspectivas para a Amazônia.
Os cientistas afirmam já saber que as descobertas científicas feitas na Amazônia têm um valor estratégico para o país e para o Mundo. A III Conferência do LBA servirá para difundir essas experiências e provocar uma reflexão sobre o papel da ciência para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Processo de destruição de florestas ainda pode ser revertido, diz pesquisador
Com inteligência, ciência e tecnologia é possível preservar o funcionamento dos ecossistemas amazônicos e reverter processos de destruição da floresta. Segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) Antonio Dourado Nobre, por ignorância, a humanidade está exterminando os micro-organismos e comprometendo o equilíbrio do planeta. “Existem formas de lidar com a Amazônia de maneira produtiva “, afirmou o pesquisador que defende a implantação de projetos integrados e a recuperação de áreas degradadas na região.
Em sua palestra sobre os serviços ambientais da floresta, durante a pré-conferência “O Conhecimento Científico e a Formulação de Políticas Públicas para a Amazônia” que se realiza no auditório da Finatec (Fundação de Empreendimento Científicos e Tecnólógicos), na Universidade de Brasília, o pesquisador concluiu: “Temos condições de mudar este quadro e de reconstruir a Amazônia.”
Mauricio Cardoso