Os servidores da Funai, César Augusto Júnior e Gilberto Pereira da Silva, que haviam sido seqüestrados, no dia 1º de julho, foram libertados às 21h48 de ontem (sábado), após negociação comandada pelo administrador interino do órgão indigenista, Benedito Rangel Moraes. Eles foram feitos reféns durante 54 horas por índios contrários à homologação da TI Raposa Serra do Sol, comandados pelo rizicultor Paulo César Quartieiro.
Os servidores foram abordados no posto Urucurí (da Funai) instalado na região das Serras, por um grupo de 20 índios que os convidaram para uma reunião na aldeia Contão, onde outros 300 indígenas estavam reunidos com o rizicultor Paulo César Quartieiro. Após a reunião eles foram comunicados que estavam seqüestrados. “Nos disseram que teríamos que ficar com eles para que pudessem negociar”, afirma o chefe de posto da Funai, Gilberto Silva.
A negociação para libertar os reféns começou na madrugada de sábado quando uma “força-tarefa”, composta por 20 Agentes da Polícia Federal, 20 Policiais Militares e o administrador da Funai, deslocou-se à aldeia Contão para iniciar o diálogo. Os seqüestradores exigiam a liberação da estrada de acesso à fazenda de Quartieiro.
No final da manhã de sábado, a “força-tarefa” e indígenas de Contão foram até o local da ocupação feita por comunidades ligadas o Conselho Indígena de Roraima e ao constatarem que não havia bloqueio da estrada, aceitaram entregar os reféns. Quartieiro e o presidente da organização indígena Alidcir, Anísio Pedrosa, também participaram da reunião.
Gilberto Silva informa que os dois funcionários não sofreram agressões físicas e que ele a todo instante temia pela sua vida. “Apesar de não terem me agredido, sempre que mudavam do lugar o cativeiro, eu pensava que eles iam me matar”, comenta.
O seqüestro e cárcere privado foram comandos pelo tuxaua da aldeia Contão, Genival Pereira e por outro indígena de nome Humberto Rocha. Os dois recebiam orientação do rizicultor Paulo César Quartieiro.
Os servidores sofreram humilhações e ameaças de agressão físicas e de ficarem amarrados no centro da aldeia Contão, o primeiro cativeiro. Às 14 horas de sexta-feira, eles foram levados para o vilarejo Água Fria onde permaneceram até serem libertados. “Me perguntaram se preferíamos ficar nas vilas Água Fria ou Uiramutã ou na maloca Ticoça (contrária à homologação). Eu disse: qualquer lugar ta bom”, lembra Gilberto.
O servidor recorda que a população de Água Fria não apoiou o crime e pessoas do vilarejo se recusaram a ceder suas casas para servirem de cativeiro. Um vereador da localidade interveio junto aos seqüestradores para que os servidores telefonassem para suas famílias.
Nas primeiras horas da madrugada deste domingo, os ex-seqüestrados chegaram em Boa Vista e foram conduzidos ao Instituto Médico Legal para exame de corpo delito. Dois servidores do Convênio CIR-Funasa, que também haviam sido seqüestrados foram libertados sem necessidade de negociação com a “força-tarefa”. O carro da Funai e o que fazia a remoção de doentes também foram entregues.