Pistoleiros ferem adolescentes e guerreiros reagem

O cacique Damião Xavante, uma das principais lideranças da etnia em Marãiwatsede (MT) afirmou que enquanto fazendeiros invasores permanecerem dentro da Terra Indígena haverá o perigo de novos conflitos. A declaração do cacique foi uma resposta ao mandante do atentado sofrido por dois adolescentes Xavante no dia das eleições (3). Felisberto e Guilherme Xavante foram atingidos a balas quando caçavam em suas terras, disparadas por dois motociclistas contratados por um posseiro da região. “A situação é grave porque os índios estão em uma terra demarcada e homologada e após terem sido expulsos, retornaram por determinação do Supremo Tribunal Federal”, comenta o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, que planeja fazem mais uma visita, em breve, ao povo Xavante de Marãiwatsede.

Ele informou que, desde que reocuparam Marãiwatsede, os Xavante têm procurado manter uma convivência pacífica com os posseiros e estão preocupados apenas em construir suas novas casas, plantar suas roças, mas não aceitam qualquer tipo de agressão. Conforme Damião, em casos como o desse atentado, nem mesmo ele conseguiria impedir a reação dos índios. De acordo com Edson Beiriz, Administrador Regional da Funai em Goiânia e um dos coordenadores das áreas Xavante, os outros posseiros ficaram revoltados com o “fazendeiro” que teria mandado atirar nos índios.

Tensão

A preocupação da Funai agora é que, se houver novos atentados, a situação possa fugir ao controle. “Até agora os índios, apesar de insatisfeitos com a presença de intrusos em suas terras, tinha conseguido manter com eles uma convivência pacífica, mas o clima na área piorou, principalmente pelo estado de tensão entre os índios”, observou Beiriz.

No dia da tentativa de homicídio a maioria dos adultos tinha ido votar na cidade de Serra Dourada, em Mato Grosso, deixando praticamente sozinhos crianças e idosos. Os pistoleiros aproveitaram a oportunidade para executar o crime, mas o quadro de saúde dos jovens indígenas não causa preocupação. Felisberto, de 18 anos, foi atingido na perna e removido para um hospital de Água Boa (MT). Guilherme, de 16 anos, sofreu ferimentos a bala no braço esquerdo e nas costelas.

Decisão

Em 10 de agosto último, o Supremo Tribunal Federal decidiu que os Xavante, que há mais de nove meses estavam acampados às margens da rodovia BR-158, próximo à cidade de Boa Vista (MT), pudessem tomar posse de suas terras, demarcadas e homologadas desde 1998. “Ocorre que, na mesma decisão, o STF decidiu, também, que os posseiros pudessem permanecer dentro da terra indígena, deixando os índios sempre apreensivos, em função da animosidade dos posseiros e políticos regionais, que tinham interesses em Marãiwatsede”, analisa Beiriz.

Embora tivessem de conviver com não-índios dentro da terra Indígena, os Xavante, desde o primeiro dia, procuraram manter-se afastados, justamente para evitar quaisquer conflitos. Mas os disparos que atingiram os índios encerraram essa trégua. A tradição guerreira dos Xavante está expressa na reação aos tiros. Cerca de 80 guerreiros depredaram parte das benfeitorias não autorizadas de um posseiro conhecido por Nêgo, que teria mandado matar os adolescentes.

Na interpretação do administrador da Funai em Goiânia, o problema é que os Xavante não entendem porque são obrigados a aceitar a permanência “brancos” em suas terras se a Constituição Federal lhes garante o usufruto exclusivo de Marãiwatsede.

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