Último dia no Xingu, marcamos de ir bem cedo para a aldeia Yawalapiti com a pretensão de aproveitar ao máximo o dia. Acordamos atrasados e corremos para pegar carona com a caminhonete do Posto.
Por volta das oito horas chegamos à aldeia e sentamos no centro, como sempre fazemos, para conversar com Aritana, Aiupú, Tapi, Aumaury e os outros homens da tribo. No dia anterior, havíamos combinado de emprestar nosso telefone Globalstar para que Aritana pudesse ligar para a casa do Orlando Villas Bôas. Tudo funcionou perfeitamente, conversamos com o Orlando e sua mulher, Marina. Foi muito legal fazer este tipo de interação direto de uma aldeia, no meio do Xingu. Eles adoraram e elogiaram a qualidade da transmissão.
Depois, decidimos ir garantir o almoço com uma pescaria. Saímos acompanhados da meninada Yawalapiti e começamos a remar, subindo o Tuatuari. Seguindo a orientação dos meninos, Fernando e Fábio provaram ser exímios remadores. Em poucos minutos, pegamos um canal do rio muito raso, que passava entre uma vegetação densa cheia de jacarés. Não entendendo muito bem aonde íamos, continuamos para onde apontavam.
Abandonamos o remo e começamos a tomar impulso nas árvores que nos cercavam. Em determinado momento, foi necessário deitar dentro da canoa para passar por baixo dos galhos. O cenário era lindo e impressionante: vimos morcegos, jacarés e muitos pássaros. Finalmente, as plantas se descortinaram numa pequena e calma lagoa.
Encostamos de canto numa moita. O Paroí e o Guilherme, únicos com anzol, começaram a pesca. A primeira vítima do Guilherme foi uma piranha. Isto, somado aos jacarés que pescavam calmamente, serviu como um alerta para considerarmos a área como imprópria para o banho. Alimentando os mosquitinhos, ficamos mais de uma hora para conseguir o seguinte menu para o almoço: três pintados pequenos, duas piranhas e três mandis.
Na volta, os homens nos esperavam com beiju e o fogo aceso. Sentindo muita fome, devorei os pintados com vontade. Depois, fomos comprar um pouco de artesanato, como redes, cerâmicas, e os famosos colares de caramujo xinguanos. Estes colares funcionavam no passado como a principal moeda de troca entre as tribos do Xingu. Ainda hoje, eles têm alto valor de troca entre todas as aldeias da região e com os caraíbas (não-índios).
Já sentindo um pouco de saudade, pegamos a carona de volta na carreta improvisada do trator da tribo. O detalhe é que, além de não contarmos com air bag e nem barra de proteção lateral, o carro está com a direção quebrada. Zig-zageando pela estrada, numa das curvas seguimos reto, mata adentro. Fomos assim, nos agarrando ao antigo chassi, elevado à condição de carreta, até o Posto Leonardo. Foi muito divertido.
De noite, paramos para arrumar nossas coisas. Amanhã acordaremos às cinco da manhã para enfrentar seis horas de barco e outras três horas na caçamba da caminhonete até chegar a Canarana – MT. Avisamos desde já e pedimos desculpas aos nossos milhões de leitores, mas a atualização de amanhã está comprometida.
Como sempre, nossa estada aqui passou muito rápido, mas de uma forma muito intensa. Ao mesmo tempo em que estamos satisfeitos por termos completado esta etapa do trabalho e aproveitado ao máximo a oportunidade, estamos todos tristes de ir embora. Nosso contato com as pessoas daqui foi muito bom. Em pouco tempo, nos apegamos a algumas das criancinhas que ficam se dependurando na gente o dia inteiro e também podemos dizer que começamos a fazer verdadeiros amigos por aqui. Portanto, fica nosso agradecimento especial ao Aritana, que mal nos conhecia e nos recepcionou tão bem. Ao Kokoti, chefe do Posto Indígena Leonardo Villas Bôas, que nos deu todo apoio para realizar o trabalho. Além deles, poderíamos continuar fazendo uma longa lista que sempre seria incompleta: Travi (cozinheiro), Autucumã, Jaílton (professor), Kapi, Ualá, Camila, Afukaká, Jacalo, Leo, Marina e muitos outros.
Agora, nosso próximo passo é visitar as reservas dos Xavantes, o primeiro povo indígena contatado pela Expedição Roncador-Xingu.
Inté,
Fernando