Famoso em Barra do Garça e Aragarças, Valdon Varjão guarda na memória todos os detalhes do que foi o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro no século XX. Como político e morador local foi mais que testemunha, atuou em todo o processo. Cinco vezes vereador e três vezes prefeito de Barra Garças, foi também deputado federal e senador. Hoje ele é dono de um dos maiores acervos históricos sobre a Expedição Roncador-Xingu, são vídeos, fotos e mais de 20 livros de sua autoria.
Grupo – Em que época sua família veio pra esta região?
Valdon Varjão – Eu nasci no Ceará, mas vim para cá ainda novo. Meu pai chamava-se Manuel Cardoso Varjão e veio para a região do Roncador atraído pela febre do garimpo de diamantes, por volta de 1936. Nós fomos pra a cidade de Baliza, que era a capital do garimpo naquela época.
"(…)Desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena(…)" Foto: Fábio Pili
Grupo – Quando o Sr. veio para Barra do Garças pela primeira vez?
Valdon Varjão – Em 1938, quando eu tinha 15 anos, eu tocava na banda de Baliza, onde eu morava. A cidade fica a uns 60Km daqui. Os festeiros aqui da Barra contrataram a banda pra vir tocar aqui. Eu vim e acabei me apaixonando por uma menina. Quando voltei pra casa, minha mãe faleceu. Eu fiquei sozinho por lá e resolvi voltar para Barra do Garça para encontrar a menina e ela estava noiva de outro. Aí eu comecei a trabalhar para o Sr. Antônio Paulo da Costa, eu tomava conta de um bilhar que ele tinha na cidade. Alguns anos mais tarde, em 1945, ele foi eleito prefeito e eu passei a trabalhar como seu secretário. Cinco anos depois, me candidatei a vereador e fui eleito pela primeira vez.
Grupo – Foi nesta época que a Fundação Brasil Central começou suas atividades por aqui. Como foi recebida a iniciativa?
Valdon Varjão – Muito bem! A Fundação Brasil Central trazia incentivo, dinheiro e muitos empreendimentos para nós. A região região teria crescido ainda mais se o ideal original do presidente Getúlio Vargas e do Ministro João Alberto não tivesse sido desvirtuado. Eu adoro o Orlando e sempre fui amigo dele, troco correspondências com ele até hoje. Mas eu acho que os irmãos Villas Bôas desvirtuaram a intenção original que era colonizar toda essa região construindo estradas e novas cidades. A idéia não era catequizar índio e nem fazer Parque Indígena. O suicídio do Getúlio foi a derrota para nossa região. Quando Juscelino Kubitscheck assumiu isso já tava tudo feito. Brasília foi construída sob influência do trabalho da Fundação Brasil Central.
Gurpo – Como o Sr. se tornou senador da República?
Valdon Varjão – Eu fui convidado pelo Gastão Matos Müller, que era muito meu amigo, para ser seu suplente no Senado. Eu falei para ele que não queria, porque suplente não aparece, ninguém ouve falar de suplente. Então ele falou que, se fosse eleito, me deixaria assumir o cargo por dois anos. O Gastão se licensiou e então me tornei senador em 83 até 85. Cheguei a ser Quarto Secretário da Mesa.
Grupo – Por que o Sr. construiu o Discoporto?
Valdon Varjão – Eu nem gosto muito de falar sobre esse assunto… Na verdade, eu queria chamar a atenção para Barra do Garças. Quando eu fui no programa do Jô Soares para falar do Discoporto, ele me perguntou se eu acreditava em disco voadores. Eu repondi que sim. Aí ele me perguntou se eu já tinha visto um para acreditar. Então eu perguntei para ele: "Você acredita em Deus?". Ele me respondeu que sim. Aí perguntei: "Se ele já tinha visto Deus". (Risos)
Grupo – Qual a sua visão para o futuro da região?
Valdon Varjão – Sou pessimista. O Governo não tem nenhum projeto para a região. Não que o governo tenha que fazer tudo, mas ficamos viciados no apoio estatal. Os gaúchos, por exemplo, tem mentlidade diferente e costumam fazer as coisas por conta própria. Cidades que eles fundaram, como Primavera (MT), estão com uma economia ótima. Para nós falta, primeiro, uma boa injeção de ânimo e recursos. Falta também esforço político, nossa bancada é fraca no número de representantes e em pessoas de boa cultura.