Rota Brasil Oeste – No dia 06 de setembro, duas das principais lideranças indígenas do país – os caciques Megaron e Raoni _ estiveram com o ministro do Turismo e Esporte, Caio de Carvalho, para propor a criação de um polo turístico dentro da reserva do Xingu. A questão interessa um número cada vez maior de etnias, mas ainda não existe consenso nem regulamentação sobre o assunto. Para o coordenador de Proteção das Terras Indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai), Wagner Tramm, é necessário definir uma política oficial para o tema quanto antes. “O turismo já está acontecendo e totalmente sem normatização”, afirma Tramm.
Esta não é a primeira vez que os próprios índios procuram o governo na tentativa de viabilizar projetos numa área considerada extremamente delicada por muitos pesquisadores. Projetos de ecoturismo em reservas indígenas vêm sendo discutidos desde 1996 pela Funai, mas até hoje não foi definida uma regulamentação para a atividade. Segundo Tramm, existe uma forte demanda das comunidades para esclarecer o assunto. “Não podemos generalizar, tudo depende também do grau de isolamento das sociedades. Mas o ecoturismo pode ser uma melhor alternativa econômica e de resgate cultural”, explica o coordenador da Funai.
Para ele, receber visitantes pode evitar que várias etnias procurem outras formas de renda mais predatórias, como a exploração de madeiras por exemplo. Esta também pode ser uma maneira de estimular a preservação de costumes hoje ameaçados pela integração com o não-índio. Mesmo assim, Tramm reconhece que este tipo de iniciativa precisa ser muito bem estudada por envolver uma série de ameaças para o cotidiano das aldeias.
Uma experiência do gênero foi iniciada no Parque Indígena do Xingu há pouco mais de um ano. A comunidade Kamayurá, da parte sul da reserva, se aliou a um grupo hoteleiro estrangeiro para fazer turismo na aldeia. Ao lado das ocas, foi construído um alojamento para os visitantes, a maior parte norte-americanos, que pagariam U$ 100,00 por diária. A experiência ia ser usada pela Funai como um projeto piloto. A Funai chegou a organizar várias discussões entre as 16 etnias que habitam o Parque, mas a idéia foi repelida pelas demais comunidades.
Na época, o cacique Aritana – uma das lideranças mais importantes da região – foi totalmente contra a proposta. Segundo ele, todo mundo que aceita turista se arrepende. Assim como o cacique, muitos especialistas são radicalmente contra o turismo de sociedades humanas. A atividade introduz uma série de elementos na sociedade que tendem à “artificialização” do modo de vida tradicional. “Recebemos propostas quase todo dia. Recusamos porque não queremos nem precisamos do dinheiro de branco para viver bem aqui”, disse o cacique.
Atualmente, uma nova experiência está sendo realizada na comunidade Pataxó de Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália, na Bahia. O projeto existe há quatro anos e, segundo a Funai, vem apresentando resultados positivos. A fundação pretende utilizar a iniciativa como base para análises, visando à regulamentação da atividade de ecoturismo. Além disso, a instituição deve formar um grupo de estudo para deliberar sobre a questão.
Os projetos futuros também devem envolver outras unidades do governo federal. O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (Proecotur), já participou de discussões e mostrou-se interessado. Na conversa com as lideranças indígenas o ministro do Turismo e Esporte, Caio de Carvalho, mostrou-se preocupado, mas disposto a apoiar trabalhos na área. “Não basta um projeto, é necessário todo um plano estratégico para que não se interfira na vida da aldeia”, afirma Carvalho.
Os ministérios esperam uma definição da Funai para investir mais no assunto.
Fernando Zarur