Professora da UFJF desenvolve Atlas da Habitação Indígena no Brasil

UFJF – A professora do curso de Arquitetura da UFJF, Cristina Sá, desenvolve o projeto Atlas da Habitação Indígena no Brasil que, a partir de um levantamento e de trabalhos de documentação, vai mapear a arquitetura desses povos. Cristina realiza um trabalho de pesquisa sobre a arquitetura vernáculo (do povo) desde 1976, quando deu início aos seus estudos de mestrado e doutorado pela USP. Ela abordou aldeias de pescadores e indígenas. Neste último caso, tratava-se, para a época, de um estudo inédito no país. Esse pioneirismo levou Cristina a participar do CYTED – HABYTED – Rede XIV-E (Vivienda Rural), um grupo latino-americano que com a ajuda financeira da Espanha e dos países membros está desenvolvendo um amplo estudo sobre a habitação rural na América Latina.

O mapeamento não é um trabalho fácil: mesmo após a dizimação que se iniciou com a colonização portuguesa, ainda há no Brasil 350 mil índios, divididos em 250 povos (além daqueles que ainda não entraram em contato com a civilização), falando 170 línguas e dialetos diferentes. Para isso, recorrer a estudos anteriores, livros e demais publicações é apenas uma parte da pesquisa. O trabalho de campo também já vem sendo feito. Em 2001, Cristina visitou aldeias guaranis do Estado do Rio de Janeiro, na região de Parati e Angra dos Reis.

O trabalho que começou em 2000 e vai até 2004 quer, nas palavras de Cristina Sá, “analisar as relações entre cultura e arquitetura aonde não tem arquitetos”. A pesquisa consegue verificar as diferenças no modo de construção e disponibilização das casas nos diferentes povos, além das alterações sofridas quando a comunidade indígena entra em contato com outros povos.

A ilusão de que o sistema de habitação é igual entre as tribos é desmentida pelos estudos de Cristina. “Povos do mesmo tronco lingüístico geralmente possuem semelhanças na forma de habitação. Porém, a cultura, a adaptação ao meio ambiente, a economia, organização social e familiar, língua e até o próprio material disponível para fabricação das casas determinam como essas sociedades se expressam no espaço”, comenta a pesquisadora.

Os resultados parciais dessas pesquisas estão sendo divulgados em congressos. No ano passado, Cristina esteve no Canadá, em um evento organizado pela Unesco. Ainda nesta semana, a professora embarca para o Chile para o encontro anual da Vivienda Rural, para um balanço deste último ano. De 2000 para cá, ela já divulgou cerca de 10 artigos em periódicos nacionais e internacionais. Pesquisando o assunto desde 1976, Cristina ressalta a importância de estudar a arquitetura vernáculo. “De 20 anos para cá, muitos tipos de habitação já desapareceram. Nos próximos 20, muita coisa também vai mudar”, lamenta.

Mas a pesquisadora comemora alguns resultados do projeto. Em 2001, durante sua visita às aldeias guaranis, juntamente com os alunos bolsistas, a FUNAI encomendou a elaboração de um projeto arquitetônico de uma escola e de duas casas de alimentação para crianças desnutridas. Baseados nas formas atuais de habitação daqueles índios, com os mesmos materiais (barro, palha, madeiras), alunos e professora desenvolveram maquetes que foram apresentadas aos índios que, após discussões, solicitaram algumas modificações.

Cristina Sá retorna ao Brasil em duas semanas. Mais informações pelo telefone (32) 3229-3403 ou pelo e-mail: costaesa@arquitetura.ufjf.br.

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