Especialistas querem evitar a morte de onças por proprietários rurais no Nordeste

Ibama – O Centro Nacional de Pesquisas para Conservação dos Predadores Naturais-Cenap realiza entre os dias 4 e 8 de novembro, em Pernambuco, um treinamento com servidores do Ibama, oficiais da Polícia Florestal Ambiental e colaboradores de outras instituições com o objetivo de torná-los capazes de orientar os fazendeiros nos casos de ataques de onças contra rebanhos domésticos (bovinos e cabras) na região Nordeste. O treinamento do Cenap será no Cepene/Ibama, localizado à rua Dr. Samuel Hadmam s/n – Tamandaré – PE – Fone 81 3676 1109/ 1310.

Apesar de raros, os ataques quase sempre resultam em perseguições mortais às onças por parte dos fazendeiros que têm seus animais abatidos. Tal atitude, além de não resolver o problema, cria outro ainda mais grave. A matança leva as onças cada vez mais para a beira a extinção. Animais representantes do topo da cadeia alimentar, as onças regulam a quantidade de presas e de outros carnívoros na região onde vivem, sendo responsáveis pelo equilíbrio ambiental. Se elas desaparecerem do ecossistema, toda a cadeia alimentar sofrerá as conseqüências.

“O mais importante neste momento é definir uma estratégia de ação específica para o Nordeste, região cujas peculiaridades são um desafio para os pesquisadores”, afirma José de Anchieta dos Santos, diretor de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama. Segundo ele, além de possuir uma realidade sócio-econômica diferente de outras regiões do país – onde já existe uma metodologia definida para o trabalho com os predadores, – verifica-se no Nordeste um modo peculiar de manejo do gado caracterizado pela criação extensiva. Essa característica da pecuária regional faz com que as formas já conhecidas de prevenção contra os ataques de onças não sejam tão eficazes.

“Teremos que estabelecer uma forma de trabalho completamente nova para a região, de modo que o gado seja protegido e as onças possam continuar vivas”, diz o biólogo Rogério Cunha de Paula, coordenador do Cenap. Outro aspecto que será levando em consideração é o tráfico de animais silvestres no Nordeste. Ao retirar animais das matas, os traficantes deixam as onças sem condições naturais de subsistência, forçando-as a procurar suas presas nos rebanhos domesticados. No Nordeste, um animal doméstico pode significar o sustento da família ao longo de vários anos. “Se faltar alimento para as onças no meio selvagem, elas vão procurar comida próximo às comunidades humanas”, diz Rogério.

Segundo ele, as duas espécies de onças brasileiras – onça-pintada Panthera onca) e onça-parda ou sussuarana (Puma concolor) – podem ser encontradas no Nordeste. A onça-pintada tem hábitos extremamente arredios. Os casos de ataques de onças a regiões onde há a presença de comunidades são mais comuns com a onça-parda. Mesmo assim, a predação geralmente acontece contra animais que se desgarram do grupo e procuram pastagens em locais distantes, tornando-se presas fáceis.

Mitos e verdades

De acordo com Rogério de Paula, há mais mitos do que verdades cientificamente conhecidas por parte da população em relação às onças. Primeiro, é preciso ficar claro que as onças só atacam os rebanhos domésticos quando os alimentos se tornam escassos nas matas. As onças não atacam os animais domésticos porque são ferozes ou más. “Elas só querem sobreviver”, explica o biólogo. “O maior inimigo do homem é o mito da onça malvada”, diz ele. Ataques a humanos são ainda mais raros. Somente um caso foi registrado no Brasil, no fim da década de 90, em Carajás, no Pará.

Mais informações: Jaime Gesisky – (jornalista) 61 9976 1596 – Rogério C. de Paula (biólogo/Cenap) 11 – 99962204

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