ISA – Desrespeito às autoridades indígenas locais, não cumprimento de regras, invasão de brancos, entrada de bebidas alcoólicas são alguns dos problemas apontados em carta enviada à diretoria da Foirn por líderes indígenas da comunidade de Vila S. José Mormes, no extremo sudoeste da Terra Indígena Alto Rio Negro
Na carta entregue por portador na sede da Foirn, em São Gabriel da Cachoeira (AM), em 18/11/02, as lideranças indígenas da comunidade Vila S. José Mormes, situada no chamado Garimpo Tukano, nas proximidades da Serra do Traíra, pedem providências para resolver problemas que afligem os moradores: entrada de bebidas alcoólicas, conflitos, desrespeito às autoridades indígenas locais, não cumprimento de regras e invasão de brancos. O capitão da comunidade, Paulo Cristiano Peixoto Veiga e o vice Roberto Ferreira Marcondes, signatários da carta, convidam a Foirn para visitar a região, no extremo sudoeste da TI Alto Rio Negro.?O portador da carta, Agostinho Peixoto, que chegou à São Gabriel da Cachoeira vindo diretamente de Vila Mormes, onde reside, deu mais informações sobre o que está ocorrendo nesse local remoto. Para sair da Vila Mormes e chegar a São Gabriel, ele caminhou dois dias até a comunidade denominada Duhutura. Daí seguiu com motor rabeta até a comunidade S. Luiz, onde conseguiu pegar o barco de linha Dohétiro, que faz a ligação entre Pari-Cachoeira e a sede do município.
Segundo ele, em Vila Mormes residem 35 moradores indígenas, incluindo algumas famílias e grande número de homens solteiros, a maioria deles pertencentes às etnias Desana e Tuyuka, oriundos do alto Tiquié.
Além dos indígenas, vivem na comunidade cerca de 50 não-indígenas – brasileiros e colombianos – envolvidos na extração ilegal de ouro. Essa comunidade é abastecida por sete cantineiros – brasileiros e colombianos – que trazem mercadorias e combustível da Vila Bittencourt, ao sul, e de La Pedrera e Garimpito, na Colômbia, locais onde a produção de ouro é comercializada. O preço do grama varia entre R$ 19,00 e R$ 23,00.
O ouro vem sendo produzido em pequenas quantidades, com o uso de moto-bombas e “moinhos”, que tratam de separar o metal da rocha e do cascalho, com auxílio de dinamites e mercúrio.
A comunidade segue isolada, sem comunicação por radiofonia. Uma equipe Foirn/ISA visitou a comunidade em 1995 e voltou em 1997, durante os trabalhos de demarcação. Em seguida, a Foirn lá instalou equipamentos de radiofonia. Porém, devido a dificuldades de acesso não manteve mais contato. A comunidade recebeu a visita de um helicóptero do Exército em janeiro de 2002, que deixou medicamentos e facilitou uma ação de cobertura vacinal da Funasa )(Fundação Nacional de Saúde). O prefeito do município de Japurá está prometendo construir uma escola no local em 2003. Um pastor evangélico de Vila Bittencourt costuma visitar a comunidade.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) de S. Gabriel, em conjunto com a Foirn, está planejando uma visita ao local nos próximos dias, aproveitando que a Funasa deverá realizar uma operação de vacinação com apoio de um helicóptero. A partir dos dados obtidos nessa visita, seria possível planejar melhor uma operação de retirada dos invasores, com apoio da Polícia Federal sem cometer as injustiças e brutalidades ocorridas no passado com moradores indígenas em situações semelhantes.
Beto Ricardo