Caverna no Alto Xingu receberá certificação etno-cultural

Estação Vida – O Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural Nacional – Iphan fará, ainda este mês, a certificação da primeira caverna brasileira como patrimônio cultural brasileiro de importância etno-cultural. A caverna chama-se Kamukuaká, a 300 Km de Paranatinga [MT], próxima ao Parque Nacional do Xingu, situada dentro da Fazenda Reunidas, no Distrito Salto da Alegria. O sítio arqueológico pertence ao povo Waurá, do Alto Xingu. Na sua mitologia, a caverna é morada dos espíritos Waurá e dali surgiu o ritual da furação de orelhas, comum nos povos do Xingu.

Pelos levantamentos já realizados na caverna Kamukuaká pelo Centro Nacional de Estudos, Proteção e Manejo de Cavernas – Cecav, ligado ao Ibama, a caverna tem grande importância para a preservação da cultura dos Waurá e deve ser considerada patrimônio da União. Pesquisadores do Cecav e arqueólogos do Iphan em duas expedições à caverna identificaram e mapearam grafismos nos utensílios dos Waurá que estão nas rochas da caverna e reproduzidas pelos corpos dos índios.

As comunidades indígenas também estão envolvidas no processo de certificação da caverna, pois no ano passado solicitaram ajuda da Funai para dar proteção à caverna .O problema é que a caverna ficou fora da demarcação do Parque Nacional do Xingu e há mais de 30 anos a região foi ocupada pela pecuária provocando desmatamentos . Com a parceria da Funai, Ibama e Iphan, comunidade indígena, a caverna será patrimônio da União e em seguida deverá ser uma unidade de conservação criada por decreto pelo Ministério do Meio Ambiente como Monumento Natural.

A caverna Kamukuaká é uma abertura misteriosa ao lago de uma grande cachoeira no rio Batovi como uma boca aberta no solo que ficava escondida pela mata. Para os Waurá, Kamukuaká é um espírito, que surgiu muito antes do mundo existir e da criação dos homens. Foi um grande chefe que enfrentou a ira de Kãma, o sol, que tomou a forma de gente e morava num buraco situado no rio Batovi, na margem oposta do lugar onde fica a caverna. A história relata que Kãma, com inveja da beleza e força de Kamukuaká, decidiu acabar com ele flechando suas orelhas e dos outros índios. Depois disso o líder foi levado para a caverna onde ficou por duas semanas com seu povo. Kãma resolveu prender a todos e ordenou que periquitos o comessem. Kamukuaká deu comida aos pássaros e pediu que eles abrissem um buraco. Logo depois o chefe e seu povo conseguiu se libertar por esta abertura.

Etnoespeologia estuda várias cavernas em Mato Grosso

O coordenador do Cecav/MT, José Guilherme Aires Lima , especialista em cavernas do Ibama explica que a etnoespeologia [estuda a importância das cavernas para a história das etnias] tem em Mato Grosso inúmeros casos que ainda fazem parte da cultura indígena e passam para as futuras gerações. “São vários casos em Mato Grosso que estamos avaliando com a Funai . O importante é que se trata de uma tradição oral viva e rara de se encontrar pelo Brasil”, diz José Guilherme. A maioria das cavernas é ligada a mitos dos povos indígenas, tais como entidades espirituais, origem dos povos, passagem espiritual, cemitérios e até para caçadas onde o morcego é o prato principal. Essas cavernas pertencem aos povos: Xavante [Cocalinho/Rio das Mortes], Bororo [Vale do São Lourenço], Nambiquara [Vale do Guaporé], Parecis [Chapada dos Parecis], Bakairi [Baixo Teles Pires], Chiquitanos [divisa de MT com a Bolívia], Guatós [divisa de MT com Mato Grosso do Sul], Kaiabí [entre os rios Juruena e Teles Pires] e Rikbatsa [rio Juruena].

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