ISA – A comunidade quilombola de Ivaporunduva, situada na região do Vale do Ribeira (SP), consolidou a primeira fase de seu programa de certificação orgânica de banana. Inicialmente, 27 produtores obtiveram o certificado do Instituto Biodinâmico (IBD) já que atenderam integralmente as normas e padrões de produção agrícola exigidos para a certificação. O processo junto ao IBD, sociedade sem fins lucrativos credenciada pelo Programa de Credenciamento da IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements), movimento internacional em prol da agricultura orgânica, levou um ano. Outros 12 produtores do quilombo encontram-se em processo de análise, devendo conseguir o certificado em breve.
A iniciativa faz parte do projeto “Gestão Ambiental Participativa e Desenvolvimento Econômico do Quilombo de Ivaporunduva”, desenvolvido pela associação quilombola em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e com o apoio financeiro do Subprograma Projetos Demonstrativos PD/A do Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7).
A agregação de valor à produção de banana da comunidade, principal fonte de geração de renda das famílias quilombolas, é um dos componentes do projeto. A certificação orgânica vem se somar a valores étnicos e ambientais já agregados ao produto e à infra-estrutura básica viabilizada pelo projeto. Isso possibilitará a eliminação de intermediários e a inserção da produção em mercados diferenciais, permitindo a obtenção de melhores preços e maiores rendimentos econômicos para os produtores.
Neste sentido, a comunidade trabalhou também a criação de uma identidade visual e de logomarcas para os produtos do projeto, que incluem, além da banana, o artesanato da palha de bananeira. Isso foi possível graças ao apoio voluntário da empresa de publicidade Art Urb, responsável pela criação das imagens com a comunidade.
Os quilombos do Vale do Ribeira
O Vale do Ribeira, região que abriga a maior área contínua de Mata Atlântica do Brasil, concentra o maior número de comunidades remanescentes de quilombos do Estado de São Paulo. Isso decorre, em parte, da mineração, que em meados do século XVIII, predominou na região. Com a abolição da escravatura, os escravos permaneceram na área como lavradores, ocupando as terras e desenvolvendo a agricultura de subsistência.
Ao lado dos significativos recursos naturais e da diversidade biológica local, as comunidades quilombolas fazem do Vale do Ribeira um dos mais ricos patrimônios cultural, histórico e ambiental do país
Em Ivaporunduva, considerada a comunidade mais antiga do Vale do Ribeira, vivem 70 famílias. Recentemente, ao conquistar o título de reconhecimento de domínio de seu território, tornou-se a primeira comunidade quilombola do Estado de São Paulo a conseguir a propriedade definitiva de suas terras, após uma luta de doze anos iniciada com a promulgação da Constituição Federal de 1988. As ações e iniciativas da comunidade estão voltadas à melhoria da qualidade de vida das famílias que ali habitam e à conservação ambiental do Vale do Ribeira.
Fabio Graf