Agência Brasil – O cerrado é a “estrela” do V Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), que começou ontem e vai até domingo (15), na cidade de Goiás (GO). Prova disso é a Feira do Cerrado, montada no centro da cidade, que oferece produtos e informações sobre o ecossistema mais ameaçado do país. Os participantes do festival poderão conhecer plantas medicinais, artesanato com fibras vegetais nativas, tecelagem, culinária típica e até animais silvestres, expostos em 18 estandes, que mostram também as pesquisas e os programas ambientais desenvolvidos no cerrado.
Sete estados estão representados na mostra: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia, Minas, Maranhão e Goiás. O baru, fruto típico de Pirenópolis (GO), que vem sendo utilizado na indústria de cosméticos, e o capim dourado, que gera emprego para os artesãos de Jalapão (TO), são algumas das preciosidades desse ecossistema. Com clima tropical semi-úmido e uma vegetação que vai de campestres abertos a matas fechadas, o cerrado é considerado o ponto de equilíbrio de todos os ecossistemas brasileiros. A diversidade da fauna, a segunda mundialmente, só é superada pela africana.
É esta natureza rica que o festival quer ressaltar. O que conta não é o dinheiro das super-produções ou o aspecto artístico da linguagem, mas a temática e a importância do assunto tratado. Quem rouba a cena é mesmo o meio ambiente. “Se o centro da crise mundial é a escassez de recursos naturais, é aqui no Brasil que poderá haver soluções”, ressalta o cineasta e presidente do júri, Washington Novaes.
A natureza, sempre bonita de se ver e de viver, quando mal-tratada, não perdoa. Até hoje, a cidade de Goiás se recupera de uma enchente do Rio Vermelho, que atravessa a cidade antes de desaguar no Araguaia. No dia 31 de dezembro de 2001, o rio transbordou depois de uma forte chuva, derrubando casas e lojas, estragando as ruas e carregando móveis e eletrodomésticos. Ninguém ficou ferido, mas a arquitetura histórica da cidade foi toda destruída.
Depois de pouco mais de um ano, a imagem é outra. Investimentos de R$ 5 milhões garantiram recuperar pontos turísticos como a casa de Cora Coralina, construída por volta de 1770, transformada em museu depois da morte da poetisa. “Cora Coralina foi uma mulher que não desistiu de seus sonhos e, quando a gente não desiste de dar o melhor de nós, a gente faz a diferença”, lembra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Dias antes da forte chuva, no dia 13 de dezembro, a cidade foi tombada pela Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade. O Rio Araguaia, as cidades de Caldas Novas e Rio Quente são algumas das principais atrações do turismo ecológico de Goiás. Os parques nacionais da Chapada dos Veadeiros, da Terra, de Goiânia e Serra de Caldas são algumas das reservas naturais conservadas, consideradas exemplos para o restante dos brasileiros, “que falam muito e agem pouco”, segundo a ministra Marina Silva. Ela participou da abertura do V FICA e trouxe à cidade de Goiás (GO) um pouco do otimismo e dos sonhos do novo governo.
Em seu discurso, a ministra disse que as pessoas não fazem uma ponte entre as intenções e as ações. “Não agimos como pensamos ou sentimos. É engraçado, tem pessoas que me parabenizam pela preservação da Amazônia, mas me pedem para liberar os pneus usados”.
Marina aproveitou também para dar um puxão de orelhas em todos que apenas falam. “A gente defende a preservação do meio ambiente do outro, mas não temos cuidado com a nossa torneira que fica pingando ou com a luz acesa sem ter ninguém na sala”.
Para ela, a arte imortaliza as belezas, mas também as tragédias. “A imagem pode educar as novas gerações e nos dar oportunidade de ver as belezas da natureza”. Para Marina Silva o brasileiro tem hoje bastante consciência da necessidade da preservação ambiental, o que falta é justamente a ação. “Nós já temos a consciência, o que precisamos é transformar isso em atitude”.
FICA 2003
O FICA teve sua primeira edição em 1999 e reuniu 17 países com 154 produções inscritas, 34 selecionadas e um público de 50 mil pessoas. Agora, nesta quinta edição foram 300 inscrições de cinqüenta países, tendo o Festival selecionado 28 obras de treze países. São seis longas, nove médias, onze curtas-metragens e duas séries de TV que concorrem a R$ 250,00 em prêmios.
O júri é presidido pelo cineasta Washington Novaes, produtor das séries “Xingu”, “Kuarup” e “Os Caminhos da sobrevivência”. A equipe julgadora conta ainda com o crítico de cinema, Lauro Antônio Leitão (Portugal); o coordenador do Núcleo de Documentários da TV Cultura, Mario Borgneth; o estudioso de cinema e autor dos livros “Sertão Mar” e “Alegorias do Subdesenvolvimento”, Ismael Xavier; a membro da Associação Cultural Kinoforum, Zita Carvalhosa; o documentarista e roteirista Henri Gervaiseau, e o diretor Rigoberto Lopes (cuba).
Além dos filmes, exposições e da Feira, vários seminários e oficinas poderão ser apreciados. Entre eles, “Roteiro e Direção” com Beto Brant, “Direção” com Walter Lima Jr. e “Elementos da Linguagem Cinematográfica” com Rosa Berardo. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, participará da cerimônia de premiação, no sábado, e fará o show de encerramento do Festival, Kaya N’Gandaya, no domingo à noite.
Alessandra Bastos