ISA – Enquanto a mídia brasileira está preocupada com a indicação de um nome para a presidência do Banco Central, o presidente Lula anunciou hoje, no National Press Club, em Washington(EUA),que a senadora Marina Silva (PT-Acre) será a ministra do Meio Ambiente e Antonio Palocci, o coordenador do governo de transição, ocupará a pasta da Fazenda. Lula falou à imprensa depois de ter se reunido com o presidente norte-americano George W. Bush.
A indicação da acreana Marina Silva é, sem dúvida, uma excelente notícia para o movimento ambientalista brasileiro. Afinal, ela tem uma longa trajetória de atuação em defesa da conservação, preservação e da sociodiversidade do país. Ex-seringueira, companheira de luta de Chico Mendes, assassinado em 1988, Marina Silva, 44 anos, é uma incansável batalhadora pelo desenvolvimento de modelos de sustentabilidade econômica e social. Eleita no final de 1994, aos 38 anos, foi a senadora mais jovem da história da República. Reeleita este ano para mais um mandato, sua atuação concentra-se nas áreas de Direitos Humanos, Cidadania, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Entre seus projetos de lei mais importantes destacam-se o PL nº 306/1995 de Acesso a Recursos Genéticos e o PL nº 116/1999 de Moratória de 5 anos para os transgênicos.
“O primeiro sinal que eu dei a todo o mundo de que a Amazônia será tratada diferentemente no meu governo foi que escolhi uma companheira que a imprensa brasileira já cansou de citar o nome. Mas certamente a companheira Marina, com quem vou conversar nesses dias, vai tomar conta da política ambiental no meu governo”, disse Lula.
“Estou convicto de que ela vai promover uma política de desenvolvimento sustentado para a Amazônia, que combina ao mesmo tempo a necessidade de preservação ambiental com a criação de empregos para as mais de 20 milhões de pessoas que moram na região. Precisamos entender que a maior riqueza da Amazônia, que é a sua biodiversidade, é a grande fonte de riqueza para o povo que mora na região”.
Valorização do Meio Ambiente
No início de novembro, 140 organizações ambientalistas, com o apoio de políticos, cientistas, pesquisadores, professores e representantes do setor empresarial enviaram carta ao presidente eleito Lula defendendo a nomeação da senadora como forma de valorizar um Ministério que tem sido pouco reconhecido e não raro desvalorizado.
“O fato de Lula indicar uma pessoa comprometida de forma inequívoca e de ser um dos primeiros ministérios a ser anunciado, quebra uma tradição”, diz João Paulo Capobianco, um dos coordenadores do Instituto Socioambiental (ISA). “O Ministério do Meio Ambiente era um dos últimos a serem anunciados e sempre foi motivo de negociações entre os partidos. É um sinal de mudança, de que a questão ambiental passa a ter uma nova inserção na estrutura de governo”.
Diante da perspectiva de novos tempos para o ambientalismo, vale lembrar uma das epigrafes que inspiraram a fundação do ISA, em 1994, de autoria do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, também sócio-fundador do instituto: “Devastamos mais da metade de nosso país pensando que era preciso deixar a Natureza para entrar na História: mas eis que esta última, com sua costumeira predileção pela ironia, exige-nos agora como passaporte justamente a Natureza”.