Agência Brasil – O conhecimento tradicional sobre as plantas poderá virar parte da política federal de saúde. A idéia é ajudar o país a diminuir um déficit de R$ 3,5 bilhões na balança comercial gerado com a importação de medicamentos industrializados.
Representantes de organizações do terceiro setor, dos governos municipais, estaduais e federal se reuniram na semana passada, em Brasília, para definir recomendações que serão enviadas ao Conselho Nacional de Saúde. O objetivo é incorporar o uso de plantas medicinais e de fitoterápicos à Política Nacional de Saúde.
A inserção de tratamentos e terapias com as plantas medicinais e os fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) pode gerar medicamentos mais baratos, seguros e eficazes, segundo o diretor de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, Norberto Rech. Na sua opinião, outros ganhos seriam o fomento à transmissão do conhecimento tradicional incorporado ao uso das plantas medicinais e a utilização da biodiversidade.
De acordo com Rech, o encontro foi um passo histórico. Além de reunir cerca de 300 pessoas da área, gerou consenso em pontos importantes e a ajudou a dimiuir a separação entre o conhecimento tradicional e o conhecimento científico. “É possível aproximar os dois lados”, afirmou.
Atualmente, das 500 indústrias farmacêuticas nacionais, 134 produzem fitoterápicos. O setor movimento no Brasil US$ 400 milhões, num mercado de US$ 7 bilhões. Para Rech, esta é uma área estratégica que poderá ajudar no saldo da balança comercial brasileira. Hoje, o setor farmacêutico registra déficit de R$ 3,5 bilhões. Outra vantagem seria melhorar a utilização da biodiversidade brasileira. De acordo com Rech, atualmente 84% das plantas que usamos para consumo direto são de origem européia.
O documento final aprovado no encontro faz uma série de sugestões. Uma delas é a inclusão da Política de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no âmbito da assistência farmacêutica, inserida na Política Nacional de Saúde. Sugere ainda fomento a estudos de avaliação econômica para identificar o custo-benefício e o custo-utilidade dos produtos. Os pesquisadores querem também a criação de Fundos Setoriais de Pesquisa de matéria-prima e produção de medicamentos a partir de plantas medicinais. E, para garantir a qualidade dos produtos, seria fundamental a implementação de centrais de matéria-prima. Os representantes dos diversos setores também pedem a realização de estudos específicos para avaliação dos riscos de utilização de medicamentos fitoterápicos obtidos por meio de processos biotecnológicos ou organismos geneticamente modificados.
Durante o Seminário, os participantes aprovaram moções para a definição de procedimentos de inclusão de raizeiros e parteiras no processo de atenção à saúde nas comunidades. Também foi aprovada uma moção de repúdio às ações contra a biodiversidade brasileira, como a biopirataria, o desmatamento irresponsável e as queimadas.
O documento aprovado durante o evento será discutido na Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica, marcada para 15 de setembro.
Com informações de Cristina Guimarães