Agência Brasil – Os Waimiri Atroari, povo indígena que vive entre o norte do Amazonas e o sul de Roraima, estão em festa. Eles comemoraram, nesta semana, o nascimento do milésimo índio da etnia. Todos os moradores da reserva dos Waimiri Atroari compareceram à aldeia Iawara para participar do Maryba (pronuncia-se “marubá”), um ritual onde os índios cantam e dançam durante três dias.
O milésimo Kinja (pronuncia-se “kinhá”), como os Waimiri Atroari se denominam, nasceu em setembro. O menino Iawyraky, filho de Anapidene e Ketamy, foi visto como um marco na recuperação dos Waimiri Atroari. “Agora, estou feliz porque nossa população tem um milésimo. Por isso, estamos todos em festa”, comemorou Wame, um dos líderes da aldeia Iawara.
Os Waimiri Atroari conheceram de perto o perigo de extinção da raça. Nos últimos 40 anos, eles sofreram o impacto de vários projetos do homem branco. Um deles foi a construção, em 1969, da rodovia BR-174, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR) e atravessa a reserva dos Waimiri Atroari em 125 quilômetros. Outro, foi a hidrelétrica de Balbina, finalizada em 1987 pela Eletronorte. Por conta desse empreendimento, 30 mil hectares da área indígena foram alagados. Esses fatores, somados aos confrontos dos índios com madeireiros e mineradores, fizeram com que a população dos Waimiri Atroari fosse reduzida a 374 indivíduos. A taxa de redução era de 20% ao ano.
Foi então que teve início o programa Waimiri Atroari, uma parceria da Eletronorte com a Fundação Nacional do Índio (Funai) idealizado pelo indigenista Porfírio Carvalho. Os índios receberam apoio para montar escolas, centros de saúde e desenvolver o artesanato e a agricultura.
De acordo com o presidente da Eletronorte, Silas Rondeau, o projeto ajudou a resgatar a auto-estima dos Waimiri Atroari. “Eu costumo dizer que nós estamos tratando da ressurreição do genoma brasilis. O programa é bem estruturado, baseado no compromisso de uma empresa que está identificada com a Amazônia e que tem uma dose muito grande de amor”, explicou
Escolas
Cada uma das 19 aldeias da reserva dos Waimiri Atroari possui uma escola. Os professores são os próprios índios. O jovem Mopyny, de 23 anos, dá aula na aldeia Alalaú. “Nós alfabetizamos na nossa língua, o kinja-iara. Quando os alunos conhecem todo o processo da língua materna, a gente passa para o português”, explicou o professor. Segundo ele, o kinja-iara é importante na transmissão da herança cultural dos Waimiri Atroari. Todos os índios da etnia falam o kinja-iara.
Outra grande preocupação dos índios é a preservação da reserva onde eles vivem. Para o líder Wame, preservar é preciso porque o meio ambiente é a fonte de toda a vida na aldeia. É da natureza que eles retiram o material para fazer o artesanato e o alimento que comem. Os Waimiri Atroari vivem principalmente da caça, da pesca e da agricultura.
Para o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, a volta por cima dos Waimiri Atroari é uma vitória para o Brasil. “O nascimento de novas crianças reflete o crescimento dos povos indígenas no Brasil. Isso é conseqüência do controle das grandes doenças, como a varíola e o sarampo. Além disso, a sociedade brasileira acolhe os povos indígenas de um modo mais positivo que no passado.” O crescimento médio atual dos Waimiri Atroari é de 6% ao ano.
Noéli Nobre