Agência Brasil – O Brasil tem em seu território entre 15% e 20% da biodiversidade do planeta e, ainda assim, tem apenas 4% destinado a áreas de proteção, menos do que os 5% da média mundial. Com base nesses dados, o professor do Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) e consultor de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Sabino, destaca a importância de utilizar o ecoturismo para conscientizar a população para a importância da natureza e da preservação.
Sabino e a professora de Fisiologia Animal na Uniderp, Luciana Paes de Andrade, expuseram o resultado de seus trabalhos na mesa-redonda Ecoturismo e Conservação da Biodiversidade, realizada hoje de manhã, na Universidade de Brasília (UnB), no XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, que vai até 6ª feira (13).
Sabino afirma que o ecoturismo é apontado como a principal forma para conseguir alcançar o desenvolvimento sustentável em regiões de turismo alternativo e permitir aproximação com o meio ambiente de forma diferente dos hábitos diários das pessoas. “Apesar de importante, essa atividade precisa ser planejada e responsável do ponto de vista ambiental”, destaca. Ele e Luciana trabalharam em Bonito (MS) por três anos, onde desenvolveram pesquisas sobre o impacto do turismo na natureza da região. O especialista aponta que só o Pantanal Mato-grossense recebe entre 500 mil a 600 mil turistas por ano.
Luciana mostrou aos presentes que nem sempre a atividade dos biólogos é bem vista. Contratada por uma empresa que trabalha com ecoturismo em Bonito (com cerca de 20 mil habitantes), ela concluiu que 200 visitantes por dia nos parques aquáticos da região causavam impacto muito grande no meio ambiente e sugeriu a redução para 160. Os donos não gostaram porque deixariam de ganhar R$ 4 mil diariamente. Resultado: “Fomos ameaçados e algumas pessoas na cidade passaram a nos olhar de modo diferente, achando que queríamos boicotar o turismo. A pior parte foi quando nossa casa foi atingida com tiros no meio da noite”.
Mesmo assim, os zoólogos não desistiram. Fizeram denúncia ambiental ao Ministério Público e se demitiram. Assim, voltaram à sede da Uniderp, em Campo Grande (MS). Depois da ação dos pesquisadores, Bonito ganhou um protocolo de monitoramento ambiental para ambientes aquáticos – modelo para outras regiões do país. Mesmo morando em Campo Grande, Luciana visita a cidade, pelo menos, uma vez por mês e ganhou reconhecimento e respeito da população e de parte do empresariado local.
Sabino ressalta que esse é um caso típico de necessidade de elaboração de códigos de conduta específicos para cada área que receberá o ecoturismo. “Cada região tem sua peculiaridade que precisa ser detalhadamente estudada para saber a capacidade de receber turistas. Senão, o patrimônio ambiental será destruído”, concordam.
Ecoturismo no Brasil
1994 – R$ 2,2 bilhões
1995 – R$ 3 bilhões
Previsão para 2005 – R$ 10,8 bilhões
Atividade no país foi 36% maior que a média mundial na década de 90
País tem potencial 20% maior que o mundial para o setor.
Ascom UnB