Ibama – Pela primeira vez no Brasil a indústria contará com parâmetros ideais da umidade e da temperatura do local onde a madeira será utilizada – essenciais para definir os processos de preservação e de secagem do produto e garantir qualidade às peças fabricadas em qualquer ponto do país.
A pesquisa realizada pelo Laboratório de Produtos Florestais do Ibama em parceria com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), representa um marco para um país continental e com clima tão variado, como o Brasil, e uma referência mundial para o setor madeireiro, disse o coordenador do trabalho, Varlone Alves Martins, Gerente de Pesquisas do LPF.
Essa definição é resultado do mapeamento inédito dos Teores de Umidade de Equilíbrio (TUE) e do Potencial de Ataque Fúngico (PAF) do Brasil. A pesquisa concluída recentemente pelo LPF/Ibama/Inmet escolheu o PAF como o melhor indicativo do risco de apodrecimento da madeira exposta às variadas condições climáticas do país.
Tais parâmetros serão de grande utilidade para as indústrias. Agora, elas tem como evitar a maioria dos defeitos que comprometem a qualidade e a durabilidade das peças: portas, janelas e gavetas que travam; frestas entre as tábuas de assoalhos, forros e lambris; tacos e peças que descolam; rachaduras; manchas; e, empenos em geral.
Para obter uma madeira saudável e evitar problemas antes, durante e principalmente após a industrialização, o estudo de climatologia aplicada ao processamento industrial recomenda que o teor de umidade do produto deve ser igual ou ligeiramente inferior ao da umidade de equilíbrio médio da região onde as peças serão utilizadas.
O pesquisador do LPF/Ibama assegurou que o uso desses parâmetros garantirá peças com menos defeitos causados pelas variações da dimensão da madeira industrializada sem a secagem e a preservação adequadas. Para evitar tais problemas, devem ser consideradas as condições de TUE, principalmente as médias anuais da região de destino do produto e de seus derivados. O objetivo, segundo Varlone, é obter uma perfomance melhor da madeira.
Dos catorze mapas produzidos durante o trabalho, um indica onde as madeiras brasileiras e seus derivados correm mais risco de apodrecer e orienta a indústria sobre o tratamento adequado do produto para evitar problemas futuros às peças prontas. Doze deles registraram a média de umidade de equilíbrio mensal da madeira, de 1931/60 e de 1961/90. Outro mapa aglutinou as médias anuais de TUE dos mesmos períodos.
Varlone explicou que o apodrecimento da madeira causado por fungos xilófagos ocorre especialmente onde o teor de umidade do produto se aproxima de trinta por cento e a temperatura situa-se entre 25oC a 30oC.
A pesquisa se baseou em dados meteorológicos (temperatura, umidade relativa do ar e precipitação) para concluir: com exceção do noroeste da Bahia e do sul do Piauí, a madeira e seus derivados utilizados no restante do país apresentam riscos potenciais de apodrecimento e precisam de secagem adequada.
O mapeamento aponta Belém do Pará e a região litorânea do nordeste brasileiro como as áreas onde as madeiras estão mais sujeitas a apodrecer. E recomenda que as peças produzidas com espécies desses locais tenham tratamentos especiais para evitar problemas se forem utilizadas em regiões com climas diferentes.
A região Norte e parte da região litorânea são as áreas com Teores de Umidade de Equilíbrio mais elevados do País (uma média 16 por cento a 18 por cento) e onde a madeira corre mais risco de apodrecer.As médias anuais de temperatura e dos dias de precipitação de chuvas nessas regiões geraram os mais elevados valores de ataques por fungos do País (uma variação de 170 por cento a 270 por cento), o que propicia a deteriorização biológica dos produtos e de seus derivados.
Valores menores de TUE, de 12 por cento a 14 por cento, foram encontrados em uma grande região do país onde as madeiras correm menos risco de apodrecer: do sudoeste do Rio Grande do Sul ao norte do Paraná e do Rio Grande do Norte, passando pelo centro-oeste de São Paulo, nordeste do Mato Grosso do Sul, oeste da Bahia, sul e leste de Tocantins e pelo estado de Goiás.
Só as madeiras utilizadas no polígono das secas do nordeste estão menos sujeitas ao ataque de fungos e, em conseqüência, de apodrecer. Nessa região são mínimos os valores de PAF e de TUE: situam-se abaixo de 20 por cento e de 10 por cento, respectivamente.
Já a madeira usada no centro-oeste e no centro-sul do Maranhão corre risco moderado de ser atacada por fungos devido às condições climáticas instáveis durante todo o ano. O trabalho completo pode ser encontrado na Revista Científica do Ibama “Brasil Florestal” ano XXII, nº 76, de abril de 2003.