CIR – A Polícia Federal está preparando plano de segurança para o estado de Roraima “para não ser surpreendida” quando for assinado o decreto de homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol pelo presidente da República. A informação foi prestada pelo delegado Osmar Tavares de Melo, durante o sexto intercâmbio promovido pelo movimento “Nós Existimos”, que reúne organizações representativas dos povos indígenas, trabalhadores rurais e urbanos de Roraima. O evento foi realizado no último domingo, 14/03, na aldeia Jacamin, localizada a 170 quilômetros da Capital, Boa Vista.
“Pelo conjunto de medidas que virão com esse decreto presidencial, do ponto de vista da segurança pública e da ótica policial, não consigo ver que a homologação será pacífica”, observou Osmar Tavares. “Estamos elaborando um plano de ação para que a homologação aconteça como deseja o governo federal e o senhor Ministro da Justiça: de forma ordeira, pacífica e tranqüila”, acrescentou. Nos próximos dias ele irá à Brasília levando um diagnóstico da situação atual, em vista dos acontecimentos do início deste ano.
No dia 06 de janeiro passado, um dos grandes rizicultores do estado, Paulo César Quartiero, comandou um grupo de pessoas, entre as quais indígenas não alinhados com a política do CIR – Conselho Indígena de Roraima, no seqüestro de três missionários de Surumu e no fechamento, por mais de uma semana, das principais vias de acesso a Roraima, como protesto pelo anúncio da homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol feita pelo ministro Márcio Thomas Bastos em dezembro passado.
O clima, em alguns lugares da terra indígena, continua tenso. No final da semana passada, a casa do tuxaua da maloca Barro, na vila de Surumu foi arrombada. Vários pertences foram furtados e sua televisão, quebrada. Entre os indígenas correm rumores de que fazendeiros e rizicultores estão tramando nova invasão à sede da missão Surumu, desta vez com intenção de destruírem o prédio. Os indígenas estão particularmente preocupados com a festa prevista para acontecer no próximo dia 19.
Ameaças e invasões
Durante mais de uma hora, o delegado Osmar Tavares, ouviu denúncias de indígenas, trabalhadores rurais e sindicalistas de Boa Vista. Na ocasião, ele estava acompanhado pelos também delegados Fabíola Provesan e Eduardo Alexandre Fontes, do Serviço de Repressão a Crimes Contra os Indígenas, recentemente criado. Dirigentes de sindicatos de trabalhadores rurais denunciaram invasões aos assentamentos e terras indígenas.
O presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Iracema, Abílio Dias Peixoto, chamou a atenção para a ação de fazendeiros que estão tomando as terras dos pequenos produtores, ameaçando-os de morte e impedindo a passagem deles para suas casas. “Já estamos chegando ao absurdo. Se não houver providências por parte das autoridades, fatos que nunca aconteceram neste Estado poderão acontecer. Vamos ter problemas como os ocorridos no sul do Pará, porque jamais ninguém vai suportar ser violentado”, alertou Abílio.
O delegado Osmar Tavares assegurou que a Polícia Federal tem todo interesse em agir para evitar conflitos. Ele deverá ficar em Roraima pelo menos nos próximos dois anos e garantiu que o órgão irá definir prioridades para agir.
J. Rosha
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