INPA – O seminário Amazônia, que é realizado semanalmente pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), vai apresentar no dia 4 de maio, às 16 horas, uma discussão sobre o projeto Terra Preta de Índio com o pesquisador do Instituto, Newton Falcão, engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia (área de concentração de solos e nutrição de plantas), que integra o projeto de Pesquisa Institucional Pedologia, Fertilidade e Biologia de Solos Antropogênicos, junto a uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Inpa, Embrapa, Ufam, USP, UF (USA).
Ao abordar o tema Terra Preta de Índio no seminário, Newton Falcão traz à tona um dos mais importantes debates sobre a origem dos solos amazônicos, cujas primeiras teorias apontaram para a sua formação a partir de antigos depósitos de cinzas vulcânicas, material orgânico acumulado em lagos passados, ou pequenos pontos de lagoas; e para as cerâmicas encontradas nesses solos, deixadas por índios atraídos pela elevada fertilidade natural dessas terras.
Segundo o pesquisador, a teoria mais aceita é a de que esses solos foram formados por meio de resíduos acumulados em torno das antigas áreas habitadas pelos índios. Essa teoria tem sido reforçada com base nas seguintes características: a textura da terra preta (TP) ou da terra mulata (TM) é muito semelhante a textura dos solos adjacentes; existe uma similaridade entre o subsolo subjacente à TP e a TM e o subsolo dos solos circunvizinhos as mesmas; ocorrência de terra preta em uma variedade de mesmo conjunto de paisagem; com presença de cerâmicas e fragmentos líticos e características químicas em geral associadas com habitação humana.
Em toda a Amazônia é possível encontrar manchas de solos de terra preta (TP) ou terra mulata (TM), caracterizada por um tipo de solo de terra firme, com uma camada superficial bastante espessa de coloração preta ou marrom escura, contendo pedaços de cerâmicas, sendo reconhecido como um solo com alta fertilidade.
Considerando que esses solos apresentam altos teores de carbono orgânico, cálcio, magnésio e fósforo, questiona-se: como os Ameríndios, conseguiram introduzir material com altos teores desses elementos importantes para fertilidade do solo e nutrição das plantas? Como explicar a precisa propriedade química coloidal da terra preta e da terra mulata? E, se essa estabilidade resultar das características mineralógicas desses solos orgânicos, envolvendo uma complexação cripto-cristalina com um mineral de argila predominante como a caulinita, por meio de ligações com o Ca e o P ou com compostos de cálcio e fosfatos ou somente com o carbono orgânico? Todas essas questões envolvem as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com a terra preta de índio.
O objetivo geral do projeto é caracterizar atributos biológicos, físicos, químicos e mineralógicos da terra preta de índio e de solos circunvizinhos, visando uma melhor compreensão dos fatores e processos de formação desses solos antropogênicos e posterior aplicação desses conhecimentos para a construção de um solo semelhante em pequenas propriedades rurais, introduzindo novas tecnologias de manejo da fertilidade dos solos e uma maior sustentabilidade da agricultura familiar.