O gelo no entorno da Antártica está diminuindo de forma rápida e brusca. A conclusão é dos resultados mais relevantes dos estudos e observações realizados pelos cientistas brasileiros no Programa Antártico (Proantar), projeto de pesquisas científicas que o Brasil desenvolve há 21 anos no continente gelado. Os estudos mais recentes do programa foram apresentadas, nos últimos três dias, no XI Seminário sobre Pesquisa Antártica, no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).
“Hoje, na província Antártica, que é a região onde o Brasil atua, está evidente que as geleiras estão recuando e que a massa de gelo acumulada na terra está diminuindo”, afirma o coordenador científico do Centro de Pesquisas Antárticas da USP, Antonio Carlos Rocha Campos, que esteve na base brasileira este ano.
O Brasil, desde 1982, conta com uma estação de pesquisas permanente no continente, a base Comandante Ferraz, localizada na baía do Almirantado, na Ilha Rei Jorge. A região onde está instalada permite uma visualização bastante nítida do recuo da camada de gelo. “Cabe agora perguntar, e essa é a grande questão que a comunidade internacional formula, se se trata de uma variabilidade natural do meio ambiente ou se isso foi induzido pelo homem, possivelmente associado a um processo de aquecimento global”, afirma o coordenador de glaciologia do projeto, Jefferson Cadia Simões.
Segundo ele, as conseqüências dessa diminuição da camada de gelo ainda não são totalmente conhecidas, mas podem influir no clima. Simões chama atenção para a possibilidade de, a partir dos estudos do Proantar, o país começar a incluir o nível de gelo da Antártica em suas equações de modelos climáticos, usados para a previsão do tempo, o que permitiria uma margem de erro menor do que as previsões atuais.
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Simões dirige a Rede 1 do programa Antártico, frente de pesquisas voltada à análise de questões como a evolução do buraco da camada de ozônio, o aquecimento global e seu impacto nas geleiras da Antártica. Segundo ele, as pesquisas brasileiras devem voltar-se mais para assuntos de grande importância sócio-econômica. “A nossa frente de pesquisa é uma tentativa de direcionar o programa Antártico brasileiro para questões pertinentes à nossa realidade. Queremos levar para o cotidiano dos nossos estudos questões importantes da agenda internacional, trazidas à tona pelo protocolo de Quioto e pelos protocolos de preservação da camada de ozônio”, afirmou.
No próximo dia 29, o navio Ary Rongel, da Marinha, sai do porto do Rio de Janeiro, levando mais uma tripulação brasileira ao continente. É a XXII Operação Antártica. A base brasileira na Antártica é formada por 60 módulos. No próximo verão austral, serão desenvolvidos 25 projetos científicos, envolvendo 138 pesquisadores. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia os trabalhos por meio do Proantar. A Marinha mantém no local um grupamento com 10 homens e a Aeronáutica realiza sete vôos por ano para transportar equipamentos e pesquisadores. O Ary Rongel intercala com o navio Barão de Tefé o transporte de pesquisadores e pessoal de apoio, do Brasil, ao continente gelado. Informações adicionais sobre o seminário estão no endereço www.igc.usp.br/subsites/cpa.