Domingo, 06/05/2001

Neste domingo acordamos um pouco mais tarde e fomos conhecer a feira local. Compramos frutas, um headphone e tiramos várias fotos. A Lúcia nos preparou um ótimo arroz com lentilha que foi acompanhado por peixada e salada. O Fábio conheceu um senhor chamado Antônio que foi candango em Brasília durante 16 anos, desde 1961.

riodasmortesanoitecer.jpgA tarde conversamos longamente com o Archimedes Carpentieri, principal historiador regional. Falamos um pouco sobre muito e ganhamos um livro de sua autoria cujo título nos agradou muito: "Ode ao Ócio".

Mais uma vez o ponto alto foi o banho no Rio das Mortes. Continuamos embasbacados com a trasnparência da água e ficamos sabendo que ele é considerado o 3o rio mais limpo do mundo. Pra completar, o pôr-do-sol foi uma pintura e a lua estava cheia.

Em Nova Xavantina vimos algumas das paisagens mais belas da viagem, como a lua cheia sobre o Rio das Mortes. Foto: Fernando Zarur

Fernando

Nova Xavantina, primeira cidade da Roncador-XIngu

As primeiras notícias da região que hoje compreende Nova Xavantina vêm de meados do século XVII. Bandeiras como a de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, e Pires de Campos percorreram a área por volta de 1660, capturando índios para depois vendê-los como escravos.

Estas expedições foram responsáveis pelo surgimento da lenda da Serra dos Martírios, um lugar fantástico indicado por formações geográficas que lembravam os martírios de Cristo, onde haveria muito ouro de superfície. O local descrito pelos bandeirantes nunca foi encontrado, mas rapidamente surgiram pequenas vilas garimpeiras, como a de Araés, ao longo do Rio das Mortes.

igrejanovaxavantina.jpgEntretanto, com o fim do ouro de lixiviação, os povoados logo foram abandonados. Somente em 1944, com a chegada da Expedição Roncador-Xingu, começou a ser erguida uma nova cidade. Em 28 de fevereiro daquele ano, um dos expedicionários avistou – de cima de um “pau d’óleo”, tipo de árvore típica da região – o Rio das Mortes. Em torno desta árvore foi construído o acampamento de Xavantina, nome escolhido pela Expedição em homenagem aos índios Xavantes, habitantes originais do lugar.

Uma das construções iniciais de Nova Xavantina, a Igreja faz parte da Praça Cívica, onde ficava o antigo acampamento da expedição. Foto: Pedro Ivo

Aos 76 anos de idade, Lídio Pereira da Silva, operário que trabalhou na construção dos primeiros prédios, lembra que “a região era um Brasil novo sem nenhum vestígio de civilização”. Estimulado pela Fundação Brasil Central, o vilarejo começou a crescer e a atrair a atenção de colonos. Há quem diga que, durante o governo Getúlio Vargas, o lugar foi cogitado como um dos possíveis locais para a construção da nova capital brasileira.

O segundo impulso desenvolvimentista ocorreu décadas depois, com a construção da ponte sobre o Rio das Mortes, parte da rodovia BR-158. Assim, nasceu o povoado de Nova Brasília, na margem oposta do rio. Com o estímulo do governo federal, especialmente com o Estatuto da Terra, em pouco tempo os povoados tornaram-se distritos cada vez mais populosos, abrigando migrantes de todo o país e, principalmente, do Sul.

Finalmente, em 1980, as duas cidades fundiram-se num município independente denominado Nova Xavantina. Segundo Archimedes Carpentieri, um dos responsáveis pela emancipação, “foi uma luta dura, o pessoal de Barra do Garças não queria deixar a gente se separar”.

Com uma população de aproximadamente 20 mil habitantes, a principal atividade econômica da cidade é a pecuária extensiva. Nova Xavantina também preserva sua maior riqueza, belezas naturais com um grande potencial para o eco-turismo ainda inexplorado, como o Rio das Mortes.

Sábado, 05/05/2001

Deixamos a mordomia de Barra do Garças, já era hora de seguir viagem. A gente estava parecendo quatro cachorros de rua sarnentos, daqueles que você dá comida uma vez e ele volta todos os dias. A verdade é que estávamos sendo muito bem alimentados na casa do Seu Pedro Lira e de sua esposa, D. Maria, sem contar com nossa ótima estadia no hotel Disconauta. Foram dias de gula devorando a melhor comida caseira, o que tornou nossa partida mais dolorosa. Tchau, tchau Barra.

A viagem foi bem agradável. A bela paisagem do Vale dos Sonhos compensou os muitos buracos que havia na rodovia.

Chegando em Nova Xavantina, fomos recebidos pela Lúcia Kirsten, uma paulista que há 20 anos veio para cá. Ela vive numa casa simples, rústica e muito acolhedora. Rapidamente tiramos nosso arsenal de equipamentos do carro e fomos, juntos com a Lúcia, tomar um banho no Rio das Mortes.

Pedro

Sexta-feira, 04/05/2001

Começamos o dia sendo chamados de picaretas pelo Sr. Valdon Varjão. Ele estava imprimindo apenas a capa do site e achou que isto era o que estávamos produzindo. Desfeito o mal-entendido, tudo ficou bem.

Depois, fomos para a casa do Sr. Lídio Pereira. Trabalhador veterano da Expedição, aos 76 anos Seu Lídio preserva um raciocínio claro, muita elegância e um grande senso de humor.

A tarde o Sr. Pedro Lira nos levou para passear pelo Araguaia. Paramos numa praia onde encontramos o Seu Catarina. A prosa foi acompanhada de uma das melhores picanhas que já comemos. O rio é lindo e cada um pescou um peixe de aproximadamente 100 gramas, nosso jantar para o próximo mês…

Voltamos no começo da noite, debaixo de uma lua quase cheia. Escalamos o Fábio para ficar na proa como navegador e, incrívelmente, chegamos a salvo.

Fernando, Fábio e Pedro

Quinta-feira, 03/05/2001

programaradio.jpgHoje pela manhã participamos de um programa na rádio Aruanã, aqui de Barra do Garças. A participação no rádio é muito importante, afinal de contas este ainda é um dos principais meios de comuncação no interior do Brasil. Logo depois fomos conhecer um pedacinho da Serra do Roncador.

Além da participação no programa Eu de Cá, Você de Lá na Rádio Nacional, falamos também para emissoras locais. Foto: Fábio Pili

Quem nos levou foi o Sr. Pedro, primo de uma amiga de Brasília, que está nos acompanhando pela cidade e nos alimentando muito bem. Do alto da serra, a vista é de um mar sem fim de verde cortada pela cidade, o Araguaia e o Garças.

Fernando

Quarta-feira, 02/05/2001

Hoje decidimos nos dividir em dois times. Pedro e Fernando entrevistaram Valdon Varjão, ex-senador da República e figura ilustre da região (confira amanhã a entrevista). Bruno e Fábio saíram à procura de matérias e fotos interessantes e acabaram descobrindo uma colônia de árabes, principalmente palestinos, que detém boa parte do comércio de varejo da região.

Ao final da tarde estávamos passando a matéria literalmente às margens do rio Araguaia (precisávamos de um lugar aberto para conseguir conexão com o satélite), quando vimos uma movimentação diferente no rio. Era um boto rosa, relativamente raro na região.

Amanhã estamos programando uma volta de barco pelo rio e, quem sabe, vamos encontrá-lo de novo.

Fábio e Pedro.

Terça-feira, 01/05/2001

carrorota.jpgSaímos de Brasília com um pouco mais de uma hora de atraso. Mas valeu a pena, pois participamos, ao vivo, do programa da Rádio Nacional apresentado por Walter Lima, Revista Nacional. Chegando à Goiânia fizemos um passeio turístico forçado, rodando por mais de 30 minutos a procura da saída para Trindade. Agora são 13h20 e estamos parados para desfrutar de sanduíches de queijo e presunto.

Momento da nossa primeira atualização testando o sistema via satélite da Globalstar, confiável em todo o percurso. Foto: Fábio Pili

Vocês estão lendo nossa primeira atualização, um ótimo teste de todo nosso discreto e prático sistema de transmissão. Parados na frente de um animado barzinho de beira de estrada, nos conectamos com um satélite, publicamos fotos e texto enquanto comíamos. Nem chegamos a atrapalhar o forró e a sinuca do pessoal, maravilhas da tecnologia… Esperamos chegar à Barra do Garças pouco antes do anoitecer.

Pedro Ivo e Fernando