Governo pretende reduzir déficit habitacional de indígenas nos próximos dois anos

Cerca de 30 mil famílias de índios que vivem perto das grandes cidades nas regiões Nordeste, Centro-Sul e Sul não têm casa para morar ou estão com suas habitações em condições de degradação total. Para reverter esta situação, o Ministério das Cidades, a Fundação Nacional do Índio e a Fundação Nacional da Saúde assinaram nesta segunda-feira, em Brasília, o protocolo de intenções que deve reduzir este déficit habitacional indígena em pelo menos um terço nos próximos dois anos.

As casas terão em média de 60 m² e obedeceriam critérios culturais das diversas etnias. O custo gira em torno de R$ 7 mil. O dinheiro será aplicado na compra de material e no pagamento da mão de obra, que deverá ser executada pelos próprios índios e, em alguns casos, por especialistas como mestres de obras.

A Funai está enviando equipes de engenheiros e arquitetos às comunidades indígenas para observar e aplicar nos projetos os aspectos culturais de cada etnia. Já em 2005 deverão ser construídas 3.000 casas em comunidades na cidades de Mambaí/GO, Santa Cruz de Cabrália/BA, Xambioá/TO e Caseiros/RS.

Segundo o índio Sererê Xavante, da Nova Xavantina/MT, as comunidades indígenas começaram a precisar de ajuda porque estão ficando sem condições de conseguir até mesmo o material para construir suas moradias. "As fazendas que ficam perto das aldeias estão desmatando essas regiões e nós não conseguimos mais palhas e outros materiais naturais que a gente usa na construção das casas indígenas", afirma.

Para o ministro Olívio Dutra, o programa, inédito no país, é uma demonstração de respeito governo federal à cultura e aos povos indígenas brasileiros. "Isso é uma forma de dizer que os povos indígenas têm a sua identidade e elas são a coisa mais sagrada no governo do companheiro Lula".

O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, garantiu que a cultura indígena será preservada. "Eles já utilizam tijolos, barro, madeira de uma forma diferente que nas aldeias tradicionais, para construíram suas casas. O projeto das novas casas foi discutido com os índios. Eles viram e opinaram como essas casas devem ser. O material a ser utilizado é diversificado, como palha, madeira e diversos tipos de produtos que ainda dão uma idéia e um sentimento da cultura em que eles vivem", explica.

No total, o governo federal vai aplicar neste primeiro ano do programa de construção de moradia para os índios R$ 27 milhões. A maior parte dos recursos será do Ministério das Cidades: R$ 21 milhões. A Funasa, que tem como função promover ações em prol da saúde dos índios, irá participar com um total de R$ 5 milhões, que serão aplicados em obras de saneamento. A Funai terá uma participação de R$ 1 milhão.

Pajés debatem mecanismos de proteção da cultura indígena

O II Encontro dos Pajés, que acontece de hoje até sábado (28), em Brasília, reunirá 60 lideranças indígenas – espirituais, tradicionais e articulistas do Brasil e do exterior. Segundo o articulador dos Direitos Indígenas e Coordenador Geral do Encontro Direito dos Pajés, Marcos Terena, o objetivo do encontro é dar continuidade aos debates que ocorreram no I Encontro em São Luís do Maranhão, em 2001.

pajes_2.jpgDurante o encontro será elaborado um livro com teses indígenas sobre a visão ambiental, direitos humanos e perspectivas do futuro. “Foi difícil reunir tantos pajés, pois eles são pessoas especiais, são místicos, e têm a capacidade de enxergar além dos olhos normais do ser humano”, disse Terena.

Ele disse ainda que sua maior preocupação é a de alertar os pajés, "porque, às vezes, na aldeia, ele sofre o assédio de pessoas que vão roubar informações sobre remédios naturais e o uso terapêutico das plantas". O encontro é uma iniciativa do Instituto Indígena Brasileiro da Propriedade Intelectual, do Comitê Intertribal, com apoio de entidades nacionais e internacionais.

Foto: J. Freitas/ABr.

Cerimônia

Oração e canto para Tupã, pedindo para louvar o trabalho e a união dos povos indígenas. Assim os índios Itambé Pataxó e Getúlio Kaiwá marcaram, com uma cerimônia espiritual, a abertura do evento. O objetivo, segundo o presidente do Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual – Inbrapi, Daniel Mundukuru, é discutir o que consideram importante para o desenvolvimento dos indígenas, principalmente a questão da proteção do conhecimento.

Estão presentes na reunião representantes de diversas entidades culturais e de educação, além de organismos nacionais e internacionais, como a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional, que desenvolve proteção do meio-ambiente, energia renovável e saúde. Ao final do encontro, os índios vão elaborar um documento que será levado aos Ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores.

“Vamos pedir a eleboração de regras para proteger esse conhecimento, que é um saber milenar, é um saber oral, não se encontra em livros, não se encontra em Universidades. Os pajés são pessoas especiais. E protegê-los é um forma também de proteger a Amazônia e a Biodiversidade, que é a riqueza do futuro”, concluiu Marcos Terena. O Diálogo de Pajés prossegue até o próximo sábado, quando será encerrado ao meio-dia, com uma saudação dos índios para os deuses no espelho dágua do Itamaraty.