Agência UnB – A ameaça é mais séria do que se imagina. O Distrito Federal pode não ter água daqui a quatro anos. Segundo a dissertação de mestrado em Planejamento Urbano do professor Fernando Vieira Pereira, concluída em 2001 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB), a ocupação desordenada das terras no DF, sob a forma de condomínios irregulares, compromete sensivelmente não só a reserva hídrica, mas também a vegetação e o próprio planejamento urbano da capital.
A perfuração descontrolada de poços profundos para abastecer os condomínios, principalmente dos terrenos localizados em Áreas de Proteção Ambiental (APAs), diminui cada vez mais a oferta de água em todo o DF. A ocupação desordenada do solo e as construções ilegais impermeabilizam as áreas de aqüíferos – rochas permeáveis que armazenam água -, comprometendo seriamente as reservas de água para consumo ou irrigação.
Segundo o Governo do Distrito Federal, a construção de Corumbá IV – represa cinco vezes maior que o Lago Paranoá localizada no estado de Goiás, a 20 km do Gama – seria a garantia de água potável e de geração de energia por mais 90 anos no DF. Mas a realidade não é tão simples para o caso de Brasília.
Em sua dissertação “A relação entre a política de desenvolvimento e ambiental no DF: a expansão urbana na forma de condomínios”, Vieira afirma que os rios que deságuam no Corumbá estão poluídos, desqualificando a água para o consumo humano. O rio Melchior, por exemplo, recebe os esgotos das cidades de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia antes de encontrar com o Descoberto e desembocar no Corumbá.
Estudos coordenados pela WWF-Brasil e executados por outras organizações não-governamentais (ONGs) desde 1997 já constatavam o comprometimento de todas as bacias que abastecem o DF. Os condomínios, que crescem na direção oposta ao eixo preferencial de expansão urbana no DF, atingindo áreas impróprias para urbanização como as APAs do São Bartolomeu e do Cafuringa, agravam ainda mais essa situação, contaminando nascentes e mananciais no entorno.
Além da possível escassez de água, outro problema ambiental decorre da ocupação irregular das terras para loteamento: a devastação da vegetação nativa – com destaque para o cerrado. Segundo os dados analisados pelo professor, até 1998, aproximadamente 57,5% da vegetação original do DF já havia sido destruída. Com o loteamento de áreas de proteção ambiental, várias espécies de árvores e plantas nativas ficam comprometidas e muitas poderão desaparecer.
Como a área urbana extrapolou as previsões do poder público, os problemas no planejamento já aparecem em localidades próximas aos condomínios e só tendem a aumentar. Sem uma estrutura básica – rede de água e esgoto, escolas, postos de saúde, postos policiais – para os moradores dos condomínios, a solução encontrada é recorrer aos serviços das cidades mais próximas, comprometendo o bem-estar da população local.
Pesquisas bibliográficas, trabalhos de campo em diferentes loteamentos do DF, registros das intervenções, entrevistas com funcionários da Promotoria de Ordem Urbanística (Prourb) do Ministério Público do DF e Territórios, e análises de mapas e imagens de satélite foram os instrumentos utilizados pelo professor na pesquisa.