Extraterrestres e minas de ouro

Nova Xavantina, no Mato Grosso, é outra cidade que nasceu na sombra da expedição. Com 5 700 quilômetros quadrados de extensão – quase quatro vezes a área da cidade de São Paulo -, o município tem pouco mais de 20 mil habitantes. Há 60 anos, era só mato.

A cidade foi batizada por Orlando Villas Bôas como explica o pioneiro e ex-expedicionário, José Celestino da Silva. Conhecido como Zé Goiás ele conheceu o acampamento que originou a cidade ainda em 1946 quando chegou para integrar o pelotão de frente do avanço mata adentro. “O pessoal queria dar o nome de São Pedro do Rio das Mortes para a nova cidade, mas seu Orlando falou que achava que tinha que dar um nome sobre a origem da cidade e aqui era território Xavante”, conta o ainda morador de Nova Xavantina. “Eu queria muito conhecer o Rio das Mortes, aqui tinha muita história, muita lenda”, completa orgulhoso.

Cercada de belos morros, cachoeiras e com enorme potencial para o eco-turismo, a cidade ainda explora pouco a beleza de seus arredores como uma fonte de desenvolvimento sustentável. O lugar também tem fama de pólo esotérico. Muitos forasteiros vêm à cidade atrás dos segredos e mistérios da Serra do Roncador. Eles acreditam que ali existem passagens secretas, que levam a um mundo oculto, relacionado à lenda da cidade perdida de Atlanta. Outros crêem nas aparições de extraterrestres.

Durante anos, no entanto, a principal atividade da região foi o garimpo. Próximo à Nova Xavantina, está a famosa mina de Araés. Descoberta pelos bandeirantes, o local tinha tanto ouro que foi confundido com a lenda do Eldorado, que falava de terras onde jorravam enormes quantidades do metal dourado. Depois de séculos de exploração, até hoje ainda existe jazidas do metal no lugar, mas atualmente estão a cerca de 70m de profundidade e a prospecção está proibida na área. Mesmo assim, garimpeiros clandestinos ainda se aventuram nas profundezas das minas na esperança de encontrar uma pepita que lhes mude a vida. Porém, quase sempre o resultado desta busca são problemas sociais, mortes e crimes ambientais.

As cicatrizes do garimpo são vistas não apenas na poluição e destruição da terra a poucos metros do rio das Mortes, várias pessoas morrem de males causados pela atividade. Sinvaldo Vieira Rodrigues, ex-garimpeiro, afirma: “a única coisa que o Araés já fez foi matar muita gente”. Há cinco anos, ele sofre de silicose, doença terminal causada pela respiração de pó de pedra que vagarosamente endurece as paredes do pulmão até impedir completamente a respiração. O mesmo mal foi responsável pela morte de seu irmão. Esforçando-se para conversar entre períodos de falta de ar, ele conta que outros sessenta colegas faleceram da mesma forma ou por acidentes.

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Brasil Central Hoje

A Amazônia inóspita, com florestas impenetráveis, rios gigantescos e habitada por feras e índios, apesar das agressões, continua pujante. Certamente, os ideais que nortearam a liderança dos Villas Bôas na Expedição Roncador-Xingu contribuíram para isso. Sem eles, a floresta e os índios teriam sofrido muito mais. Sob outro comando, a Marcha para o Oeste poderia ter descartado a complexa e delicada tarefa de contatar índios selvagens. Seria muito mais prático e rápido dizimar as aldeias, como fizeram nossos primeiros colonizadores e os bandeirantes.

O Parque Indígena do Xingu é apenas um naco do imenso retalho que os Villas Bôas confeccionaram nos 35 anos que passaram na selva. Outras heranças da Expedição Roncador-Xingu são as cidades e estradas que nasceram nos rincões do país, ligando os vários Brasis e possibilitando o desenvolvimento de regiões outrora inabitáveis. Mas, como diziam os Villas Bôas, ainda há muito a ser descoberto.

Em sessenta anos de uma luta silenciosa pela sobrevivência, o sonho de uma nação rumo ao Oeste ainda está se concretizando. Num país que continua a manter sua visão virada para o litoral e além-mar, o Araguaia delimita um refúgio para tradições milenares, natureza e novos valores. Esotéricos, sertanejos, garimpeiros, índios e gaúchos compõem hoje o fascinante, violento e dinâmico mosaico cultural do Brasil Central. Uma região onde riquezas, lendas e, sobretudo, profecias sobrevivem. Palco de um fenômeno humano e tipicamente brasileiro, no qual o futuro de um povo se constrói a olhos nus.

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Preconceito ao índio

O preconceito contra o índio é um dos modos de descriminação mais fortes e agressivos do Brasil.

Nas cidades próximas às reservas, é um problema ainda mais acentuado. Os xinguanos, que se mantêm mais afastados não sofrem tão diretamente com o problema. Os Xavante, no entanto, tem suas terras mais próximas. Além disso, a etnia conseguiu reconquistar boa parte de seu território depois de um processo de luta que existe ainda hoje contra forças políticas e grandes proprietários locais.

Na década de 1970, os caciques da região de Pimentel Barbosa se uniram para expulsar os fazendeiros e demarcar sua reserva. Em resposta a tiros e assassinatos, os índios começaram a atacar e incendiar fazendas até ocupar uma área de 328mil hectares de extensão que mais tarde foi reconhecida pelo governo e Funai.

Em 2004 os Xavante viveram outro conflito, quando posseiros se recusavam a desocupar a reserva de Marãwatsede. Três crianças morreram e outras oito foram internadas com pneumonia e subnutrição por causa das condições de vida da comunidade que vagava à beira da rodovia esperando permissão para voltar à sua terra. Resultado de 40 anos de luta, a área foi reconhecida e homologada como terra indígena em 1995 e mesmo assim uma batalha judicial não permitia o acesso dos índios à terra. Somente agora, depois de mortes, ameaças e brigas, os índios conseguiram ocupar de novo a região.

Sereburã, ancião da aldeia de Pimentel Barbosa, próximo a Marãwatsede, dá sua visão dos acontecimentos. “Nós mesmos tocamos os fazendeiros. Por isso que temos este espaço (reserva de Pimentel Barbosa) pequenininho hoje. Para branco é grande, para nós é pequeno. Fizemos isso sem a ajuda de ninguém. Agora vivemos aqui, espero que vocês respeitem a gente e nossos direitos. Espero que vocês passem essa informação ao seu povo. O povo Xavante é assim: usa pulseira, tem cordão no pescoço e brinco pra arrumar mulher nova. Nossa identidade é essa. Sou do tempo em que os homens andavam pelados e estou aqui, vivo.”

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Os Villas Bôas

Motivados pela campanha publicitária sobre a Macha para o Oeste, três jovens irmãos paulistas foram atraídos pela idéia de fazer parte daquela aventura. A família havia se mudado de Botucatu para a capital há pouco tempo, mas uma sucessão de tragédias os deixou órfãos, o que também serviu de estímulo para a partida rumo ao interior. Orlando Villas Bôas, tinha 27 anos e trabalhava de escriturário na Esso. Cláudio, de 25, deixou o emprego de mensageiro na prefeitura de São Paulo para embrenhar-se na mata. O caçula, Leonardo, de 23, trabalhava numa empresa distribuidora de gás e foi contagiado pela empolgação dos mais velhos.

Acostumados com a vida no campo – o pai era fazendeiro -, acreditavam que não teriam dificuldades em ser aceitos naquele exército expedicionário. Alguns pontos, porém, pesavam contra os Villas Bôas: sabiam ler e escrever. E foi este o motivo alegado para que os três irmãos fossem recusados quando se apresentaram pela primeira vez, em São Paulo. Considerados “educados demais para a vida no sertão”, logo foram descartados.

Inconformados com a negativa decidiram prepararem-se para a dura vida sertaneja. Durante quase um mês, deixaram crescer barba e bigode e tomaram banhos de sol diariamente. Voltaram ao local de alistamento e se declararam analfabetos. Com a pele escura e barbas fartas, foram aceitos e passaram a fazer parte da Expedição Roncador-Xingu. Eles jamais imaginariam que estavam iniciando uma viagem que mudaria suas vidas, entraria para a história do Brasil e seria importantíssima para a preservação de diversos povos indígenas. Jamais imaginariam que iriam passar 35 anos no coração da selva.

Leonardo e Cláudio começaram o trabalho na enxada e Orlando como ajudante de pedreiro. A farsa durou até o dia em que o avião bimotor que levava mantimentos e ferramentas para a expedição sofreu um pequeno acidente. Cláudio e Leonardo estavam capinando a pista de pouso, aberta no meio do matagal, e foram chamados para ajudar. Na conversa com o piloto, acabaram se revelando alfabetizados. Os irmãos foram denunciados ao comando da expedição. No dia seguinte, Orlando foi nomeado secretário da base, enquanto Cláudio e Leonardo ficaram encarregados do almoxarifado.

Os números deste trabalho falam por si só. Com o apoio da Fundação Brasil Central, foram 1 500 quilômetros de picadas abertas, mais de 1 000 quilômetros de rios percorridos, 43 vilas e cidades nascidas às margens dos novos caminhos, 19 campos de pouso – quatro se tornaram bases militares e pontos de apoio de rotas aéreas internacionais – e 5 mil índios, de 14 etnias, contatados. Os Villas Bôas ainda foram responsáveis pela criação do Parque Indígena do Xingu e receberam comendas estrangeiras, nacionais, títulos e diplomas de Honra ao Mérito duas indicações para o Prêmio Nobel da Paz. Orlando e Cláudio ainda foram premiados com 200 malárias cada um. O impacto da chegada do homem branco repercute até hoje na região.

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A Marcha para o Oeste – A maior aventura do século 20

Índios devoradores de gente, montanhas de ouro e diamante, feras selvagens. Essas e outras lendas herdadas dos bandeirantes eram quase tudo o que se conhecia sobre o interior do Brasil há 60 anos. No início da década de 40, praticamente todos os 43 milhões de habitantes do país estavam concentrados no litoral e viam o interior do próprio país como algo exótico. A região não passava de uma enorme e inexplorada mancha na geografia brasileira.

A Expedição Roncador-Xingu foi planejada para conquistar e desbravar o coração deste Brasil lendário e misterioso. Iniciada em 1943, o movimento adentrou o Brasil-Central, desvendou o sul da Amazônia e travou contato com diversas etnias indígenas ainda desconhecidas. Uma epopéia sensacional, que entrou para a História como das maiores aventuras do século 20 em todo o mundo. Na liderança, três irmãos que marcaram este período da história nacional: Leonardo, Cláudio e Orlando Villas Bôas.

No início dos anos 40, o Araguaia e seus afluentes eram a ultima barreira natural ao progresso “civilizatório” que massacrava índios desde o descobrimento. As margens, que dividem também cerrado e floresta amazônica, escondiam mais de uma dezena de povos numa região vasta e desocupada. Eram os últimos refúgios para dezenas de nações indígenas até então desconhecidas. Apesar disso, a região era classificada como um “vazio demográfico que precisava ser ocupado” e despertava o interesse de autoridades internacionais, além de garimpeiros, fazendeiros, políticos e, em especial, tirava o sono dos militares brasileiros.

Longe das veredas do cerrado e das águas límpidas do rio Kuluene, eclodia na Europa o auge da Segunda Guerra, um conflito que teve como uma de suas razões a noção de “Espaço Vital”. A idéia, simplificadamente, defendia o direito de que nações “mais desenvolvidas” ocupassem áreas pouco exploradas em países “menos desenvolvidos”. Esta teoria colocava a região incógnita no Centro-oeste brasileiro como alvo potencial para a cobiça de outros países.

Neste contexto, o então presidente, Getúlio Vargas, fez um longo sobrevôo na região do Araguaia, a convite do então governador de Goiás, Pedro Ludovico. Ao ver uma vastidão de florestas cortadas por rios imensos, concluiu abismado: “É o branco do Brasil Central”. Para mudar essa realidade, o presidente encarregou o ministro da Coordenação de Mobilização Econômica, João Alberto Lins de Barros, de promover a interiorização do Brasil. Assim nasceu a Fundação Brasil Central, FBC. Em seguida, foi anunciada a criação da Expedição Roncador-Xingu, cujo objetivo era ser ponta de lança do avanço progressista, com a função de mapear o centro do país e abrir caminhos que ligassem a região ao resto do país.

O ministro João Alberto foi um dos maiores incentivadores da colonização do Centro-Oeste, principalmente por ter conhecido toda a região como revolucionário da Coluna Prestes. Ele vislumbrava o futuro econômico do Vale do Araguaia, apontando a terra como ideal para pecuária. Além disso, o ministro sonhava em ver uma urbanização planejada e ordenada que, ao seu entender, traria assistência, riquezas e qualidade de vida ao interior do país. Em boa parte, o sonho progressista do militar se concretizou. Transcorrida por cerca de quarenta anos, a Marcha Para o Oeste fundou cerca de 43 vilas e cidades, construiu 19 campos de pouso, contatou mais de cinco mil índios e percorreu 1,5 mil quilômetros de picadas abertas e rios.

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Um fuzil e 50 balas

O comando da Marcha para o Oeste, como ficou conhecida a vanguarda deste avanço do desbravamento, foi dado ao Coronel Flaviano de Mattos Vanique, homem de confiança e membro da guarda pessoal do presidente. Como havia sido pensada no início, a iniciativa era essencialmente uma expedição de colonização. A frente deveria abrir estradas, identificar locais propícios para a abertura de cidades e implementar campos de pouso, única ligação da região com o resto do país.

Um pequeno grupo de frente, formado por cerca de 40 homens recrutados na região, ficou sob o comando do coronel. A idéia era contar com sertanejos rudes o bastante para agüentar a vida no mato. Eles vinham principalmente dos sertões do Centro-Oeste e da Bahia ou de corruptelas garimpeiras locais e nada se perguntava sobre seu passado. Além do treinamento que tinham recebido da própria vida, cada homem ganhou um fuzil, 50 balas e um par de botinas.

Foi assim que, em julho de 1943, depois de uma ampla campanha para arredar doações para viabilizar seu início, a expedição partiu rumo ao Araguaia, num desastroso comboio militar com mantimentos cuja maioria estragou ou ficou pelo caminho. O transporte testou os mais variados tipos de transporte da época, desde o trem até lombo de mula.

No noticiário da época, a expedição disputava atenção com a Grande Guerra. A imprensa contava histórias de índios assassinos, instigando o imaginário da população urbana. O Vale do Araguaia aparecia como uma região quase fictícia e aparecia habitada por criaturas, seres sobrenaturais ou “índios vampiros” como a revista Cruzeiro defendeu em uma de suas reportagens mais populares.

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Unemat realiza vestibular diferenciado para formar professores indígenas

A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em parceria com Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT), divulgou ontem o resultado do vestibular específico para professores indígenas. Ao todo são 100 vagas oferecidas para os cursos de Línguas, Artes e Literatura, Ciências da Matemática e da Natureza e Ciências Sociais, desenvolvidos no Campus de Barra do Bugres. O processo seletivo faz parte do Projeto de Formação de Professores Indígenas, 3º Grau Indígena.

As provas foram realizadas nos campus da Unemat, em Barra do Bugres e Cáceres, no Parque Indígena do Xingu ( Aldeia Pavuru), Aldeia São Marcos, Aldeia Pakuera, Aldeia Sangradouro e Aldeia Guadalupe, nas cidades de São Félix do Araguaia e Campinápolis. O vestibular oportunizará a formação, em nível superior, de 200 professores de trinta e três etnias, de 13 municípios mato-grossenses e formará a primeira turma em 2005.

O Projeto 3º Grau Indígena teve início em 2001 com o objetivo de garantir a formação de professores indígenas para a docência no ensino fundamental e em disciplinas específicas do ensino médio em suas aldeias. Estruturado com base na formação em serviço, os cursos são divididos em Etapas de Estudos Presenciais, realizadas no campus de Barra do Bugres e de Etapas de Estudos Cooperados de Ensino e Pesquisa, desenvolvidas nas comunidades indígenas. A metodologia desenvolvida garante a formação continuada e a permanência dos acadêmicos em suas aldeias, constituindo saberes com base na realidade vivida, considerando a língua e a cultura de cada povo.

Juvêncio lamenta que Brasil não participe de encontro ambiental

O presidente da Subcomissão Permanente do Meio Ambiente, senador Juvêncio da Fonseca (PDT-MS), lamentou que o governo brasileiro tenha se recusado a participar do encontro internacional, a ser realizado no próximo ano em Aichi, no Japão, que debaterá a questão ambiental e a sociedade urbana industrial. Para ele, o Brasil perderá uma grande oportunidade de expor ao mundo que realiza um esforço para  se desenvolver de forma sustentável, "onde a questão do meio ambiente é levada a sério".

Juvêncio da Fonseca estranhou a não participação do Brasil no encontro que irá reunir cerca de 137 países. E estranhou a argumentação de autoridades brasileiras de que o governo "não teve tempo suficiente" para preparar a participação brasileira no encontro do Japão e que os custos seriam incompatíveis com a realidade econômico-financeira do país.

As afirmações de Juvêncio da Fonseca foram feitas durante audiência pública realizada nesta quarta-feira (17) pela subcomissão, que reuniu representantes do Ministério do Meio Ambiente, como Fernando Lírio, diretor da Assessoria Internacional da pasta, e Silvio Botelho, chefe de gabinete; e o chefe da Divisão de Feiras e Turismo do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antônio José Maria de Souza e Silva. Para o embaixador, a participação brasileira no encontro custaria em torno de R$ 100 milhões, o que considerou um valor elevado para um país, como o Brasil, onde os recursos são escassos.

Juvêncio da Fonseca concordou, mas salientou que o governo brasileiro poderia participar do encontro tendo em mãos um projeto mais barato, pois o público estimado que irá ao encontro e que percorrerá os stands da feira, ao longo de seis meses, é de 16 milhões de pessoas. Já o senador Flávio Arns (PT-PR) argumentou ser relevante levar a imagem do Brasil para o exterior, desde que os custos sejam compatíveis com a realidade nacional.

Grupo móvel liberta 174 trabalhadores em situação de trabalho escravo

Três equipes do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego libertaram, na última semana, 174 trabalhadores que eram mantidos em condições degradantes e de escravidão, em duas fazendas no Pará e em carvoarias na Bahia.

A maior operação ocorreu na fazenda Colatina, próxima a cidade de Pacajá (PA), de onde foram retirados 123 trabalhadores. O dono da fazenda, José Carlos Tardim do Carmo Júnior, conhecido como Bacuri, teve que pagar aos trabalhadores R$ 200 mil em direitos trabalhistas e mais R$ 220 mil por dano moral coletivo. A operação foi coordenada pelo auditor fiscal, Clóvis Emídio, que em ação anterior, realizada em junho, já havia autuado o fazendeiro em outra fazenda, da qual era gerente.

Também no Pará estão sendo concluídas duas ações lideradas pelo auditor fiscal Humberto Célio. No último fim de semana, a equipe entrou numa fazenda de propriedade do juiz do trabalho aposentado, Wilson Osmundo Neto, e encontrou sete trabalhadores em condições degradantes de trabalho. O juiz terá que pagar hoje R$ 10 mil aos trabalhadores e ainda vai responder por danos morais. A fazenda tem financiamento do Banco da Amazônia.

Na quarta-feira (10), já havia retirado 16 trabalhadores da fazenda Seridó, localizada no município de São Geraldo do Araguaia (PA), de propriedade de Roberto Dantas de Medeiros. Entre os libertados havia dois menores de 12 e 14 anos. Eles trabalhavam na limpeza de pasto há mais de noventa dias e estavam sem salários há dois meses. As verbas rescisórias foram de R$ 28 mil.

Carvoarias bahianas

O número de trabalhadores retirados de carvoarias próximas a Barreiras (BA) chegou a 28, sendo quatro menores de 18 anos. A equipe coordenada pelo auditor fiscal, Klinger Fernandes, localizou a primeira bateria de fornos na quarta-feira passada, quando interditaram a carvoaria. Na seqüência, foram em outras baterias do mesmo proprietário, Leliano Sérgio Andrade, e encontraram mais trabalhadores.

Na região há várias carvoarias espalhadas pela propriedade. Junto aos fornos, cuja temperatura quando acesos passa dos 40º C, ficam os alojamentos feitos de lona e madeirite. Em alguns, já foram feitos barracões de alvenaria mas, mesmo nesses casos, não há nenhum tipo de ventilação que possa aliviar o forte calor.

Dentro dos alojamentos – tanto o de lona quanto o de alvenaria – a cena é a mesma: colchões amontoados, roupas e objetos pessoais espalhados ao lado de alimentos e produtos de higiene. Até mesmo uma lareira foi encontrada dentro de um barracão de lona, o que aumenta o desconforto.

Some-se a esse cenário jornadas exaustivas e a falta de segurança no trabalho. A mistura é a fórmula de lucro fácil de alguns produtores no Brasil. Na ponta da cadeia produtiva do carvão estão as siderúrgicas. No caso da fazenda arrendada por Leliano Sérgio Andrade – visitada pelo Grupo Móvel de Fiscalização – ficou comprovado que a Sideruna Comércio e Indústria Ltda, empresa de Minas Gerais, comprava o carvão produzido.

A procuradora do Ministério Público do Trabalho, Virgínia Senna, reforça essa tese. Segundo ela, o artigo 149 do Código Penal prevê a responsabilidade solidária, que divide a culpa pelo trabalho escravo entre os membros mais próximos da cadeia produtiva.

Leliano Andrade deverá pagar uma indenização aos 12 trabalhadores encontrados em situação de trabalho escravo no valor de R$ 57 mil. Ele também deve responder a processo civil e criminal. O outro arrendatário, José Tarcísio de Souza, da área onde foi encontrado trabalho degradante, deve acertar com seus empregados uma quantia de quase R$ 7 mil.

Durante as negociações, a equipe concluiu que o dono das carvoarias não tem capacidade financeira para arcar com o pagamento dos direitos trabalhistas e está procurando fechar acordo com a siderúrgica que compra toda a produção de carvão, a Sideruna (Siderúrgica de Itaúna). “Estamos trazendo a siderúrgica para a negociação para evitar maiores prejuízos para os trabalhadores”, afirmou Fernandes.

Balanço

Com as últimas ações sobe para 7.139 o número de trabalhadores libertados de janeiro de 2003 a novembro de 2004.  No balanço anterior, até setembro deste ano, referente a 21 meses do Governo Lula, o número de trabalhadores retirados do trabalho escravo era 6.965 trabalhadores. Durante as operações foram pagos cerca de R$ 10 milhões em verbas rescisórias. Os libertados também passaram a receber o benefício do seguro-desemprego.

As equipes da fiscalização móvel são compostas por auditores fiscais do trabalho, policiais federais e procuradores do trabalho.

ndios protestam contra barragem em trecho considerado sagrado de afluente do Xingu

Dezenas de lideranças indígenas presentes ao Encontro Nascentes do Rio Xingu, ocorrido em Canarana (MT) entre 25 e 27 de outubro, permaneceram mobilizados para protestar contra a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Culuene, um dos principais afluentes do Xingu, localizado a 160 km de Canarana, perto da vila de Couto Magalhães. Os 42 líderes conseguiram negociar a paralisação da obra e a realização, no próximo dia 13, de uma reunião com os responsáveis pelo empreendimento e autoridades dos governos estadual e federal.

Os índios não estão dispostos a ceder. A obra está sendo construída em local considerado sagrado pelos povos do Alto Xingu, onde o deus Mawutsinin teria realizado pela primeira vez a festa do Kuarup. A celebração acontece todo ano e é reconhecida mundialmente como uma das principais manifestações culturais xinguanas.

Mas esse não é o único problema. A barragem está sendo construída a 2 quilômetros da Reserva Ecológica Culuene quando deveria estar a dez quilômetros de seu entorno. (veja o mapa ao lado)

Embora localizada fora do Parque Indígena do Xingu, a usina encontra-se no Rio Culuene, um dos principais formadores do Rio Xingu. Por essa razão, as lideranças estavam preocupadas com os possíveis impactos negativos da barragem sobre o meio ambiente e as comunidades. Só quando chegaram ao local para inspecionar a construção é que constataram a invasão do santuário. Eles prometeram manter vigilância sobre a área.

"Ficamos chocados com o que vimos, é lamentável", afirma Makupá Kaiabi, presidente da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX). Ele informa que as comunidades da região esperam que as obras sejam desativadas o quanto antes. Depois da visita, os índios elaboraram uma carta convocatória para o encontro que deverá discutir a situação no dia 13 de novembro. Na semana passada, uma comitiva formada por representantes das comunidades do Alto Xingu, do Ibama e da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat) visitou novamente as obras da usina.