Governo vai mandar ao Congresso projeto sobre concessões na Amazônia

O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, disse que o projeto de concessão de áreas públicas na Amazônia para exploração sustentável deverá ser encaminhado ao Congresso nas próximas semanas. Segundo ele, o texto está em fase final de ajustes pela Casa Civil.

“Vários ministérios relacionados estão trabalhando no projeto e a expectativa é que nas próximas semanas possa ir ao Congresso, para que se abra um debate ainda mais amplo para aprimorar a proposta”, disse Capobianco. As declarações foram feitas há pouco, durante o programa "Diálogo Brasil", transmitido em rede nacional de TV pública liderada pelas emissoras Radiobras, NBR e TV Nacional de Brasília

Já o Coordenador Executivo do Projeto Brasil Sustentável e Democrático da Organização Não-Governamental (ONG) Fase, Jean Pierre Leroy, disse esperar que a proposta não seja votada logo. Segundo ele, o debate até agora foi superficial e o assunto deve ser discutido mais amplamente. Sobre a questão do monitoramento da Amazônia, o professor disse que de nada adianta meios extremamente sofisticados, se o problema for político.

“Eu vi em municípios da Transamazônica e do Xingu a população monitorar de modo muito efetivo o desmatamento clandestino. O problema é político, porque depois das denúncias não há intervenção nem mudanças".

Ibama localiza áreas desmatadas ilegalmente no Maranhão

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está promovendo este mês no Maranhão uma campanha para localizar áreas desmatadas ilegalmente. Também estão sendo fiscalizadas áreas autorizadas a desmatar, cujos proprietários não seguiram as determinações técnicas do Ibama, e identificados os responsáveis por agressões ambientais.

Para realizar o trabalho, o instituto conta com informações obtidas por meio de monitoramento dos satélites NOAA e TERRA-AQUA, que fornecem dados diários, como posição geográfica e extensão das áreas danificadas. É possível detectar, pelos dados, em que município do Maranhão a agressão ambiental está ocorrendo.

Além das equipes das gerências I e II do Ibama no estado, participam do trabalho analistas ambientais e fiscais lotados nas unidades descentralizadas de Balsas, Santa Inês, Barra do Corda, Chapadinha, Pinheiro, Barreirinhas (Parque Nacional dos Lençóis), Açailândia (Reserva Biológica do Gurupi). As áreas degradadas são interditadas e os responsáveis punidos de acordo com a Lei de Crimes Ambientais que prevê pesadas multas, prisões e a recuperação da área.

Governo quer colocar biodiesel no mercado até o final do ano

O governo federal quer autorizar a entrada do biodiesel no mercado nacional de combustíveis até o final deste ano. O documento autorizando o novo produto deve ficar pronto até novembro. O biodiesel poderá ser adicionado ao diesel mineral na proporção de 2%, sem comprometer a garantia dos motores de veículos a diesel. Representantes do setor reuniram-se hoje, no Palácio do Planalto, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o assunto.

O uso do biodiesel no Brasil tem o objetivo de introduzir um novo combustível na matriz energética a partir de projetos auto-sustentáveis, considerando preço, qualidade, garantia do suprimento e uma política de inclusão social. Segundo a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, por meio do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel o governo está desenvolvendo critérios para implantação de mecanismos de estímulo social.

A proposta é incentivar a criação da mamona e do dendê em regiões mais pobres do país. Estes produtos são fundamentais para gerar o biodiesel. Estima-se que a produção de biodiesel para atender ao percentual de mistura de 2% possa gerar mais de 150 mil empregos em 2005, especialmente na agricultura familiar. O biodiesel também poderá ser utilizado na geração de energia elétrica em comunidades isoladas.

A entrada do novo combustível no mercado nacional reduzirá a importação do diesel, que hoje é de cerca de 9%. Além do suprimento interno, em um segundo momento o programa prevê a exportação do produto, que já é utilizado nos Estados Unidos e em países da Europa, como França e Alemanha.

São Carlos adere ao programa “Cidade Amiga da Amazônia”

Na presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o prefeito de São Carlos, Newton Lima Neto (PT-SP), e o diretor executivo do Greenpeace Brasil, Frank Guggenheim, assinaram o termo “Compromisso pelo Futuro da Floresta”, que faz parte do programa Cidade Amiga da Amazônia do Greenpeace (1). O prefeito assinou um decreto criando uma comissão de gestão de compras sustentáveis para impedir a compra de madeira de origem criminosa pela prefeitura, proposta central do programa. Com mais de 190 mil habitantes, São Carlos, na região central do Estado de São Paulo, é o sexto município (2) a aderir a esta iniciativa de consumo responsável.

“Parabenizo a prefeitura pela parceria que evitará a compra de madeira de áreas griladas, indígenas e sem certificação”, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. “É importante que as pessoas comecem a se conscientizar de que não estão comprando apenas uma mesa ou uma cadeira; estão comprando um conteúdo e um conceito”, complementa a Ministra.

O Greenpeace aproveita a participação da ministra Marina Silva para lembrar o governo federal da importância de controlar o mercado de madeira amazônica, hoje caracterizado pela ilegalidade. O Ibama é o órgão da União responsável pelo monitoramento da extração e do comércio de madeira no País. “Os municípios que participam do programa Cidade Amiga dependem das informações do Ibama para verificar a procedência do produto madeireiro que estão consumindo”, disse Gustavo Vieira, coordenador político do programa. “Tais informações devem ser disponibilizadas de maneira transparente e confiável para permitir que as leis municipais criadas nas Cidades Amigas da Amazônia sejam efetivamente cumpridas”.

A indústria madeireira é uma das principais forças de destruição da Amazônia, maior floresta tropical do planeta. Entre 2001 e 2003, mais de 5 milhões de hectares foram perdidos, o equivalente a nove campos de futebol desmatados por minuto. Cerca de 85% da madeira produzida na região amazônica é consumida no Brasil – a maior parte da matéria-prima é oriunda de desmatamentos irregulares ou da extração ilegal. O Estado de São Paulo consome 20% deste total e a madeira é proveniente principalmente do Mato Grosso, Rondônia e Pará.

Para tornar-se uma “Cidade Amiga da Amazônia”, as administrações devem formular leis municipais que: proíbam o consumo de mogno (3); exijam a apresentação, como parte dos processos de licitação, de documentos que identifiquem a origem legal da madeira (legalidade da cadeia de custódia); evitem o uso de madeira de áreas de desmatamento, dando preferência à madeira proveniente de exploração sustentável (Planos de Manejo Florestal), inclusive madeira certificada pelo FSC (4); orientem construtores e empreiteiros a substituir madeiras descartáveis utilizadas em tapumes, fôrmas de concreto e andaimes por alternativas reutilizáveis como ferro ou chapas de madeira resinada.

“Esperamos que o governo federal siga o exemplo das Cidades Amigas da Amazônia e implemente políticas de consumo consciente em todo o País”, afirmou Frank Guggenheim.


(1) O objetivo do “Cidade Amiga da Amazônia” é que as prefeituras brasileiras implementem políticas de consumo consciente e incentivem o mercado de madeira de manejo sustentável adotando critérios para a compra de produtos madeireiros provenientes da Amazônia.

(2) No Estado de São Paulo, os municípios de Piracicaba, Sorocaba, São José dos Campos, Botucatu e Campinas participam do programa. São José do Rio Preto e Jundiaí já demonstraram interesse e estão em fase de análise do conteúdo. No final de julho, o Greenpeace lançou o “Cidade Amiga da Amazônia” no Rio de Janeiro (RJ), ao denunciar a utilização de madeira amazônica de origem criminosa na reforma dos deques da Lagoa Rodrigo de Freitas.

(3) O mercado de mogno – a mais valiosa madeira da Floresta Amazônica – foi paralisado desde dezembro de 2001, quando o Ibama proibiu a exploração, transporte e comércio da espécie após comprovar a enorme ilegalidade que caracteriza o setor. Ações de fiscalização realizadas nas áreas de extração e nas empresas exportadoras constataram a exploração ilegal em terras indígenas e áreas públicas, fraude e desrespeito à legislação florestal. Em 2003, o governo federal criou uma legislação específica para a exploração de mogno na Amazônia, mas até hoje não existem empresas capazes de realizar o manejo do mogno de acordo com tais padrões.

(4) Atualmente, os melhores padrões e critérios de manejo florestal são os estabelecidos pelo FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal). O FSC é o único sistema de certificação independente que adota padrões ambientais internacionalmente aceitos, incorpora de maneira equilibrada os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos e tem um selo amplamente reconhecido no mundo todo. O sistema FSC assegura a integridade da cadeia de custódia da madeira desde o corte da árvore até o produto final chegar às mãos dos consumidores. O FSC oferece a melhor garantia disponível de que a atividade madeireira ocorre de maneira legal e não acarreta a destruição das florestas primárias como a Amazônia.

Madeireiras clandestinas são abandonadas em Marãiwatsede

A equipe da Funai que deu suporte à reocupação de Marãiwatsede, na terça-feira (10), apreendeu ontem (11) um caminhão com 14 toras de madeira-de-lei retiradas do interior da Terra Indígena. O veículo foi interceptado no posto da Funai montado na área, quando tentava sair com a madeira. O motorista teve as madeiras e o seu caminhão apreendidos, foi autuado e responderá a inquérito na Policial Federal.

Hoje pela manhã, em operação conjunta, equipes da Funai, Ibama e Polícia Federal localizou e fechou duas madeireiras clandestinas no interior da Terra Indígena. Uma, de médio porte, foi autuada em R$25 mil. Os proprietários e empregados da outra madeireira, esta de grande porte, abandonaram o lugar antes da chegada da força-tarefa. Desde terça-feira já se sabia da existência de três madeireiras atuando irregularmente na área.

As denúncias sobre o corte ilegal de madeira foram feitas pelos próprios índios Xavante. As operações em busca de madeireiros que devastam a área continuarão por tempo indeterminado.

Vigilantes – Uma das preocupações dos Xavante quanto à demora da Justiça em permitir o seu retorno à Terra Indígena Marãiwatsede era justamente com a depredação da área por posseiros e outros não-índios que a ocupavam. Temiam, por exemplo, que fosse promovido o desmatamento desordenado, que prejudicaria, entre outras, suas atividades de caça. De acordo com Edson Beiriz, administrador da Funai de Goiânia (GO), que comandou o retorno dos índios à Marãiwatsede, eles estavam certos em suas preocupações.

O presidente-substituto da Funai, Roberto Lustosa, ao saber da notícia sobre os primeiros resultados da operação, afirmou que os índios “são os melhores guardiões de suas terras”. Segundo ele, “as áreas onde há terras indígenas são melhor fiscalizadas, porque os índios são preservacionistas e os primeiros a denunciar a ocorrência de retirada clandestina de madeiras ou outras riquezas naturais”.

Funai reconhece Yvy Katu como terra dos guaranis

O presidente da Funai, Mércio Gomes, em despacho datado de 27 de fevereiro último, aprovou os estudos de identificação da Terra Indígena Yvy Katu, de ocupação do grupo tribal Guarani/Nhandeva, localizada no município de Japorã, Mato Grosso do Sul. A identificação dessa área, com 9.454 hectares, era reivindicada há mais de um século pelos Guarani/Nhandeva. A demora no seu reconhecimento provocou tensão na região, hoje ocupada por 14 fazendas.

Os estudos de identificação concluíram que a área invadida pelos fazendeiros era de fato de ocupação tradicional pela nação Guarani/Nhandeva. Na verdade, Yvy Katu é a denominação dada pelos índios para o espaço territorial identificado, que é uma ampliação da Terra Indígena Porto Lindo.

Etapas – A identificação da terra pela Funai, no entanto, não significa que os índios podem tomar posse das terras reconhecidas imediatamente porque há outras etapas do processo a serem vencidas. Após a publicação do Relatório de Identificação no Diário Oficial da União, abre-se o prazo de 90 dias para que sejam feitas as contestações ao trabalho da Funai.

Recebidas as contestações, a Funai tem prazo de dois meses para analisá-las. O resultado da análise é, então, encaminhado ao Ministro da Justiça, que terá 30 dias para aprovar ou não o trabalho da Funai. No caso de aprovação, o ministro manda publicar portaria declarando a área de “posse permanente da comunidade indígena”.

O próximo passo é a demarcação da terra e, por último, a sua homologação pelo Presidente da República.

Xavantes constroem aldeia provisória ao retornar à reserva

Dois dias depois de voltarem à terra de onde foram expulsos há 40 anos, os índios xavantes Marãiwatsede, do Mato Grosso, levantaram uma aldeia provisória com casas de lona, madeira e palha. As mulheres trabalham na construção enquanto os homens fazem a vigilância da área.

O retorno dos xavantes à reserva foi decidido na última terça-feira (10) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Por unanimidade, o tribunal derrubou liminar que autorizava a entrada de fazendeiros na reserva.

A terra indígena Marãiwatsede está situada no município de Alto Boa Vista (MT) e conta com 165 mil hectares. A reserva estava ocupada por cerca de 400 famílias de posseiros, fazendeiros de soja e madeireiras clandestinas. Os índios xavantes estão, desde a década de 60, fora de sua terra original. Nessa época, o governo de Mato Grosso vendeu a área a um grupo de usineiros do interior de São Paulo e a tribo acabou expulsa. Cerca de 500 índios estavam acampados há quase um ano na BR 158, em Mato Grosso, para reivindicar o direito de voltar à terra.

Por enquanto, os índios vão ocupar apenas uma fazenda de três mil hectares. Os xavantes aguardam o ex-gerente da fazenda para negociar a retirada das máquinas e animais. O irmão do cacique, Rufino, pensa em ficar com o gado caso o ex-proprietário das terras não compense a tribo pelo uso da área "Vamos ter que ficar com o gado porque eles não pagam indenização prá gente. Tanto tempo que ficaram aqui, desde 65… Então, nós temos que aproveitar e cobrar deles", disse Rufino.

Uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) acompanha os xavantes. Eles cuidam da saúde e da alimentação na aldeia que acaba de ser instalada. O professor da tribo, Leonardo, pensa em iniciar as aulas assim que as casas ficarem prontas. Ele ensina a língua xavante, português e matemática .

Marãiwatsede volta às mãos dos Xavante

A decisão retorna aos índios o direito às terras da onde foram retirados há cerca de 40 anos, além de aliviar a situação dos que estavam acampados na beira da estrada há quase nove meses.

Após uma luta de mais de quatro décadas a comunidade indígena Xavante de Marãiwatsede já pode voltar para suas terras. Hoje (10), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu favoravelmente, por unanimidade, pelo retorno das famílias Xavante às áreas que abrigavam suas aldeias até serem expulsos, na década de 60, por fazendeiros e posseiros, com apoio de padres salesianos. A sentença foi proferida pela Ministra Relatora, Ellen Gracie, que contou com votos favoráveis de outros quatro ministros.

“A decisão é histórica, determina o retorno imediato dos Xavante à Marãiwatsede e não há mais controvérsias”, observa o presidente substituto da Funai, Roberto Lustosa, que acompanhou a sessão. O Cacique Stanislau Xavante acompanhou a votação e ao final disse que o povo Xavante de Marãiwatsede poderá finalmente prosseguir com seus esforços para reocupar suas terras, definitivamente, e prosseguir na busca de melhoria de vida.

Inicialmente, as famílias Xavante não poderão ocupar os 165 mil hectares que foram homologados e que de fato lhes pertence. Os posseiros, conforme decisão judicial, continuarão ocupando 40 mil hectares, cerca de ¾ da área, até que seja julgada uma Ação Civil Pública, que corre na 1ª Instância, movida pelo Juiz Federal da 5ª Vara Federal de Cuiabá, José Pires. O Juiz já ouviu as testemunhas, que comprovaram a ocupação da área pelos Xavante, e aguarda tão somente o laudo antropológico do perito também por ele designado.

Esta foi a primeira vez na história da Funai que um Procurador-Geral do órgão fez uma defesa dos argumentos da Funai, na tribuna do STF, ao lado de outros procuradores do Ministério Público. A Funai, afirmou Luiz Soares, não quer agredir o direito de qualquer pessoa, mas é sua obrigação assegurar o direito dos índios, que foi reconhecido pela Justiça. “Além do mais, a Terra Indígena Marãiwatsede foi homologada pelo Presidente da República e não sofreu qualquer contestação”, acrescentou.

Os Xavante, há mais de nove meses acampados à beira da BR-158, vivendo à espera de uma decisão judicial favorável, preparam-se agora para reconstruir suas casas e aldeias na terra de Marãiwatsede, comenta Soares. “A partir de hoje, eles poderão voltar ao lugar de cabeça erguida; A Funai, os índios e todos os indigenistas devem comemorar esta vitória que é resultado de uma luta de quatro décadas”, comemora Lustosa.

Desmatamento diminui biodiversidade em rios da Amazônia

Agência Brasil – Pesquisadores do projeto científico LBA constataram que a qualidade da água do rios está diferente nas áreas desmatadas da Amazônia. Ao analisar pequenos rios, de cerca de dois metros de largura, eles constataram ainda que há redução na diversidade biológica. Esse estudo está em andamento, no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia, e vai ampliar os dados para rios de médio porte, até chegar ao canal principal, o rio Amazonas. A coordenação é do agrônomo Reynaldo Victoria, diretor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP).

Participam, além do CENA, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade de Washington, a Universidade de Rondônia (Unir), a Universidade Federal do Acre, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), além de outros dois institutos de pesquisas americanos, o Marine Biological Laboratory e o Woodshole Research Center.

Reynaldo Victoria enfatiza que as conclusões não apontam para poluição, mas para uma mudança na qualidade química da água, o que já estaria afetando a biodiversidade aquática. “Nos trabalhos de campo, encontramos duas situações distintas. Na área de floresta intocada, encontramos 32 espécies de peixe. Mais à frente, no mesmo rio, mas com a mata devastada, encontramos apenas uma espécie”, revelou.

Segundo o pesquisador, não se sabe até onde vai o efeito e esse é o objetivo do estudo. Os cientistas tampouco sabem se é o desmatamento em si que afeta a composição química da água ou se é a mudança de nutrientes no solo. Nos rios de menor escala analisados, por exemplo, eles encontraram níveis de fósforo 10 vezes maior que o normal, o que provocou a redução de oxigênio dissolvido e a conseqüente proliferação de algas.

Estudos em curso na bacia do Ji-Paraná, rio cuja bacia ocupa mais de 30% do território de Rondônia, devem mostrar como a mudança da qualidade da água pode estar afetando as bacias amazônicas. Ou seja, em rios de média escala. Victoria lembrou que, na década de 80, um grupo formado por pesquisadores do Inpa, do Cena e da Universidade de Washington, realizou estudo para entender como funcionava o ciclo do carbono no rio Amazonas, o que incluía estudar a troca de nutrientes com o solo, a troca de água com a várzea e coleta de dados sobre os recursos pesqueiros.

O pesquisador enfatizou que, embora o estudo de então tenha ajudado a conduzir as pesquisas atuais em menor escala, não é possível ver os sinais das mudanças provocadas na água do canal principal em função do desmatamento. “Até porque o rio é de uma dimensão tal que se chegasse a vermos esses sinais claramente é porque a devastação era tanta que já não haveria mais volta talvez”, constatou.

Para Victoria, o desenvolvimento da região amazônica é até desejável e necessário, mas o pesquisador enfatizou para a necessidade de se fazer uso da floresta de maneira responsável. “O projeto LBA já produziu muita informação para que os tomadores de decisão tomem políticas públicas que permitam um desenvolvimento sustentável da Amazônia”, disse. Os resultados do estudo sobre a hidrologia de superfície na Amazônia foram apresentados por Reynaldo Victoria na III Conferência Científica do LBA, realizada nesta semana em Brasília.

Lana Cristina

Pescadores do São Francisco se beneficiam da informática

Agência Brasil – Desde o final do mês de junho, pescadores da pequena cidade de Morpará, no agreste baiano, viram a informática chegar às suas portas. Por meio de monitores, software livre, internet e boa vontade de uma comunidade que clamava por projetos sociais, eles passaram a conhecer um mundo sem barreiras para a informação.

O projeto é uma iniciativa do governo federal que está sendo desenvolvida em comunidades pesqueiras pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap). O Telecentro de Inclusão Digital de Morpará tem até agora mais de 300 pessoas, a maioria pescadores do rio São Francisco, cadastradas para ter acesso aos computadores e à Internet.

Morpará, que fica a 900km de Salvador, tem pouco mais de oito mil habitantes e o serviço de internet mais próximo fica no município de Xique-Xique, a 90 quilômetros de distância. A cidade também não conta com outros confortos da vida moderna, como telefonia celular.

Acostumados com as dificuldades impostas pela falta de estrutura, o Telecentro de Inclusão Digital tem trazido o acesso às novas tecnologias, a ampliação das relações, o acesso à Internet e a democratização da comunicação, possibilitando a troca de experiências e resultados com outras comunidades conectadas à Internet.

De acordo com a gerente do projeto em Brasília, Adriane Lobo Costa, os Telecentros vão muito além da informática. “Estes centros são locais de interação onde os moradores podem trocar idéias, informações, criar grupos de discussões, desenvolvendo a economia do local”, analisa “Queremos que a comunidade pesqueira tenha acesso às informações que normalmente eles não têm”, informa Adriane.

Idalton Martins, que nasceu e cresceu em Morpará, hoje é o coordenador da organização não- governamental Associação Comunitária de Ação Social e foi um dos responsáveis pela implantação do projeto naquela localidade. Segundo ele, a ONG fez solicitações a vários ministérios para serem contemplados por projetos sociais. “Ficamos muito felizes ao sermos atendidos pela Seap”, disse.

“Queremos agora trazer projetos de hortas comunitárias, marcenaria, escola de música, fruticultura e outros para que a comunidade aprenda ofícios e desenvolva o cooperativismo”, ressalta Martins, acrescentando que a entidade já está em contato com uma ONG da Alemanha que vai fazer um projeto para incentivar a criação de cabras nas famílias de Morpará.

No Telecentro de Morpará, o estudante José Renato Benevides, de 18 anos, tem aulas de informática durante uma hora, três vezes por semana. Os trinta primeiros minutos são voltados para o aprendizado de digitação e manuseio das máquinas. Durante a meia hora seguinte, Renato acessa a Internet, confere as mensagem na sua conta de e-mail, faz pesquisas para o colégio e dá uma olhada nos sites sobre programas do governo.

“Como esse ano tem eleições, aproveito para procurar informações sobre os candidatos à prefeito aqui da minha cidade e suas propostas de governo”, explica Renato, lembrando que com a internet a comunidade tem buscado informações sobre projetos governamentais como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Segundo o coordenador Idalton Martins, a comunidade já está pedindo a aprovação do crédito para a pesca. Ele informou, ainda, que a comunidade de Morporá está elaborando um site para divulgar o Telecentro. Quem quiser entrar em contato com os moradores pode enviar mensagens para o e-mail: projetobelem@ig.com.br.

Os dez computadores do Telecentro funcionam com software livres e foram doados pelo Banco do Brasil. O acesso à Internet é disponibilizado pelo Ministério das Comunicações. A Secretaria de Aqüicultura e Pesca pretende instalar pelo menos um Telecentro de Inclusão Digital em cada estado brasileiro.

De acordo com a gerente do projeto em Brasília, Adriane Lobo Costa, cinco unidades do projeto já foram instaladas. “Estamos buscando mais sete convênios com organizações não- governamentais para fechar os 27 estados”, explica Adriane. O próximo Telecentro será instalado em Cabo Frio (RJ). Já estão funcionando os projetos em Laguna (SC), Lagoas (MS), onde há três, e em Belém (PA).

As comunidades que quiserem ter um Telecentro de Inclusão Digital devem se organizar, disponibilizar um espaço, o mobiliário e a instalação elétrica. A Secretaria de Aqüicultura e Pesca doa todo o equipamento de informática. “A gestão também fica por conta da comunidade que forma conselhos gestores para dar continuidade ao projeto”, finaliza Adriane Lobo Costa.

Bianca Estrella