Semana do índio

Funai – Entrega de medalhas, assinatura de protocolo de intenções, exposições, danças e vídeos são algumas das atividades da Semana do Índio, entre os dias 19 e 23 de abril, na sede da Funai, em Brasília, que este ano homenageará o povo Xavante. A abertura será dia 19, Dia do Índio, às 9h, na Artíndia, com a exposição de fotos Marãiwaséde – resistência de um povo, seguida de apresentação de dança Xavante.

À tarde, a partir das 16h, no auditório da Funai, ocorrerá a assinatura do protocolo de intenções para a realização do Censo Indígena com o IBGE, a solenidade de lançamento do Selo Orlando Villas Bôas, recepção Xavante e a cerimônia de entrega da Medalha do Mérito Indigenista.

Programação:

19 de Abril
9h00 – Abertura da Semana do índio – Loja Artíndia (Funai)
9h10 – Abertura da Exposição Marãiwaséde – Resistência de um povo – Loja Artíndia (Funai)
9h30 – Apresentação de Dança Xavante – Térreo (Funai)
10h30 – Abertura da Exposição O índio e o Meio Ambiente – Projeto Maloquinha (Funai)
16h00 – Assinatura, com a presença do Presidente do OBGE, de Protocolo de Intenções para a realização do Censo Indígena Nacional – Auditório (Funai)
16h30 – Lançamento do Selo Orlando Villas Bôas, com a presença do Presidente da Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos – Auditório (Funai)
17h00 – Recepção Xavante, seguida da Cerimônia de entrega da Medalha do Mérito Indigenista – Auditório (Funai)

20 de Abril
9h30 – (1ªsessão)/15h00(2ªsessão)
Histórias Xavante, contadas por indígenas – Projeto MALOQUINHA (Funai)
Exibição de vídeo Araweté – Auditório (Funai)
10h30 – (1ªsessão)/14h00(2ªsessão)
Exibição do vídeo A´uwê Uptabi – O Povo Verdadeiro – Auditório (Funai)

22 de Abril
15h00 – Lançamentos dos livros:
Aldeamento do Carretão segundo seus herdeiros tapuios – Conversas gravadas em 1980 e 1983 – Rita Heloísa de Almeida;
Linhas telegráficas e integração de povos indígenas: As Estratégias Políticas de Rondon (1889-1930) – Elias dos Santos Bigio – Auditório (Funai)
15h00 – Apresentação de Dança Xavante – Projeto Maloquinha (Funai)

23 de Abril
10h30 – Lançamento do livro: Os povos indígenas e a construção das políticas de saúde no Brasil – Luiza Garnelo – Projeto Maloquinha (Funai)
9h30 – Apresentação de Dança Xavante – Projeto Maloquinha (Funai)
09h30(1ªsessão)/15h00(2ªsessão)
Exibição do vídeo Hetohoky – A festa do Menino Karajá – Auditório (Funai)

Outros eventos

O Terraço Shopping também promoverá a Semana do Índio. Estão previstas entre outras atividades, vídeos, exposições de fotos, visitação de escolas, pinturas com crianças, artesanato e tapiri. No dia 23, às 18h, haverá apresentação de dança Xavante.

No Memorial dos Povos Indígenas, a apresentação Xavante será dia 20, às 14h30.

No saguão da Biblioteca Reitor João Herculino, do UniCEUB, haverá exposição de fotos sobre o cotidiano na aldeia, no período de 16 de abril a 4 de maio.

Povo Xavante

Autodenominados Akwe, os Xavante, localizados no estado do Mato Grosso, constituem com os Xerente do Tocantins, o ramo Acuen dos povos da família lingüística Jê do Brasil Central. São conhecidos também por A`uwe, Awen e Akwen. Na literatura, os Xavante são conhecidos pela organização social do tipo dualista. Trata-se de uma sociedade em que a vida e o pensamento de seus membros estão permeados por um princípio didático, que organiza a percepção do mundo, da natureza, da sociedade e do próprio cosmos como estando permanentemente divididos em metades opostas e complementares.

Porque dia 19 de Abril é o Dia do Índio?

Funai – Em 1940 realizou-se, na cidade de Patzcuaro, no México, o I congresso Indigenista Internacional, com objetivo de debater assuntos relacionados às sociedades indígenas de cada país. Foram convidados representantes de todos os países do continente americano.

Os índios, principal motivo do evento, receberam o convite de honra, entretanto, por terem sido, ao longo de sua história, perseguidos e traídos pela sociedade envolvente, optaram por manterem-se afastados. Vários e insistentes convites foram feitos na tentativa de faze-lo participar do congresso. Ao fim de alguns dias, na medida em que se inteiravam dos reais propósitos da reunião, de sua importância para a luta por garantias de seus direitos, resolveram participar de forma efetiva nas reuniões de Patzcuaro.

Esse momento, por sua importância na história do indigenismo das Américas, motivou os Congressistas a deliberarem no sentido de instituir o dia 19 de Abril como o “Dia do Índio”.

O I Congresso Indigenista Interamericano foi um evento importante, não só por ter instituído o “Dia do Índio”, mas principalmente por ter deliberado a criação do Instituto Indigenista Internacional, com sede no México, cuja finalidade é zelar péla garantia dos direitos indígenas nas Américas. Ao Instituto Indigenista Interamericano encontram-se ligado os Institutos Indigenista Nacionais.

O governo brasileiro, por questão de política interna, não aderiu de imediato às deliberações desse Congresso, somente em 1943, graças aos apelos e intervenções formulados pelo Marechal Rondon é que o então Presidente da República, Getúlio Vargas, determinou a adesão do Brasil ao Instituto Indigenista Interamericano, como também instituiu o dia 19 de abril como o “Dia do Índio”, por meio do Decreto – Lei N.° 5. 540.

Se por um lado é importante ter uma data para que a sociedade nacional comemore e reflita sobre as sociedades indígenas, por outro lado é lamentável que as atenções estejam voltadas para esses povos por apenas um dia ou uma semana. O ideal é a conscientização nacional de que o Brasil é um país pluriético e que é preciso construir um cotidiano de convivência pacífica, de respeito e aprendizado mútuo.

Funai rebate críticas de Ivo Cassol

Agência Brasil – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, rebateu críticas do governador de Rondônia, Ivo Cassol, à forma de atuação da Funai na reserva indígena Roosevelt. “Vejo com preocupação um governo que tem obrigação de zelar pela paz, que deveria apaziguar os ânimos da população, tentando encontrar bode expiatório e falso culpado em um momento de tanta dor para as famílias”, afirmou Gomes.

Nesta tarde, em encontro com moradores de Espigão D´Oeste, o governador de Rondônia reclamou da forma como a Funai conduziu as investigações sobre os confrontos entre índios e garimpeiros. “Se o pessoal da Funai tivesse liberado a polícia para entrar na reserva na quinta-feira da semana santa, não teriam ocorrido outras mortes”, acusa Cassol.

De acordo com ele, além dos três corpos encontrados na região há uma semana e dos cerca de 26 encontrados na última sexta-feira, restam ainda 35 garimpeiros desaparecidos. Há três dias, uma equipe com 30 policiais federais e 15 técnicos da Funai está acampada na reserva com a missão de cuidar dos corpos.

Os cerca de 26 mortos foram localizados a partir de informações dos próprios índios e de garimpeiros que invadiram a reserva em busca dos colegas desaparecidos. A mata densa e chuva impediram o resgate dos corpos neste domingo. Uma clareira de 1 hectare foi aberta na área para facilitar o pouso do helicóptero que levará os mortos para o Instituto Médico Legal de Porto Velho.

Governador de Rondônia reclama da ação da Funai na reserva Roosevelt

O governador de Rondônia, Ivo Cassol, passou a tarde reunido com políticos e moradores de Espigão D´Oeste, cidade a 500 km da capital do estado. No encontro, Casso reclamou da forma como a Fundação Nacional do Índio (Funai) conduziu as investigações sobre os confrontos entre índios e garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, a 80 km de Espigão.

“Se o pessoal da Funai na reserva tivesse liberado a entrada das polícias, militar e federal, na reserva, na quinta-feira da semana santa, não teriam ocorrido outras mortes”, acusa Cassol. De acordo com ele, além dos três corpos encontrados na região há uma semana e dos cerca de 26 localizados (porém ainda não resgatados) na última sexta-feira, restam ainda 35 garimpeiros desaparecidos.

“Houve um primeiro conflito no início da semana santa que levou à morte de uns 15 garimpeiros. Os outros foram amarrado em árvores, capados, torturado e queimado durante dias”, afirma o governador, que viu os três primeiros corpos e se diz “revoltado” com a postura adotada pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, perante o caso. “Não compactuo de forma alguma com o presidente da Funai quando ele lamenta pelos garimpeiros, mas diz que os índios agiram em defesa da terra. Imagine se todo proprietário de terra fizesse como os índios.”

Em entrevista à Agência Brasil, Cassol disse não ter críticas à ação do Ministério da Justiça e da Polícia Federal. Mas afirma que, esta semana, irá apresentar uma série de investigações para o governo federal. “Quero que sejam investigadas as denúncias de que os garimpeiros estavam lá contratados pelos próprios índios e de que o confronto teria ocorrido na hora da partilha do diamante”, contou o governador.

Cassol também pretendo sugerir a presença do Exército na região e a legalização da exploração do diamante na reserva Roosevelt. “É a maior jazida do mundo”, avisa o governador. “Não podemos entregá-las a empresas mineradoras. A agência deve ficar responsável pela compra dessa riqueza.”

Juliana Cézar Nunes

Leia mais sobre o conflito:

– Líder indígena pede cuidado na questão dos Cinta-Larga (18/04/2004)

– Garimpeiros e Cinta-larga se enfrentam (17/04/2004)

– Funai desmente ameaça de invasão de terra dos Cinta Larga (02/05/2003)

– Funai atua em área dos Cinta Larga (16/10/2003)

– Cinta Larga em pé de guerra (20/10/2003)

– Recrudesce o conflito entre Cinta-Larga e garimpeiros (21/10/2003)

Garimpeiros e Cinta-larga se enfrentam

Agência Brasil – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, disse hoje que tem informações sobre a existência de mais mortes de garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia. Gomes foi informado de cerca de 20 mortes por 15 técnicos da Funai que estiveram na tribo nesta semana.

Segundo os técnicos, ocorreram dois confrontos entre garimpeiros e índios. Em um deles, morreram três garimpeiros, cujos corpos foram encontrados domingo passado pela Polícia Federal. O outro confronto teria resultado cerca de 20 mortos, cujos corpos ainda não foram resgatados. A Polícia Federal está no local, neste momento, com 50 agentes e cinco helicópteros em busca dos corpos.

Ameaçados por garimpeiros, índios fogem de Espigão D’Oeste (RO)

Cerca de 50 índios da etnia Cinta-Larga fugiram, neste sábado, da cidade de Espigão D´Oeste, em Rondônia. De acordo com o comandante da Polícia Militar, na região, Firmino Aparecido, homens, mulheres e crianças deixaram as próprias casas porque foram ameaçados de morte por garimpeiros. “Eles disseram que vão buscar ajuda na sede da Funai em Cacoal, cidade que fica perto daqui”, revelou à Agência Brasil o comandante da PM.

A tribo Cinta-Larga é acusada de promover, há dez dias, uma chacina contra garimpeiros que invadiram a reserva indígena Roosevelt. No último domingo, três corpos foram encontrados na área pela Polícia Federal. Revoltados, no mesmo dia, 20 garimpeiros entraram na reserva, onde teriam encontrado outros 26 corpos. Neste momento, 50 agentes e cinco helicópteros da PF trabalham nas buscas às possíveis novas vítimas.

“Os garimpeiros estão impacientes. Eles não acreditam mais na Polícia Federal. Disseram que se os agentes não retirarem os corpos hoje, outros homens vão entrar lá, com a imprensa, para filmar os mortos”, conta o comandante da PM em Espigão D´Oeste, cidade a 100 quilômetros da reserva dos Cinta–Larga.

Firmino Aparecido não confirma a informação de que policias do Batalhão Ambiental teriam encontrado os 26 novos corpos. Segundo ele, o Batalhão tem uma barreira a 11 km da reserva e não tem autorização para entrar na área.

Polícia Federal não confirma morte de 26 garimpeiros em Rondônia

Até o momento a Polícia Federal de Rondônia não confirmou a morte de 26 garimpeiros na Reserva indígena Roosevelt, nem Rondônia. A informação foi dada agora há pouco pelo Superintendente da Polícia Federal de Rondônia, Marcos Aurélio Pereira de Moura, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília.

Ele afirmou ainda que 50 homens da Polícia Federal e da Funai estão atuando na região para investigar essa informação da morte dos garimpeiros, que teriam sido atacados pelos índios cinta-larga. Marcos Aurélio Pereira de Moura disse também que mais dois helicópteros estarão sobrevoando a área da reserva indígena hoje à tarde para fazer uma varredura completa com o objetivo de comprovar a existência ou não desses corpos.

“Nós estamos no local para verificar se ocorreram essas mortes. Nós não desprezamos esta informação de que 26 garimpeiros que trabalhavam ilegalmente na reserva morreram”, lembrou o superintendente da Polícia Federal.

Marcos Aurélio Moura finalizou dizendo que logo que a Polícia Federal e a Funai concluam a investigação, a informação será divulgada.

Juliana Cézar Nunes, Rosamélia de Abreu

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Desmatamento na Amazônia é 2% superior a 2002

Ministério do Meio Ambiente – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, anunciaram ontem (07/04) que a taxa de desmatamento da Amazônia para o período de agosto de 2002 a agosto de 2003 foi estimada em 23.750 km². A taxa é 2% superior à de 2001/2002, recalculada em 23.266 km². O dado positivo, segundo a ministra, é que o crescimento na devastação da Amazônia foi brecado, pois na aferição anterior, o crescimento da destruição da floresta chegou a 28%. Mesmo com a queda no ritmo de desmatamento, Marina Silva considera os índices ainda  elevados.

A taxa de desmatamento é estimada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em 77 imagens de satélite de áreas críticas de desmatamento na Amazônia. Segundo a ministra, é preciso uma atuação conjunta da sociedade para reduzir o desmatamento na região. “Combater o desmatamento não é ação para poucos, é ação de país”, afirmou.

Ela destacou que diversas áreas de governo estão atuando no combate ao desmatamento na região, com recursos e pessoal disponibilizados por diversos ministérios. O orçamento do  Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado em 15 de março, é de R$ 394 milhões. A expectativa da ministra é que as ações do governo propiciem a redução da taxa a partir de 2004. Entre as ações estão a intensificação da fiscalização, que será realizada de forma integrada com os ministérios da Justiça, Desenvolvimento Agrário, do Trabalho, Fazenda e Defesa. “Sabíamos que o problema não podia ser resolvido em um ano. Preferimos atuar com ações estruturantes e esperamos dar uma resposta a partir de 2004”, disse a ministra Marina Silva.

Para o ministro José Dirceu, embora o ritmo do crescimento tenha sido estancado, as taxas ainda estão em patamares intoleráveis. Ele anunciou a assinatura do acordo de cooperação entre os ministérios que irá permitir a fiscalização conjunta.”Essas taxas são intoleráveis. Enfrentamos um problema que requer ação conjunta de governo”, afirmou o ministro.

Desmatamento acumulado – O desmatamento acumulado na Amazônia, calculado pelos critérios do Inpe, chega a 652.908 km², o equivalente a 16,32% da área de floresta da Amazônia. Estima-se que mais de 25% da área total desmatada na região amazônica, em torno de 165.000 km2, encontram-se abandonados ou sub-utilizados, muitas vezes em estado de degradação. Somente no Estado de Mato Grosso, há entre 12 e 15 milhões de hectares abandonados. Este desperdício torna-se mais grave quando se considera que novas áreas continuam sendo desflorestadas para a expansão de atividades agropecuárias, sem a utilização adequada de grande parte das áreas já abertas.

Segundo dados do IBGE,  24% da Amazônia são reclamados como área privada; 29% são áreas legalmente protegidas, incluindo as Unidades de Conservação e Terras Indígenas, e 47% são terras públicas ou devolutas com pequeno controle do poder público.

Miséria atinge 33% da população brasileira

Agência Brasil – Os miseráveis no país somam 33% da população e têm renda mensal abaixo de R$ 79,00. A erradicação da pobreza seria possível com a contribuição mensal de R$ 14,00 de cada brasileiro que está acima da linha de pobreza, o que daria um montante de R$ 2 bilhões por mês para investimentos em programas sociais. O cálculo consta do Mapa do Fim da Fome II, divulgado nesta quinta-feira pela Fundação Getúlio Vargas, Sesc Rio e pela Organização Não-governamental Ação da Cidadania.

O estudo localiza a miséria em cada unidade da federação. Detalha as condições sócio-econômicas e mostra que a pobreza agora se espalhou pelas grandes cidades, enquanto na década passada estava concentrada nas periferias. “As grandes cidades foram atingidas pela crise social dos anos 90 e agora faltam políticas públicas integradas para resolver os dois principais problemas, que são a violência e o desemprego”, avalia o economista Marcelo Nery, coordenador da pesquisa.

O estudo mostra a relação direta do desemprego com a fome e a pobreza. Nas favelas do Rio de Janeiro o índice de desemprego atinge 19% da população. No Estado, a taxa é de 9%.

Ainda sobre as favelas cariocas, a pesquisa destaca que a Rocinha, a maior da América Latina e palco da guerra de traficantes de drogas nos últimos 10 dias, tem o nível de escolaridade mais baixo do Rio e a quarta menor renda da cidade.

Cristiane Ribeiro

Antropólogos enviam carta a Lula em defesa da homologação de Raposa Serra do Sol

Instituto Socioambiental – A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) manifestou-se, mais uma vez, em defesa da homologação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), em carta enviada ontem ao presidente Lula [ leia na íntegra abaixo].

“É com base no acúmulo de conhecimentos, ao longo de mais de duas décadas atuando em processos de identificação de terras indígenas e de quilombos, que cremos, em vista dos estudos antropológicos idôneos que informam a demarcação já realizada da área Raposa-Serra do Sol, que a solução de uma demarcação contínua não apenas fará justiça aos direitos que arduamente vêm sendo reivindicados pelos Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Taurepang, Patamona, vítimas de toda sorte de violência na região, mas também porá fim a um foco de tensões que a demora na homologação só tem levado a incrementar. Entendemos que os brasileiros indígenas ocupantes da região são dela os verdadeiros guardiões. Não duvidamos de que V. Excia. optará pelos signos de um desenvolvimento sustentável, adequado ao meio-ambiente da região, emblema de um novo Brasil, onde o Estado não mais sustentará elites improdutivas através de múltiplos incentivos financeiros”, ressalta o documento, assinado pelo presidente da ABA, Gustavo Lins Ribeiro.

Também ontem Lula esteve reunido no início da noite com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Articulação Política), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), José Viegas Filho (Defesa), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Celso Amorin (Relações Exteriores) e Marina Silva (Meio Ambiente) e os presidentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Gomes, e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, para discutir a homologação da TI Raposa Serra do Sol. O presidente estabeleceu um prazo de 15 dias para que seja apresentada pelo governo uma “solução definitiva” para o caso.

Diante do impasse do governo Lula em relação à Raposa Serra do Sol, pronta para ser homologada desde o fim do governo FHC, diversas manifestações antiindígenas e extemporâneas ao processo demarcatório de Terras Indígenas têm surgido, como a criação em fevereiro deste ano de uma comissão externa na Câmara dos Deputados para “avaliar a demarcação da terra indígena”, cujo relato propõe que sejam excluídos da área a ser homologada 12 mil hectares de terras griladas por arrozeiros; Uiramutã, base de apoio do garimpo transformada em município, ainda sub júdice, em 1997; e uma faixa de terra de 15 quilômetros ao longo da faixa de fronteira com a Venezuela e Guiana, deverá ser votado amanhã (14/4).

A votação será acompanhada por dezenas de lideranças indígenas que se mobilizam em Brasília nesta semana, promovendo diversas manifestações até a próxima segunda-feira [Dia do Índio], como uma vigília em frente ao Palácio do Planalto a partir de hoje.

Carta da ABA ao presidente Lula

Brasília, 12 de abril de 2004

Ofício nº 52/ABA/PRES

Exmo Sr.

Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente da República Federativa do Brasil

Palácio do Planalto

Brasília – DF

Sr. Presidente.

A Associação Brasileira de Antropologia vem expressar junto a V. Excia., de conformidade com a posição de um conjunto de entidades das sociedades civil e política brasileiras, sua posição de defesa da homologação da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em área contínua, com ações de retirada de ocupantes não-índios e da sede do município de Uiramutã de seu perímetro, conforme estabelecido na portaria ministerial nº 820/98, consoante a defesa da legalidade e dos princípios de um Estado de Direito como consagrados na Constituição de 1988.

Ao longo de seus 50 anos de existência, nossa associação, a mais antiga sociedade científica na área das ciências sociais no Brasil, e uma das três maiores associações antropológicas no mundo, esteve engajada em numerosas causas sociais, de acordo com o imperativo de responsabilidade moral e ética que impele o antropólogo à defesa dos grupos socialmente minoritários com que trabalha. Não nos faltaram momentos para demonstrar esse compromisso, em tempos de regime ditatorial ou na democracia. Nosso fazer profissional, nosso compromisso moral e ético têm nos colocado diante da situação de agirmos fundamentando as bases da ação de Estado no reconhecimento dos direitos indígenas aos territórios que tradicionalmente ocupam, seja sob a forma de relatórios originados no trabalho de identificação dessas terras, seja sob a forma de laudos periciais para fins judiciais.

É com base no acúmulo de conhecimentos, ao longo de mais de duas décadas atuando em processos de identificação de terras indígenas e de quilombos, que cremos, em vista dos estudos antropológicos idôneos que informam a demarcação já realizada da área Raposa-Serra do Sol, que a solução de uma demarcação contínua não apenas fará justiça aos direitos que arduamente vêm sendo reivindicados pelos Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Taurepang, Patamona, vítimas de toda sorte de violência na região, mas também porá fim a um foco de tensões que a demora na homologação só tem levado a incrementar. Entendemos que os brasileiros indígenas ocupantes da região são dela os verdadeiros guardiões. Não duvidamos de que V. Excia. optará pelos signos de um desenvolvimento sustentável, adequado ao meio-ambiente da região, emblema de um novo Brasil, onde o Estado não mais sustentará elites improdutivas através de múltiplos incentivos financeiros.

Nesse ato que será, de certo, um divisor de águas na ação indigenista governamental em sua gestão, esperamos ver que a intensa campanha mantida até agora por forças sociais freqüentemente marcadas pelo racismo, pelo desejo de manutenção de privilégios que têm assegurado as desigualdades sociais, pelo desconhecimento do Estado de Direito em nosso país e do caráter pluriétnico da nação brasileira, encontrará finalmente resposta à altura e digna da proposta de governo de V. Excia.

Na certeza de que V. Excia. homologará de forma contínua a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a ABA coloca-se à disposição para contribuir na direção do pleno reconhecimento dos direitos indígenas no Brasil.

Atenciosamente,

Gustavo Lins Ribeiro

Presidente

Cc.: Vice-Presidente da República – José Alencar Gomes da Silva

Ministro da Articulação Política – José Aldo Rebelo Figueiredo

Ministro Chefe da Casa Civil – José Dirceu de Oliveira e Silva

Ministro da Justiça – Márcio Thomaz Bastos

Planalto vai retardar a homologação da terra indígena Raposa-Serra do Sol

Instituto Socioambiental – O Presidente Lula reuniu-se ontem no final da tarde por cerca de três horas com os ministros da Defesa, José Viegas, das Relações Exteriores, Celso Amorim, da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, do Meio Ambiente, Marina Silva, da Casa Civil, José Dirceu, com o Ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, com Secretário Geral da Presidência, Luiz Dulci, com os presidentes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) Rolf Hackbart e da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Gomes e com o senador Sibá Machado (PT/AC) e o deputado Lindberg Farias (PT/RJ). Em discussão, o relatório apresentado pelo deputado e os procedimentos que o governo deverá tomar no sentido de resolver o impasse criado em torno da homologação da TI Raposa-Serra do Sol.

Sabe-se que as propostas contidas no relatório de Farias receberam críticas, especialmente no item que se refere a deixar de fora da área demarcada 15 km de faixa de fronteira e que foi pedido aos parlamentares do PT que não se afastassem dos compromissos programáticos do partido, que prometeu homologar Raposa-Serra do Sol.

A homologação daquela terra indígena esperada para o dia 19 de abril, em que se comemora o Dia do Índio, vai ser adiada, possivelmente até fins de abril, início de maio. O Presidente da República quer que o pacote de medidas compensatórias fique pronto, para resolver a contento a situação dos arrozeiros que invadiram as terras indígenas e espera receber os relatórios das comissões externas designadas para estudar o assunto. Ao que tudo indica, esses agricultores receberão outras terras. Ao secretário Luiz Dulci coube a tarefa de apresentar o pacote de medidas para viabilizar a homologação da Raposa em área contínua conforme determinou a portaria 820/98, remetendo as pendências para serem resolvidas pós-homologação.

Em entrevista à Agência Brasil na noite de ontem, Dulci não quis adiantar as medidas a serem anunciadas. Ressaltou, apenas, que irão abrigar ações como a regulamentação fundiária no estado, bem como a transferência de terras da União para Roraima, obras de infra-estrutura e abertura de linhas de crédito. Disse ainda que o governo buscará uma solução global para o Estado, “uma boa solução para os índios e uma boa solução para o desenvolvimento econômico e social de Roraima.”

Entretanto, permanece sem perspectiva de solução a questão do município de Uiramutã. Encravado no meio da TI desde 1996 e criado depois da demarcação, a área do município foi deixada de fora pelo deputado Lindberg em seu relatório.

Professor indígena é espancado por garimpeiros em Rondônia

Funai – A Fundação Nacional do Índio (Funai) lamenta profundamente o ato de selvageria de garimpeiros de Espigão d´Oeste, em Rondônia, praticado contra o professor indígena Marcelo Kakin Cinta-Larga, na tarde de sábado, quando um grupo de garimpeiros e seus familiares arrancaram o professor de dentro de um táxi, no centro do município, próximo a uma delegacia de polícia, e o espancaram brutalmente. Os maus-tratos cometidos contra o índio simbolizaram em fúria uma resposta mal dada da população em razão dos conflitos em áreas de garimpo, onde o confronto entre garimpeiros e índios resultou na morte de três pessoas que invadiram a terra indígena dos Cinta-Larga junto com outras dezenas de garimpeiros, fortemente armados, na última quarta-feira.

No caso da sevícia contra Marcelo Kakin, que não participou da luta das lideranças de sua etnia com os garimpeiros, os atos de barbaridade são de flagrante agressão também aos princípios mais elementares dos direitos humanos. Diante das atrocidades praticadas contra o professor, a Funai informa que está acompanhando ação civil em nome do próprio Marcelo contra os responsáveis pelas lesões identificadas no corpo do índio pelos médicos do Instituto de Medicina Legal de Rondônia. Foram feitos exames de corpo delito e a ação pede indenização por perdas e danos morais e materiais. Outra ação de reparação criminal contra os responsáveis pela agressão está sendo movida pelo Ministério Público Federal, como manda a Constituição.

Nesta ação serão discutidos vários pontos de vital importância no processo, entre eles o cárcere privado, as lesões corporais e todos os agravantes da situação em que o índio se encontrava. Ele permaneceu amarrado em uma árvore de uma praça pública, após ser cruelmente agredido a socos, pedradas e ponta pés por um grupo de habitantes de Espigão d´Oeste, que, na verdade, estava disposto as promover um linchamento. O que não aconteceu porque a Polícia Militar local conseguiu negociar com os agressores fazendo um cordão de isolamento entre o índio e multidão. Depois de ser exposto à fúria dos garimpeiros, em praça pública, Marcelo foi transferido para um ginásio de esportes, onde prosseguiram as negociações sobre a sua liberação, o que veio a acontecer, de fato, por volta de uma hora da manhã do domingo.

A Funai vem a público protestar contra as ações da população daquele município, que humilhou, espancou, seviciou um ser humano da forma mais violenta possível, em pleno sábado de Aleluia, como se o professor Marcelo representasse uma imagem da figura do Cristo Crucificado, que também sofreu o martírio das dores físicas e da humilhação, em seu Calvário de sangue, há dois mil anos. Fica uma pergunta no ar: o que fez o Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia, que tem unidade de representação no município de Espigão d´Oeste, para impedir esse ato de brutalidade contra o índio? Onde estavam seus líderes na hora em que quase lincharam um inocente em plena luz do dia? Além de mostrar aqui a sua indignação, a Funai informa que está acompanhado de perto ações movidas contra os agressores e espera que o Ministério aja com rapidez para punir os culpados.

Filhote de peixe-boi resgatado no Amapá

Ibama – Um filhote de peixe-boi de aproximadamente dois meses, medindo 85 centímetros, foi resgatado próximo a uma comunidade de pescadores, no rio Pirativa, no Amapá. O peixe-boi está enquadrado na categoria vulnerável, da Lista Nacional de Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção. Ele foi enviado para a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Revecon, em Macapá, de onde deverá ser transferido para um centro de reabilitação supervisionado pelo Ibama/Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos (CMA), em Santarém (PA).

Segundo o médico pediatra Paulo Roberto Neme do Amorim, proprietário da RPPN, trata-se de um filhote do tipo Manati do Amazonas (peixe-boi de água doce que vive na bacia amazônica). “Ele foi encontrado machucado com sinais de mordida de boto e uma marca onde possivelmente teria sido amarrado. Quando chegou fizemos uma assepsia geral e uma esfoliação com bucha vegetal e anti-sépticos, para evitar alguma infecção”, comenta o médico.

Ele disse que o sargento Saulo, do Batalhão Ambiental (AP), relatou o resgate informando que durante uma patrulha de rotina na região pescadores avisaram aos policias que os botos estavam atacando um peixe-boi. Ao averiguarem o fato eles encontraram o filhote que foi recolhido e colocado em um pequeno cercado para ser encaminhado ao Ibama, em Macapá. Por falta de um centro de recuperação de animais no estado o peixe-boi foi transferido para a RPPN, onde, após uma avaliação feita por um médico veterinário, está sendo mantido em uma banheira.

O proprietário da Reserva – onde vivem outros animais encaminhados pelo Ibama – informou que o filhote está com boa saúde e, apesar de ter chegado ao local com dores devido as mordidas dos botos, já está bem. “Ele está sendo alimentado com uma mistura láctea estabelecida pelo pesquisador Z. M. Chacon, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), polivitaminas, gramíneas, alface e capim. Mama de 30 a 40 mililitros de hora em hora, o que dá pouco mais de um litro por dia”, explica Paulo Amorim.

Segundo o médico o filhote poderá ficar na banheira por mais 15 a 20 dias, quando então, caso não seja transferido pelo Ibama, ganhará uma acomodação melhor na Reserva, “podendo, inclusive, ser acolhido permanentemente”.

O Núcleo de Fauna do Ibama em Macapá informou que já foram realizados os contatos com o CMA, para a transferência do filhote para Santarém, o que deverá acontecer por via aérea.

A RPPN – A Reserva Particular do Patrimônio Natural – Revecon, em Macapá, foi decretada em 1996. Está localizada na margem do rio Amazonas e possui 17 hectares. Em seu interior existe uma micro bacia completa, a do Igarapé Mangueirinha.

Ela vem sendo utilizada como centro de recuperação de animais silvestres e possui uma pequena fauna. No local podem ser vistos antas, caititus, quatis, lontras, onça pintada, araras, cachorro do mato, tartarugas do Amazonas, passeriformes como araponga do nordeste, corrupião, cardeais, sabias e outros.

O proprietário da Reserva informou que utiliza o local para triagem e recuperação de animais silvestres que, quando em condições, são posteriormente soltos, e para educação ambiental. Ele conta que recebe muitas turmas de estudantes. Durante a visita na Reserva ele vai explicando o meio ambiente para os alunos e muitos deles se surpreendem de encontrar tão próximo os animais da fauna silvestre. “O sonho da causa ambiental tem que ser plantado na cabeça do jovem”, afirma Paulo Amorim.