Pesquisadores iniciam este mês inventário do rio das Mortes

Estação Vida – Uma equipe de 12 pesquisadores da Unemat  estará participando de uma expedição científica pelo rio das Mortes, saindo de Nova Xavantina em direção ao lago do Sucumira, próximo ao município de Nova Xavantina . O objetivo principal da expedição é fazer um inventário da fauna e flora do Parque Estadual do Araguaia, município de Novo Santo Antônio.

A coordenadora da pesquisa, professora especialista em entomologia, Helena Soares Ramos Cabedde explicou à Estação Vida que já foi realizado um primeiro levantamento no período de seca , identificando plantas, peixes, aves, mamíferos e invertebrados. O inventário é necessário para que o governo do Estado, através da Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fema, faça o plano de manejo da unidade de conservação e a partir daí possa realizar outras ações de preservação do ecossistema..

Também fazem parte do inventário, a margem esquerda do rio das Mortes e a reserva indígena Pimentel Barbosa, dos Xavantes. Serão 10 dias num barco com uma equipe de pesquisadores e estudantes da Unemat , com financiamento do Probio – Programa de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente – MMA.

Mais informações : hcabedde@uol.com.br

A Amazônia não pode ser apenas um santuário

Agência Brasil – “Nós não podemos considerar a Amazônia apenas como um santuário ecológico que ninguém pode tocar”, reage Leide de Aquino, presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA),  que reúne 430 entidades, numa longa conversa sobre os movimentos comunitários da Região Norte. Quando lhe é perguntado o que é mais importante , na Amazônia,  o jacaré ou as pessoas, responde sem titubear: “Com certeza, são as pessoas” .

Na  entrevista à Agência Brasil, a presidente do GTA lamenta o que chama de “correlação de força muito desigual , que chega até a ser desumana”, entre as comunidades desatendidas, de um lado, e os “sojeiros, madeireiros e empresários”, do outro. No “pingue-pongue” a seguir, levado ao ar no programa “Revista Amazônia”, a companheira da Ministra Marina  Silva, que é da mesma terra, Xapuri, no Acre, defende-se: “não nos colocamos contra  obras de infra-estrutura na Amazônia até porque acreditamos que elas são necessárias”.

Leide de Aquino descarta as acusações de que as Organizações Não-Governamentais (ONGs) queiram internacionalizar a Amazônia : “Nós não trabalhamos para internacionalizar a Amazônia mas para amazonizar o Mundo”. Ela adverte, no entanto, que “o governo precisa implantar, urgentemente, na Amazônia, políticas que promovam o equilíbrio”.

A senhora esteve há pouco tempo com a Ministra Marina Silva (Meio Ambiente). O que foi tratado?

Conversamos sobre as perspectivas das políticas públicas para a Amazônia, neste ano de 2004, e também sobre o projeto de lei de Biossegurança, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados. Fizemos também uma avaliação das dificuldades enfrentadas pelo Ministério e pelo movimento social da Amazônia no ano de 2003.  Foi um ano cheio de tensão, de conflitos, com a questão das madeireiras e das invasões de terras indígenas. Por outro lado, foi um ano também bastante parado, do ponto de vista de implantação de políticas para a Amazônia, já que estava sendo o primeiro ano do Governo Lula, e estava sendo reestruturada toda a parte de política e de estrutura para a Região Norte. Não foi uma visita oficial. Na verdade, como a Ministra comentou, foi mais uma conversa de companheiras.

Quais são as perspectivas para este ano? Tem o Programa Nacional de Florestas, a Reserva Indígena Raposa/Serra do Sol, tem o pessoal do mogno que continua forte, o combate ao trabalho escravo, também. Então, o que a senhora espera de bom, neste ano, na Amazônia?

A gente tem uma série de atividades e políticas a serem implementadas, mas para a gente a prioridade, neste momento, é a questão do reordenamento fundiário na Amazônia. Nós da rede GTA a certeza de que esta é a  prioridade zero na Amazônia, antes de qualquer política de desenvolvimento, seja ela florestal, agrícola ou mesmo de terra indígena. A gente acha que tem que haver um reordenamento de terras na Amazônia para poder, inclusive estar dando mais segurança para as comunidades com a implantação do Programa Nacional de Florestas. Do ponto de vista técnico, a gente avalia que ele está muito bom. Inclusive, já foi instalada a comissão organizadora desse plano,com a participação de vários segmentos da sociedade. Agora, tem outras políticas complementares que precisam ser incentivadas com a maior urgência.

Quais são elas?

É o caso do reordenamento fundiário na Amazônia. Esta questão da posse do território. Com quem vai ficar o território, para poder se decidir que tipo de desenvolvimento cada comunidade, cada empresa, cada segmento instalado na Amazônia vai estar desenvolvendo.

A Lei de Biossegurança  agora vai para o exame dos Senadores. O Ibama ganhou espaço nesta questão. A própria Ministra ficou mais fortalecida. Então, como é que a senhora analisa esta nova lei?

Para nós, este projeto era motivo de muita preocupação, apesar de a discussão sobre Biossegurança não ter chegado, de maneira eficiente, na região amazônica. Se a gente perguntar sobre biossegurança, sobre transgênico,  às pessoas da região, muitas delas nem saberão do que se trata.  Mas, de maneira geral, as pessoas que estão à frente dos movimentos na Amazônia, estavam e  ainda estão muito apreensivas porque, ao mesmo tempo em que está havendo este avanço da fronteira agrícola, com o plantio de soja na Amazônia, que já é uma preocupação, imagine então se esse projeto não tivesse sido aprovado. A gente considera que o que foi aprovado não foi o ideal, mas muita coisa foi assegurada.

Mas houve um fortalecimento do setor ambiental, não houve?

A gente considera que o Ministério do Meio Ambiente se fortaleceu nesse processo. A nossa maior expectativa agora é que o Senado Federal pelo menos mantenha o que foi aprovado na Câmara.

Nesse “desequilíbrio” de forças, como a senhora vê, por exemplo, esse pessoal do mogno, da soja, do contrabando? É uma turma difícil para conviver ou enfrentar?

Esta é uma preocupação grande. Por isso que, quando eu falo na implantação do Plano Nacional de Floresta, a gente considera que o reordenamento territorial é necessário e urgente antes de qualquer coisa.

Por que?

Porque  esta correlação de forças na Amazônia, ela é muito desigual e chega até a ser desumana. Se você for comparar uma comunidade que vive na região com um consórcio de empresários que está aí no plantio da soja, por exemplo, que consegue, inclusive, implantar a sua própria estrutura para desenvolver seus projetos …se você for comparar com uma comunidade, que não tem sequer sua terra legalizada, não tem nenhum tipo de infra-estrutura, então, aí é a nossa preocupação. Para a gente desenvolver a Amazônia, da forma como a gente tanto tem discutido, fazendo o desenvolvimento sustentável, é preciso que cada um tenha o seu espaço e cada um tenha a sua condição mínima de desenvolvimento.

Por exemplo?

Se você for ver a capacidade dos madeireiros, a capacidade dos sojeiros, comparando com as comunidades… não é brincadeira. Então, a gente acha que nesta preocupação, o governo tem que ter um conjunto de políticas, inclusive de fortalecimento dessas comunidades, a partir de um ordenamento, de uma legalização das terras na Amazônia. Aí então a gente vai saber quem vai fazer o que e onde. A gente tem o avanço, por exemplo, da soja naquela região da BR-163 (Cuiabá-MT a Santarém-PA). São milhares e milhares de hectares de terras que as pessoas estão comprando, grilando, fazendo todo tipo de negócio. Isto porque área de floresta na Amazônia hoje está sendo muito visada.

E por que as pessoas vendem?

Porque as pessoas estão lá sem nenhuma condição de vida, de trabalho, de desenvolvimento… daí chega uma pessoa com qualquer quantia, em dinheiro, compra a área, toma a posse de uma família, de uma comunidade que está lá há muitos anos. Então, esta é a preocupação que a gente está tendo, nesta correlação de forças, das empresas, dos madeireiros e dos sojeiros. Para não continuar este desequilíbrio tão grande a gente acha que o governo tem que, urgentemente, estar implantando políticas que dêem um pouco de equilíbrio a esta situação.

Já existe alguma coisa neste sentido?

Sim. É o caso do Plano Safra, do Governo Lula, no ano 2003. A gente acha que,na parte de financiamento, de fomento, está mais ou menos funcionando. Mas tem ainda um conjunto de outras políticas que precisam ser desenvolvidas.

A partir de agora, dona Leide, a senhora pode responder a algumas acusações do “grupo de lá”? A primeira acusação deles é que existe muita ONG (Organização não-Governamental) na mão de estrangeiros e que está havendo uma invasão de ONGs na nossa Amazônia. Qual a sua resposta?

A gente não tem nem porque responder a uma acusação dessas. Até porque no GTA, nós somos uma rede onde 70 por cento de filiados são oriundos de movimentos sociais e de trabalhadores. O restante é de ONGs, de pessoas que moram e trabalham na Amazônia. E esta história de internacionalização da Amazônia pelas ONGs não é verdade. Nós não trabalhamos para a internacionalização da Amazônia mas para “amazonizar” o Mundo, para que as pessoas vejam que a Amazônia é um espaço muito rico mas ele é, em primeiro lugar, dos amazônicos, e em segundo, do restante dos brasileiros.

Outra acusação do “lado de lá”, dona Leide, é que os “do lado de cá”, os ambientalistas, os senhores e senhoras são contra o progresso na Amazônia, contra hidrelétricas, gasodutos, rodovias…

Nunca fomos contra a discussão em torno de quaisquer obras na Amazônia. O que é preciso é abrir o debate em torno de cada uma dessas obras e ver que impasse ambiental a obra vai causar para a comunidade. Qual a compensação que a obra vai fornecer à comunidade. A gente não se coloca contra obras de infra-estrutura na Amazônia até porque acreditamos que elas são necessárias. Agora, elas não podem é ser feitas sem o entendimento entre as duas partes.

Para terminar esta conversa me permita uma questão até no sentido de elevarmos esta discussão 😮 que é mais importante na nossa Amazônia. O jacaré ou a pessoa?

Para mim é a pessoa. E dou até o exemplo da reserva extrativista que gera o desenvolvimento sustentável. As comunidades amazônicas estão acostumadas a conviver com a natureza. Mas não podemos considerar a Amazônia apenas como um santuário ecológico que ninguém pode tocar, ou que as pessoas tenham que ser retiradas ou que, quem está lá, tenha que morrer de fome. Por isso eu respondo. O que é mais importante. O jacaré ou a pessoa? Com  certeza são as pessoas, porque nós entendemos que as comunidades da Amazônia nunca fizeram este tipo de destruição. A não ser que tenha alguém mal intencionado por trás da comunidade.

Eduardo Mancasz

Povos indígenas de Roraima pedem homologação imediata

ISA – Sob o lema Terra Livre: Vida e Esperança e debatendo meio ambiente,
projetos de desenvolvimento sustentável, saúde, educação, parcerias e direitos
territoriais e humanos, cerca de 1.200 indígenas estiveram reunidos entre 7 e
10/2 no “malocão” da aldeia Maturuca, na TI Raposa Serra do Sol.

Ao mesmo tempo em que comemoraram com cantos e danças a homologação das TIs
Wai-Wai, Jacamim, Muriru, Moskow e Boqueirão, ocorrida em 2003, denunciaram a
excessiva e injustificada demora na homologação da TI Raposa Serra do Sol, a
maior pendência do governo Lula em relação aos direitos territoriais indígenas.

Diversos convidados participaram da assembléia, entre os quais representantes
do Ministério Público Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da
Polícia Federal, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (Coiab), da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), da Uhiri-Saúde Yanomami, do Instituto Socioambiental (ISA),
da The Nature Conservancy (TNC), do Greenpeace, da Rainforest-US e assessores da
senadora Fátima Cleide (PT/RO). Contou ainda com inédita presença de um juiz
federal da região, Grigório Carlos Santos, da 2ª Vara da Justiça Federal em Boa
Vista.

Homologação já!

“Homologação já!” foi a reivindicação que mais se ouviu. A tensão fabricada
por políticos locais e arrozeiros que se opõem à homologação contínua da TI
Raposa Serra do Sol é, segundo lideranças indígenas, cotidianamente alimentada
pela demora do Presidente da República em assinar o decreto homologatório da
área. Evidência disso, foi o bloqueio da Rodovia Estadual RR-202, que leva à
aldeia, por parte de indígenas contrários à homologação contínua que são
fomentados por invasores interessados em manter suas atividades ilegais e
poluidoras em terras da União sob a posse dos índios. De acordo com Martinho
Andrade, administrador regional da Funai em Roraima, não passam de sete os
arrozeiros na região da TI Raposa Serra do Sol, detentores da posse de cerca de
50 mil hectares plantados.

Tendo já ultrapassado todos os trâmites processuais necessários, inclusive
com julgamento do Superior Tribunal de Justiça favorável aos direitos
territoriais dos povos indígenas Macuxi, Taurepang, Wapixana e Patamona, o
governo Lula arrasta injustificadamente essa pendência desde sua posse. Há em
Roraima o receio de que, mais uma vez, os direitos indígenas sejam colocados na
balança das negociações. Desta vez, devido às eleições municipais que se
aproximam.

Indenização: Benfeitorias ou Malfeitorias?

Um dos temas mais importantes debatidos além da questão da homologação foi a
sustentabilidade, a proteção e fiscalização e o desenvolvimento nas TIs em
Roraima. Este assunto foi tratado em um painel, do qual participaram integrantes
do ISA, do Ibama, da Funai e do CIR.

Ao lado dos problemas ambientais mais comuns da região, como queimadas e lixo
oriundo dos municípios locais, o tema central foi a degradação causada pelos
arrozeiros, que plantam em matas ciliares – localizadas nas margens dos rios
-aterram lagoas importantes para a reprodução de peixes e despejam de avião
agrotóxicos que contaminam os rios.

Segundo Nilva Baraúna, gerente-executiva do Ibama em Roraima, os arrozeiros
detêm licenças da Fundação Estadual do Meio Ambiente, órgão estadual de meio
ambiente, motivo pelo qual o Ibama não teria ainda embargado e autuado os
responsáveis.

Entretanto, o advogado André Lima, do Instituto Socioambiental, assim como a
procuradora Débora Duprat, da 6ª Câmara do Ministério Público Federal,
questionaram a validade dessas licenças, uma vez que Terra Indígena é de domínio
da União, os rios onde os arrozeiros despejam agrotóxicos são federais, as áreas
ocupadas são de preservação permanente, o que, segundo o Código Florestal,
justificaria a atuação imediata do Ibama de anular as licenças, embargar os
plantios e multar os responsáveis.

Segundo Martinho Andrade, uma operação conjunta da Funai, Polícia Federal e
Ibama para autuação dos arrozeiros, programada para o final de 2002, foi
abortada por desentendimentos injustificados entre os órgãos federais. Nunca
mais foi replanejada.

Após ouvir a representante do Ibama dizer que estava na assembléia para
“ouvir as denúncias”, Jacy José de Souza, coordenador do CIR, foi veemente no
sentido de esclarecer que não estavam ali para denunciar aquilo que o órgão está
ciente há anos, mas para colher respostas.

Como resposta, a gerência-executiva do Ibama sugeriu que fosse formada uma
comissão integrada pelos representantes do ISA, Ibama/RR, Funai, MPF, CIR, Cimi
e Coiab presentes à assembléia, que solicitarão uma audiência com a ministra de
Meio Ambiente, Marina Silva, e com o presidente do Ibama, Marcos Barros, para
reivindicar providências imediatas contra os crimes ambientais.

Como bem colocaram diversas lideranças indígenas, é indignante e inadmissível
que criminosos ambientais, que depredam patrimônio público durante anos, ainda
exijam indenização do poder público para deixarem de cometer crimes contra o
meio ambiente, sob a alegação de que realizaram “benfeitorias” nas terras
ocupadas irregularmente.

No encerramento da assembléia, o CIR aprovou a elaboração de uma carta a ser
enviada para o presidente Lula cobrando, mais uma vez, agilidade na homologação
de Raposa Serra do Sol.

Leia mais:


Procuradora defende homologação de Raposa-Serra do Sol

– Relatório sobre
Raposa Serra do Sol fica pronto no dia 09/02

– Os índios e
a fronteira

– O lugar do índio

Presidente da Funai empossa novos conselheiros indigenistas

Funai – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, ao empossar, nesta terça-feira (10), os sete novos membros titulares e suplentes do Conselho Indigenista da Fundação, considerou ser uma honra contar com um conselho que é resultado de todo o pensamento brasileiro sobre os índios que integram a nação. “Nesse momento penso nas grandes figuras que viveram a questão indígena, sem serem índios, mas reconhecendo a importância que eles têm”, ressaltou. No discurso, o antropólogo lembrou personalidades que defenderam os índios em momentos históricos, como Antônio Vieira, José Bonifácio, Gonçalves Dias, Darcy Riberio e Orlando Villas Boas.

Segundo o presidente da Funai, o processo de crescimento das populações indígenas nas últimas décadas é uma das grandes notícias positivas comemorada pelos indigenistas brasileiros. “Povos que estavam condenados ao fim começaram a se recuperar”, observou. Mércio Gomes também destacou que o país avança nas questões indígenas, destacando que perto de 70% das terras já foram demarcadas e que restam aproximadamente 200 a serem identificadas.

Ele acredita que o conselho auxiliará não apenas a Funai, mas o Estado brasileiro como todo no que diz respeito ao encaminhamento de propostas sobre as questões indígenas.

Para o conselheiro Carlos Moreira Neto, o órgão repete hoje uma tradição desde a década de 30, com o Serviço de Proteção ao Índio. “É a tradição de sempre manter viva a luz do entendimento e a consciência de que os direitos indígenas devem ser preservados, bem como o empenho permanente de estar a serviço da causa”, enfatizou.
 
Participação

Herdeiro do Conselho Nacional do Índio, em 1938, o atual órgão reúne antropólogos, indigenistas e advogados com uma história de dedicação à causa indígena. A participação dos conselheiros tem sido fundamental para orientar a Funai na discussão de questões atuais, como tutela, Estatuto do Índio, demarcação das terras indígenas e uso de recursos florestais, agrícolas e minerais.

Esses são alguns dos assuntos em debate até quarta-feira (11), na sede da instituição, na primeira reunião de trabalho, em Brasília.  A pauta prevê ainda itens como demarcação de terras indígenas e atuação das missões religiosas.

Indicados pela presidência da Funai e nomeados pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, os novos conselheiros ligados às entidades que tratam das questões indígenas, como a Associação Brasileira de Antropologia e universidades, terão mandato de dois anos, sendo permitida a recondução.

O Conselho Indigenista integra a estrutura básica da Funai e foi criado pelo decreto 564 de 8 de julho de 1992, como órgão de apoio técnico, científico e cultural à presidência. Entre outras finalidades destacam-se o cumprimento da legislação relativa à proteção e assistência ao índio e as comunidades indígenas e avaliação das ações indigenistas implementadas pela Fundação.

Perfil dos conselheiros:

Dr. Carlos Moreira Neto
Bacharel em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba; doutor em antropologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp); bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Foi assistente de Darcy Ribeiro na Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro. Autor de livros como: História do Indigenismo do Brasil no século XIX e Os índios da Amazônia – da maioria à minoria.

Suplente: Maria Hilda Baqueiro Paraíso
Mestra em Ciências Sociais com concentração em Etnologia Indígena. Doutora em História Social pela USP, com tese sobre a conquista dos territórios indígenas do sul da Bahia, norte do Espírito Santo e Nordeste de Minas Gerais. Responsável pela elaboração dos laudos periciais dos povos Pataxó, Hãhãhãi, Maxakali, Krenak, Xakriabá. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia, integrante do Fórum Unesco e do Comitê Pró-Cotas da Universidade Federal da Bahia.

José Porfírio Fontenele de Carvalho
Membro mais antigo do Conselho Indigenista. Encontra-se no quarto mandato. Começou a trabalhar na Funai em 1967. Atualmente coordena os programas Waimiri, Atroari e Pakaranã, dos quais é autor.

Suplente: Rubem Ferreira Thomaz de Almeida
Formado pela USP, fez mestrado no Museu Nacional da UFRJ. É fundador do projeto Kaiwá-Ñandeva. Participa de trabalhos com os Guarani. É professor visitante da Universidade Estadual do Mato Grosso Sul. 

Isa Maria Pacheco Rogedo
Formada em Ciências Sociais, com especialização em Antropologia e Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou na Funai durante 25 anos. Atualmente é assessora técnica do Ministério do Meio Ambiente e coordena um programa de gestão ambiental em terras indígenas.

Suplente: Ana Maria Carvalho Ribeiro Lange
Graduada em Antropologia no Paraná. Trabalhou na Funai por vários anos.  No Ministério do Meio Ambiente é secretária substituta da Secretaria da Amazônia.

Noel Villas Boas
Formado em Filosofia pela PUC de São Paulo. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista (Unip).

Suplente:Gilberto Azanha
Mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, com a dissertação “A Forma Timbira: Estrutura e Resistência”, sob a orientação da Dra.Lux Vidal. Curso de pós-graduação em Antropologia Social, no Departamento de Ciências Sociais da USP. Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.  Realizou estudos e pesquisas entre os grupos indígenas Canela (Ranrôkamekra e Apanjêkra), Gavião-Paracatejê, Terena, Apinayé,  Avá-Canoeiro, Krikati, Kaiowá, Guató, Ofayé-Xavante,  Xerente,  Marubo e Matis.

Carmem Junqueira
Professora titular do departamento de antropologia da PUC/SP. Fez pesquisas antropológicas na Terra Indígena Parque do Xingu e na Terra indígena Parque do Aripuanã com os Cinta Larga. Livros publicados: os índios de Ipavu  e Introdução à antropologia indígena.

Suplente: Betty Mindlin
Antropóloga, com doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, vem trabalhando há anos em projetos de pesquisa e apoio a numerosos povos indígenas da Amazônia, entre outros. Tem pesquisas na área de direitos reprodutivos, direitos dos povos, diversidade cultural, educação diferenciada, saúde e demarcação de terras indígenas. Escreveu em co-autoria com narradores indígenas seis livros de mitos. É uma dos fundadores do IAMÁ – Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, uma organização não-governamental sem fins lucrativos, criada em 1987, onde trabalhou até 2001.

Joênia Batista de Carvalho
Índia Wapixana e advogada do Conselho Indígena de Roraima

Suplente: Daniel Monteiro Costa (Munduruku)
Formado em Filosofia, com licenciatura em História e Psicologia. Um dos coordenadores do Curso de Magistério Indígena do estado de São Paulo. Autor de livros infanto juvenis, alguns premiados no exterior. Diretor Presidente do INBRAPI – Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual. Coordena a coleção Memórias Ancestrais, cujo objetivo é a publicação de livros de autores e ilustradores indígenas.

Bruna Franchetto
Doutora em Antropologia e professora dos cursos de pós-graduação em Antropologia Social e em Lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). Pesquisadora nível I do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, MCT). Membro da Comissão de Assuntos Indígenas da Associação Brasileira de Antropologia. Docente do terceiro grau indígena, da Universidade Estadual de Mato Grosso.

Suplente:José Augusto Laranjeiras Sampaio
Antropólogo, professor de Antropologia da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Subcoordenador do Grupo de Trabalho sobre Laudos Antropológicos da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Coordenador Executivo da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí). Pesquisador Adjunto do Programa de pesquisas sobre Povos Indígenas no Nordeste Brasileiro (Pineb/Ufba).

Contador é testemunha da ocupação xavante

Funai – O contador Dario Carneiro, 64 anos, um dos primeiros desbravadores a se instalar na fazenda Suyá Missu, na região de Alto Boa Vista (MT), junto à Terra Indígena Marãiwatsede, em 1963, guarda, com carinho, dezenas de fotos, artigos de jornais e artesanato que ganhou durante os anos de convivência pacífica com os Xavante. Considerado testemunha-chave na audiência da Justiça Federal, realizada no último dia 29, em Cuiabá, onde vem sendo julgado o processo que poderá conceder o retorno dos Xavante para Marãiwatsede, o contador aposentado, prestou um depoimento emocionado em favor dos índios.

Dario que atualmente mora no interior paulista, participou da audiência juntamente com outras três testemunhas localizadas por um grupo de antropólogos da Fundação Nacional do Índio (Funai). Nova audiência está prevista para março. Esta semana, o contador reuniu-se com o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, em Brasília. “Foi difícil aprender a pronunciar as primeiras palavras da língua Xavante, mas eles tiveram paciência e me ensinaram. Em homenagem a eles e ao que aprendi durante nosso convívio, batizei meus quatro filhos com nomes Xavante”, diz em entrevista para o site da Funai.

Quais são suas recordações dos anos 60, período em que esteve com os Xavante?

Trabalhava para os proprietários da fazenda, em São Paulo, quando fui chamado para continuar minhas atividades em Suyá Missu. Guardo até hoje minha carteira de trabalho. Foi assim que conheci os índios. Procurava dar toda assistência a eles. Cheguei a ficar sete meses sem ir para casa. Estabelecemos um forte laço de amizade. Os Xavante me ensinaram o que é viver em comunidade, ter interesses comuns. Naquele tempo, quando abatiam um animal, os índios dividiam com todos. Os mais velhos sempre distribuíam as tarefas. Eles tinham uma boa convivência. Alguns momentos, porém, foram de tristeza, quando, por exemplo, muitos morreram em função de uma epidemia de sarampo.

Como o senhor aprendeu a língua?

Lembro que quando desci do pequeno avião, na pista improvisada, os índios me cercaram. Estavam curiosos. Não sabia o que falar ou como falar, mas sabia que teria que criar um vínculo com eles. Assim, fui aprendendo as primeiras palavras. Ouvia algo e pedia para repetirem. A cada dia ficava mais fácil. Em pouco tempo consegui me comunicar na língua deles.

Após quase 40 anos, o senhor se reencontrou com muitos índios em Cuiabá. Como foi esse momento?

Foi muito emocionante. Alguns eram jovens quando deixei a fazenda. Sempre tive muita afinidade com eles. Sinto-me na obrigação de ajudá-los. Acho justo que retornem à sua terra, mas que os posseiros também sejam acomodados para que não ocorram conflitos. Enfim, que tudo seja feito com base no entendimento.

Proteção da biodiversidade brasileira está abaixo da média mundial

Agência Brasil – O Brasil tem em seu território entre 15% e 20% da biodiversidade do planeta e, ainda assim, tem apenas 4% destinado a áreas de proteção, menos do que os 5% da média mundial. Com base nesses dados, o professor do Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) e consultor de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Sabino, destaca a importância de utilizar o ecoturismo para conscientizar a população para a importância da natureza e da preservação.

Sabino e a professora de Fisiologia Animal na Uniderp, Luciana Paes de Andrade, expuseram o resultado de seus trabalhos na mesa-redonda Ecoturismo e Conservação da Biodiversidade, realizada hoje de manhã, na Universidade de Brasília (UnB), no XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, que vai até 6ª feira (13).

Sabino afirma que o ecoturismo é apontado como a principal forma para conseguir alcançar o desenvolvimento sustentável em regiões de turismo alternativo e permitir aproximação com o meio ambiente de forma diferente dos hábitos diários das pessoas. “Apesar de importante, essa atividade precisa ser planejada e responsável do ponto de vista ambiental”, destaca. Ele e Luciana trabalharam em Bonito (MS) por três anos, onde desenvolveram pesquisas sobre o impacto do turismo na natureza da região. O especialista aponta que só o Pantanal Mato-grossense recebe entre 500 mil a 600 mil turistas por ano.

Luciana mostrou aos presentes que nem sempre a atividade dos biólogos é bem vista. Contratada por uma empresa que trabalha com ecoturismo em Bonito (com cerca de 20 mil habitantes), ela concluiu que 200 visitantes por dia nos parques aquáticos da região causavam impacto muito grande no meio ambiente e sugeriu a redução para 160. Os donos não gostaram porque deixariam de ganhar R$ 4 mil diariamente. Resultado: “Fomos ameaçados e algumas pessoas na cidade passaram a nos olhar de modo diferente, achando que queríamos boicotar o turismo. A pior parte foi quando nossa casa foi atingida com tiros no meio da noite”.

Mesmo assim, os zoólogos não desistiram. Fizeram denúncia ambiental ao Ministério Público e se demitiram. Assim, voltaram à sede da Uniderp, em Campo Grande (MS). Depois da ação dos pesquisadores, Bonito ganhou um protocolo de monitoramento ambiental para ambientes aquáticos – modelo para outras regiões do país. Mesmo morando em Campo Grande, Luciana visita a cidade, pelo menos, uma vez por mês e ganhou reconhecimento e respeito da população e de parte do empresariado local.

Sabino ressalta que esse é um caso típico de necessidade de elaboração de códigos de conduta específicos para cada área que receberá o ecoturismo. “Cada região tem sua peculiaridade que precisa ser detalhadamente estudada para saber a capacidade de receber turistas. Senão, o patrimônio ambiental será destruído”, concordam.

Ecoturismo no Brasil

1994 – R$ 2,2 bilhões
1995 – R$ 3 bilhões
Previsão para 2005 – R$ 10,8 bilhões
Atividade no país foi 36% maior que a média mundial na década de 90
País tem potencial 20% maior que o mundial para o setor.

Ascom UnB

 

Justiça reforça proibição de importação de pneus usados

Ibama – A Procuradoria Geral do Ibama conta, agora, com importante precedente judicial que reforça a proibição de importação de pneus usados para industrialização no Brasil porque geram resíduos poluentes ao meio ambiente. A juíza substituta da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Maria de Lourdes Tavares, revogou a liminar que permitia à empresa Perfil Pneu Grande Auto Center Recapagens Ltda importar carcaças de pneus que seriam reformados no Brasil.

Na decisão judicial, ela alerta que a liberação de importação de pneus usados oriundos de países do Mercosul “é excepcional” e se restringe aos pneumáticos reformados ou remoldados no país de origem, onde ficam os resíduos do processo industrial.

O mandado de segurança , em favor da empresa Perfil, pretendia que fossem autorizadas judicialmente licenças de importação de pneumáticos usados de automóveis, caminhões, caminhonetes e tratores.

No despacho a juíza considerou “razoável e eficaz a proibição defendida pelo Ibama no exercício do poder de polícia preventiva para evitar que uma atividade desenvolvida por um particular traga danos ao meio ambiente, em detrimento de toda a coletividade”. 
 

Educação ambiental é prioridade nos municípios mato-grossenses

Estação Vida – A Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) estabeleceu o incentivo ao desenvolvimento da educação ambiental e à elaboração de políticas de meio ambiente nos municípios como uma das principais metas para este ano.

A parceria na elaboração do projeto “Amigos da Natureza” é uma das primeiras ações da entidade em 2004 para fomentar a educação ambiental nos municípios. O projeto tem como objetivo capacitar 1.200 ambientalistas dos 139 municípios de Mato Grosso, para que atuem como multiplicadores de informações sobre preservação ambiental e valorização de bens naturais.

A coordenação geral do projeto é do Instituto de Proteção do Meio Ambiente e dos Ecossistemas da Floresta, Cerrado e Pantanal. A execução da proposta está orçada em cerca de R$ 1 milhão e prevê a realização dos treinamentos nos principais pólos de Mato Grosso.

População de peixes aumentou nos rios do Mato Grosso do Sul

Campo Grande News – A Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Sema) identificou um aumento na população de peixes nos rios do Estado. O controle na pesca e fatores climáticos favoreceram a situação, segundo informou o secretário Márcio Portocarrero.

Conforme o secretário, o aumento foi gradativo, constatado ano a ano. Para o controle, o governo estabeleceu cota para pescado, que foi diminuindo ao longo dos anos. Para 2004, pela lei estadual que trata do setor, só poderiam ser retirados um peixe com até cinco quilos e mais um exemplar.

Acontece que o governo federal também tem legislação neste sentido e o Estado precisará cumpri-la, elevando a cota para 10 quilos mais um exemplar.

Procuradora defende homologação de Raposa-Serra do Sol

Agência Senado – Durante audiência pública realizada na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) nesta quinta-feira (05/02) a procuradora da república Débora Duprat afirmou que falta apenas a homologação do presidente da República para finalizar o processo de criação da reserva indígena Raposa-Serra do Sol, que ocupa quase dois milhões de hectares em Roraima. Na opinião de Débora Duprat, não cabe portanto mais discussão sobre a extensão das terras da reserva. A senadora Fátima Cleide (PT-RO) afirmou que a homologação da reserva deve ser feita neste fim de semana.

A procuradora Débora Duprat afirmou ainda que, diferente do que o governador de Roraima, Flamarion Portela, havia dito, não há aumento no território a ser demarcado, apenas o território voltou a ser o do projeto original, que havia sido diminuído pelo então ministro da Justiça Nelson Jobim. A Raposa-Serra do Sol abrigará as tribos macuxi, wapichana, ingarikó, taurepang e patamona e localiza-se na fronteira com a Venezuela e a Guiana.

– Há equívoco em imaginar que o momento da homologação é de discussão política. O território indígena é indisponível constitucionalmente e sua definição é antropológica – afirmou Débora Duprat.

A procuradora afirmou que existe um discurso sendo feito contra a homologação pleno de preconceito e discriminação, apontando os índios e as reservas como empecilho ao processo produtivo nacional. Na opinião da procuradora, quem faz esse discurso não conta com os índios como parte do estado e do processo de desenvolvimento.

– Temos um estereótipo arraigado do índio, condenando-o a uma selvageria que existe em poucas comunidades. É grande a incapacidade de ver o índio como brasileiro, participando do projeto nacional – afirmou.

Esse tipo de visão, disse a procuradora, é que gerou um grande movimento migratório em direção a Roraima. A senadora Fátima Cleide afirmou que muitas vezes a Amazônia é vista como um “deserto verde”, essas pessoas não percebem a riqueza que é a floresta em si nem dão valor a seus habitantes. O senador João Capiberibe (PSB-AP) lembrou que os índios solucionaram o problema de uso dos recursos naturais na Amazônia e que as tentativas de monocultura na região fracassaram, uma vez que o solo local não resiste a esse tipo de uso. A procuradora Débora Duprat afirmou ainda que não há ninguém melhor para defender as fronteiras do que as populações indígenas, porque vivem lá historicamente. “Desde a demarcação de território inanomami em área contínua nunca mais houve problemas nas fronteiras da região”, destacou.