Pó de acerola verde serve para enriquecer alimentos

Agência Brasil – ABr – Com teor de vitamina C entre três a quatro vezes maior que a fruta já madura, a acerola verde é objeto de pesquisa na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. A partir de um processo de microencapsulação, a engenheira agrônoma Andréa Mara Righetto conseguiu obter o pó da fruta para ser utilizado como ingrediente em outros alimentos. Algumas das possibilidades, que ela cita como exemplo, é a sua adição em sucos naturais ou em massas pré-prontas para bolos e doces. Trata-se de um pó finíssimo, esbranquiçado e sem gosto, que, além de não afetar o sabor dos produtos, enriquece o valor nutricional do alimento, destaca Andreá.

Em sua pesquisa, que resultou na tese de doutorado “Caracterização físico-química e estabilidade de suco de acerola verde microencapsulado por atomização e liofilização”, Andréa também identificou a presença de compostos fenólicos (aromáticos) e de atividade antioxidante. Isto significa que a fruta antes de atingir a completa maturação pode se constituir em importante matéria-prima para alimentos com características funcionais.

No Brasil, a exploração da acerola verde como matéria-prima ainda é embrionária. “Não é comum o uso da fruta não-madura para consumo”. Andréa acredita que uma das causas poderia ser o sabor que não é agradável e sem aroma. Por outro lado, as características da fruta verde facilitam o trabalho do produtor durante o manuseio na pós-colheita, uma vez que ela tem uma durabilidade maior.

Para realizar seu estudo, a engenheira agrônoma contou com a colaboração de uma empresa que processa o suco concentrado da acerola verde para exportação, que cedeu o produto. Por enquanto, a pesquisa foi feita em escala laboratorial com financiamento da Fapesp e CNPq. A expectativa de Andréa agora é que a aplicação do pó como ingrediente para alimentos funcionais possa ser estudada.

Diversos foram os testes para se chegar ao melhor processamento da fruta, diz Andréa. “Foram vários meses, que exigiram muita paciência”, lembra. Ela partiu do princípio que deveria desidratar de forma a obter maior concentração do teor da vitamina C e também sua maior estabilidade. Desta forma, a engenheira agrônoma lançou mão de processos e agentes encapsulantes bastante utilizados no mercado.

Como seu objetivo principal era testar a estabilidade do produto em pó, isto exigiu um trabalho minucioso. Primeiro, ela concentrou as experiências em duas técnica: a atomização – processo usado para produção de leite em pó – e a liofilização (processo de secagem e de eliminação de substâncias voláteis realizado em temperatura baixa e sob pressão reduzida), comum no processamento de algumas variedades de café. Só nesta etapa, foram seis meses de testes para se saber qual processo era mais eficiente tanto na questão do tempo, como em termos de recursos e mão-de-obra.

Embora pela liofilização tenha alcançado resultados positivos, Andréa conta que logo abandonou a idéia por se tratar de um processo mais oneroso. Depois de decidir pela técnica de atomização, usando como microencapsulantes a goma arábica e a maltodextrina, a pesquisadora passou aos testes de estabilidade, ou seja, avaliar o comportamento do produto em diferentes condições de umidade e temperatura. “Conhecer a estabilidade do produto é extremamente importante na medida em que garante o bom manuseio e a qualidade do alimento”, esclarece Andréa.

Os estudos para chegar às conclusões finais foram realizados em ambiente controlado. A agrônoma optou ainda por fazer comparações com o ácido ascórbico sintético, que compõe uma série de produtos existentes no mercado, principalmente comprimidos de vitamina C. Na comparação, Andréa constatou que o pó de acerola verde apresentou durabilidade muito maior que o ácido ascórbico. Num período de 270 dias, a perda de vitamina no pó de acerola foi equivalente a 40%. Já no produto sintético, no mesmo prazo as perdas chegaram a 60%. A diferença deve-se possivelmente a outros compostos presentes na acerola verde que aumentam a estabilidade da vitamina C. (JUnicamp)

 

Baixo Araguaia terá pólo de desenvolvimento ambiental e rural

Estação Vida – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou nesta sexta-feira [19], em São Félix do Araguaia, no nordeste mato-grossense, a implantação de um pólo do programa de Gestão Ambiental Rural [Gestar], no âmbito do Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural [ProAmbiente] e a construção de Agendas 21 locais nas cidades da região.

Além disso, a Caixa Econômica Federal irá viabilizar, por meio do Programa Nacional de Modernização Administrativa e Financeira, assistência técnica e recursos para melhoria das administrações municipais. Com essas ações, esperamos trazer à região atividades econômicas sustentáveis, baseadas no uso racional dos recursos naturais, na sabedoria e nas habilidades produtivas das populações, disse a ministra.

O Baixo Araguaia, entre os rios Xingu e Araguaia, no nordeste mato-grossense, é uma nova frente de avanço da soja e da pecuária em Mato Grosso, com foco no entorno da BR-158. Na região, em 13 municípios, vivem pelo menos 100 mil pessoas. Apesar dos elevados índices de desmatamento, os maiores do estado, registra os menores indicadores sociais e econômicos.

Pela manhã, Marina Silva participou da 5ª Mostra de Educação do Araguaia, onde palestrou sobre Ambiente, Política e Perspectiva Planetária. A ministra lembrou aos educadores e representantes de escolas de mais de 20 municípios da região que com leis, fiscalização forte e a consciência das populações será possível reverter o quadro de degradação e desrespeito à natureza. Ela salientou que é preciso defender o meio ambiente em nosso espaço. Para mudar a realidade planetária, é preciso pensar que a humanidade é cada um de nós. Separar o lixo em casa, apagar a luz, ser fraterno com os diferentes e com a natureza são tarefas simples que contribuem para a mudança de realidade. Marina Silva ressaltou, ainda, as investigações e o plano de combate a queimadas e desmatamento na Amazônia, desenvolvidos pelo Ibama em parceira com outros ministérios.

Na Câmara Municipal de São Félix, a ministra reuniu-se com lideranças de pelo menos 15 municípios para apresentar as propostas do governo para a região. Segundo ela, é preciso internalizar os recursos da produção local em parceira com prefeituras e movimentos sociais. A ministra anunciou a implantação de um pólo do programa de Gestão Ambiental Rural [Gestar], no âmbito do Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural [ProAmbiente] e a construção de Agendas 21 locais.

A Caixa Econômica Federal irá viabilizar, por meio do Programa Nacional de Modernização Administrativa e Financeira, assistência técnica e recursos para melhoria das administrações municipais. Além disso, Fani Mamede, da secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, informou que o Baixo Araguaia poderá ser definido como prioritário para atuação da pasta, e que deve ser desenvolvida uma linha de crédito específica para a região.

Também participaram das atividades em São Félix do Araguaia o secretário de Desenvolvimento Sustentável do MMA, Gilney Viana, o coordenador de Agenda 21 do Ministério, Pedro Ivo Batista, e o diretor de Instrumentos Econômicos da Secretaria de Dezensolvimento Sustentável, Roberto Vizentin.

A ministra Marina Silva foi recebida em São Félix do Araguaia pelo bispo Dom Pedro Casaldáliga , que iniciou seus trabalhos em Mato Grosso em 1968, em pleno regime militar. É uma das pessoas que lutaram pelo povo sofrido do nosso pa ís, lembrou Marina Silva sobre o religioso.

A ministra explicou a Dom Pedro o trabalho que o Ministério do Meio Ambiente vem desenvolvendo para tentar alterar o padrão de ocupação da terra e de desenvolvimento na Amazônia. Estamos criando um sistema que possa disputar com esse modelo, que seja uma alternativa real, disse. A ministra destacou a ação do Grupo de Trabalho Interministerial e o plano de combate ao desmatamento e queimadas no Arco do Desflorestamento. 
 

rgãos ambientais têm controle do incêndio no Jalapão

A operação conjunta de combate às queimadas no Parque estadual do Jalapão, formada pelo Governo do Tocantins, por meio dos órgãos ambientais Cipama – Companhia Independente da Polícia Ambiental, Naturatins, Defesa Civil e brigada de incêndio do Corpo de Bombeiros, iniciado na quinta-feira, 18, conseguiu controlar o fogo da região. O Parque foi decretado área de preservação estadual ambiental em 2001.

“Já conseguimos controlar o fogo que se alastrava na Serra do Espírito Santo e nas proximidades, agora só tem um foco de incêndio na encosta da serra, o que dificulta o acesso das equipes para combater o fogo”, informou o coordenador estadual de Defesa Civil e secretário-chefe da Casa Militar, Cel. Edson Pereira Nunes.

Nunes disse que, mesmo com o esforço das equipes que trabalharam dia e noite o fogo destruiu cerca de 70% da área de preservação do Parque, que é de 158 mil hectares. Além de degradar a vegetação natural, um dos pontos turísticos do Tocantins, matou também muitos animais, entre eles, os peçonhentos.

As equipes do Corpo de Bombeiros e Cipama, que estavam na região, estão sendo remanejadas, por outros combatentes para dar continuidade à operação. “Eles estão cansados, por isso a necessidade de fazer o remanejamento”, reforçou Nunes.

Outro grande prejuízo com as queimadas foi a perda de grande parte do capim dourado em plena época de colheita. O capim é matéria-prima usada no artesanato local, garantia de renda de muitas famílias. 
 
Elmiro de Deus

Incêndios em cinco unidades de conservação

Mais de 200 homens estão mobilizados desde o final de semana no combate a incêndios florestais em cinco unidades de conservação do Ibama. As áreas mais preocupantes, no momento, são os Parques Nacionais de Serra da Canastra (MG) e da Chapada dos Veadeiros (GO), onde atua um total de 110 brigadistas.

“Na Chapada dos Veadeiros estamos com 50 brigadistas em processo de revezamento. Vários focos foram detectados dentro do parque, com indicativo de que o incêndio seja criminoso”, afirmou Heloiso Bueno Figueiredo, coordenador do Prevfogo (Programa de Prevenção e Controle das Queimadas e Incêndios Florestais)enquanto se preparava para embarcar para o parque, distante 200 quilômetros de Brasília.

O helicóptero, segundo ele, será utilizado na avaliação e estabelecimento de estratégia de combate ao fogo, no deslocamento de equipes até os pontos de combate de difícil acesso, e na atuação de controle do fogo por meio do helibalde. Além do pessoal que já está no local, serão deslocados de Goiânia (GO) mais 10 pessoas da Brigada Anjos Verdes. O Ibama conta com dois caminhões Rodofogo, equipados com motobombas, geradores e equipamentos de combate direto: pás, abafadores e bombas costais.

De acordo com Heloiso, o fogo se alastrou em vários pontos do Parque da Chapada dos Veadeiros, atingindo principalmente o “cânion”, por onde passa o Rio Preto; o Morro da Baleia e a região norte, próxima a Cavalcante (GO). As equipes estão concentradas hoje no combate ao fogo no Canion. Amanhã deverão seguir para Cavalcante.

Canastra – Segundo as primeiras estimativas, o fogo já atingiu cerca de 15 mil hectares de vegetação no Parque Nacional da Serra da Canastra. Hoje, 37 homens faziam o combate às chamas na área atingida, com perspectiva de controlar os focos de incêndios nas próximas horas.

Araguaia – No Parque Nacional do Araguaia cerca de 50 pessoas estão de prontidão na entrada da unidade para iniciar o combate aos incêndios. Aguarda-se somente entendimentos com a Funai por envolver área indígena.

Serra Geral – Na Estação Ecológica de Serra Geral, no Tocantins, 18 brigadistas foram deslocados para o combate a focos de incêndios. A Estação fica próxima ao Parque Estadual do Jalapão, que também está queimando. O Prevfogo aguardava, hoje, um pedido de apoio do governo tocantinense para auxiliar no combate aos incêndios na área.

Ilha Grande– O fogo foi detectado ontem, no interior do parque paranaense, pela brigada municipal de Vila Alta (PR). Desde então , foram mobilizadas 70 pessoas, com apoio de um helicóptero, para combater uma linha de fogo que, na manhã de hoje, se estendia por 8 quilômetros. 

Nova arma contra incêndios

Agência Brasil – Está liberado para operação o primeiro avião de combate a incêndio florestal do Brasil – o monomotor Air Tractor AT-892F. Segundo o Departamento de Aeronáutica Civil a aeronave poderá atuar em qualquer localidade do estado do Rio de Janeiro. A Secretaria estadual de Defesa Civil fluminense está elaborando convênios para viabilizar também a operação em outros estados.

O aparelho chegou ao Brasil no dia 18 de fevereiro, proveniente do Texas, Estados Unidos. Sua aquisição foi resultado de um convênio assinado em maio de 2002 entre o Ministério do Meio Ambiente e o governo do estado. Os recursos – cerca de R$4,1 milhões – foram provenientes de parte da multa aplicada pelo Ibama à Petrobrás devido ao vazamento de óleo na Baía de Guanabara, em janeiro de 2000.

Desenhado especialmente para combate a incêndios, o monomotor possui tanque para 3.100 litros de água, pode ser reabastecido em 90 segundos e opera em pistas de apenas 900 metros. O avião também poderá ser utilizado em patrulhamento de locais de risco e no lançamento de defensivos agrícolas e de dispersante químico contra manchas de óleo na água.

Devastação ilegal de 10 mil hectares em Rondônia

Ibama – Cinqüenta e três madeireiras foram flagradas pelo Ibama agindo de forma ilegal na região de Ariquemes, em Rondônia. As empresas fraudaram as Autorizações para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) e comercializaram ilegalmente 120 mil metros cúbicos de madeiras extraídas de unidades de conservação, o equivalente a 10 mil hectares de florestas nativas ou cerca de oito mil campos de futebol.

A gerência do Ibama em Rondônia, junto com a Polícia Federal, investigava a ação das madeireiras há dois meses. Com a identificação dos empresários responsáveis pela fraude e a confirmação do envolvimento de cinco funcionários do escritório do Ibama em Ariquemes, hoje a Polícia Federal expediu 17 ordens de prisão. Três funcionários do Ibama já foram presos.

O gerente do Ibama em Rondônia, Osvaldo Pitaluga, que coordenou a operação, disse que “a ação do Ministério do Meio Ambiente, por intermédio do Ibama, junto com a Polícia Federal, mostrou que o governo federal está agindo de forma enérgica para impedir crimes ambientais e preservar as reservas florestais”.  Ainda segundo Pitaluga, “o governo de Rondônia e o governo federal vão continuar agindo com rigor para punir os corruptos, afastar e demitir funcionários envolvidos: em Rondônia só haverá oportunidade para os honestos”.

Na operação foram utilizados 20 veículos e um helicóptero do Ibama, com a participação de 50 homens da Polícia Federal. O valor das multas aplicadas é de quase três milhões de reais. Na operação também foram apreendidas armas e munição.

Exposição mostra índios Panará nos EUA

ISA – O Field Museum, um dos mais renomados museus americanos, em colaboração com o Instituto Socioambiental, inaugurou esta semana mostra do fotógrafo Pedro Martinelli sobre a saga do povo Paraná, os famosos índios gigantes.

A coleção traz retratos em branco e preto tirados no primeiro contato com a tribo em 1970 e 1973. São fotos famosas que espantaram o mundo com a descoberta em plena segunda metade de século XX com a etnia dos índios Panará. A segunda parte de imagens são de 1995, quando Martinelli voltou a registrar a vida do povo. A exposição se encerrará em 8 de fevereiro de 2004.

Protagonistas de uma história trágica de contato com os brancos na década de 1970, os Panará, também chamados de Krenhakarore ou índios Gigantes, escaparam por pouco da extinção. Atraídos durante a construção da BR-163, a rodovia Cuiabá-Santarém, acabaram expulsos de suas terras e abandonados à sua própria sorte. De uma população de mais de 400 indivíduos, em 1973, estavam reduzidos a cerca de 70, em 1975. Muitos foram vitimados por gripes e diarréias, e os que sobreviveram esmolavam na beira da estrada.

Foram, então, acolhidos no Parque Indígena do Xingu, onde viveram em condições precárias, mudando-se de um lugar para o outro. Duas décadas depois, com a ajuda do então Núcleo de Direitos Indígenas (NDI), e do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), voltaram às terras em que viviam e descobriram que uma parte delas não tinha sido detonada por invasores e garimpeiros. Daí em diante, decidiram retornar e começaram a reconstruir uma nova aldeia, que batizaram de Nãsepotiti, situada às margens do Rio Iriri, na fronteira do Mato Grosso com o Pará.

A volta para casa começou, efetivamente, em 1996. De lá para cá, recompuseram sua população – hoje soma cerca de 300 indivíduos – e nesse período decidiram entrar com ação indenizatória contra a União e a Funai por danos morais e prejuízos sofridos. Em setembro de 2000, a terceira turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região lhes deu ganho de causa,em decisão inédita. Em agosto de 2001, finalmente, tiveram a indenização garantida pelo presidente do TRF, juiz Tourinho Neto. A União e a Funai se abstiveram de recorrer da decisão.

A indenização devida pelo Estado brasileiro foi entregue à comunidade em agosto passado e em assembléia realizada na aldeia Nãsepotiti, discutiu formas de utilizar os recursos

Respeitar e preservar

CNPq – A crescente organização dos povos indígenas em torno das reivindicações de seus direitos, da luta pela preservação de suas culturas e da defesa de seus territórios vem provocando mudanças conceituais na etnologia indígena e nas políticas indigenistas. A observação é do doutor em antropologia e professor da Universidade de Brasília (UnB), Stephen Baines. Segundo ele, o trabalho realizado no Brasil a partir do começo da década de 1970 pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promovendo Assembléias Indígenas marcou um início do processo de conscientização e crescente politização dos índios, o que acelerou a consolidação dos movimentos indígenas.

Além disso, a realidade vivida pelos índios recém contatados pelas frentes da sociedade nacional mostra que a melhor política é a de preservar os territórios dessas comunidades indígenas sem uma interferência direta por indigenistas. “A política indigenista do Estado foi orientada primeiro pelo conceito de assimilação, passando pela tentativa de integrar os índios à sociedade nacional e hoje aceitamos, a partir da Constituição de 1988, o reconhecimento das diferenças, tratando o índio como índio e não como sujeito a ser integrado à sociedade nacional”, explicou Baines.

As idéias defendidas pelo professor são resultantes de anos estudando não só os índios, mas, principalmente, o trabalho de pesquisadores e funcionários do governo federal que atuam junto às sociedades indígenas. Nascido na Inglaterra, Baines começou a estudar os índios brasileiros em 79, em seu mestrado sobre a política indigenista do Brasil na Universidade de Cambridge. Em 80, mudou-se para Brasília, onde fez o doutorado, dando continuidade às pesquisas na área de etnologia.

Desde 1990, com o apoio do CNPq, Baines faz uma análise sobre os estilos de etnologia indígena feitos no Brasil, na Austrália e no Canadá, comparando as políticas indigenistas e indígenas nos três países. Neste estudo, que ainda está em andamento, ele entrevistou antropólogos, lideranças indígenas e visitou aldeias de nativos dos três países. São eles: os Índios, os Inuit (esquimós) e os Métis, no Canadá; os Aborígenes e os Ilheus do Estreito de Torres na Austrália e os índios brasileiros.

Foi nestas visitas que Baines observou as contradições inerentes a políticas de integração dos povos nativos às sociedades nacionais ditas “civilizadas”. Em todos os três países, a maioria dos índios que mora nas cidades é marginalizada, pobre, e sofre com o desemprego e o preconceito, que piora onde o convívio com “brancos” é mais direto. Além disso, este contato vem trazendo, historicamente, uma série de problemas como alcoolismo, doenças, violência doméstica e altos índices de suicídio.

Também nos três países estudados, o professor detectou o crescimento do movimento indígena a partir da participação dos próprios índios na discussão de uma política para a questão. “Até os anos 70 os povos indígenas eram freqüentemente representados por antropólogos e agora os índios, politicamente organizados, já exercem o papel de líderes”, disse Baines. Em alguns aspectos, a Austrália aparece à frente dos outros, pela incorporação de aborígines em cargos do órgão federal responsável pelas políticas indigenistas. Isso, segundo o professor, contribui em parte para a elaboração de ações que efetivamente atendem às necessidades destas comunidades.

As diferenças aparecem quanto aos recursos destinados à questão indígena. A Austrália e principalmente o Canadá, países com mais recursos que o Brasil, adotaram políticas de destinar mais verba para os projetos indígenas. No entanto, isto em si não é suficiente para sanar as deficiências historicamente constituídas.

A pesquisa, que ainda contará com trabalhos de campo no Canadá e na Austrália numa futura licença de pós-doutorado, terá como resultado final uma análise em vários pontos: a história da disciplina em cada Estado nacional, o papel do antropólogo e seu envolvimento político, políticas indigenistas de Estados e ONGs, movimentos indígenas e a atuação de antropólogos indígenas.

Partes desta pesquisa podem ser conferidas em livros como “As Ciências Sociais: desafios do milênio. 1”, da Ed. Natal EDUFRN e “Estilos de Antropologia 1”, Ed. Campinas UNICAMP.

Mariana Galiza

Denúncia

Estação Vida – Uma nota divulgada pelo Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) de Rondônia no início do mês afirma que o governador do estado, Ivo Narciso Cassol, com o apoio de vários parlamentares, estão estimulando invasões e desmatamento em áreas protegidas.

Os alvos principais seriam as unidades de conservação criadas a partir do Zoneamento Sócio-Econômico e Ambiental, como os parques estaduais de Guajará-Mirim e Corumbiara, com recursos do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro).

O objetivo de estimular as invasões de madeireiros e garimpeiros no parque seria a de pressionar o governo federal a permitir desmatamento de até 80% na Amazônia. De acordo com a nota, o governador teria dito várias vezes que pretende extinguir as unidades de conservação se a MP 2166, que determina a proteção de, no mínimo 80% em propriedades rurais da Amazônia, não for revogada.

De acordo com o GTA, pelo menos dois parques estaduais criados pelo Zoneamento de Rondônia, com recursos do Planafloro, sofreram alterações em seu tamanho. O Parque Estadual Corumbiara sofreu uma redução de mais de 40 mil hectares e o Parque Estadual Guajará-Mirim teve seus limites alterados para garantir o traçado da BR-421. De acordo com a nota do GTA, “a região está sob o completo comando de grileiros de terras e garimpeiros de madeiras”.

Carlos Dantas, coordenador do GTA de Rondônia acredita que a partir da próxima semana o governo federal tome medidas em relação à situação do Estado. “Madeireiros estão achando que o estado é uma terra sem lei, funcionários do Ibama estão sendo ameaçados de morte. Acredito que nossa denúncia deverá ter conseqüências a partir da próxima semana”, diz.

Ao governo federal, o GTA-RO está pedindo que as Unidades de Conservação Estaduais criadas pelo Zoneamento Sócio Econômico e Ecológico sejam federalizadas, como forma de dar mais segurança a preservação da biodiversidade. Além disso o grupo pede ainda que seja tirada da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do estado a competência de emitir licenciamento ambiental de propriedades.

Caso o governador Ivo Cassol continue estimulando o desmatamento em áreas protegidas, o GTA-RO deverá requerer ao Painel de Inspeção do BIRD, que financiou o Planafloro, apuração da forma irresponsável de condução do Zoneamento pelos governos e parlamentares de Rondônia,
Zonemaento

Dantas lembra que o zoneamento de Rondônia foi elaborado por técnicos do estado e consultorias qualificadas e que teve um custo que sai do bolso de cada brasileiro. “O povo brasileiro pagou pelo zoneamento que não está sendo utilizado pelo atual governo do estado para beneficiar garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, além de servir para angariar votos”, afirma.

De acordo com o GTA-RO, o zoneamento surgiu, dentro de uma “discussão de desenvolvimento sustentado, como proposta a pecuária de corte e exploração predatória de madeiras, que comprovadamente são atividades anti-sociais, concentradoras da terra e da renda, de baixa produtividade e alto custo ambiental e apesar disto, os ruralistas que detém o comando político do estado ainda as defendem.” A primeira versão do zoneamento é de 1988.  
 
André Luís Alves