Pequenas hidrelétricas invadem rios de Mato Grosso

Estação Vida – Gerar energia com baixo custo e sem entraves ambientais tem sido uma das principais alternativas para os grandes agricultores em Mato Grosso . A saída tem sido as pequenas centrais hidrelétricas – as PCHs. Em 2001 Mato Grosso teve autorização para a construção de seis PCHs. Em 2002 esse número quadruplicou e grandes empresas como a Amper Construções Elétricas Ltda e Maggi Energia S.A estão construindo grandes conglomerados de PCHs num mesmo rio. No caso da Amper, a central fica no rio Braço Norte IV , nos municípios de Guarantã do Norte e Mundo Novo , próximas de outras três PCHs.

Na região de Sapezal e Campos de Júlio, o chamado Consórcio Juruena [empresas: Maggi Energia S/A, MCA Energia e Barragem Ltda e Linear Participações e Incorporações Ltda] estão construindo 8 PCHs, somando um total 153,30 MW. As pequenas centrais hidrelétricas, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL podem gerar até 30MW e ter um reservatório de no máximo 3 Km2 . O Código Ambiental de Mato Grosso fez uma adaptação às normas da ANNEL e em 2000 modificou as regras do licenciamento ambiental [art. 24] eliminando a obrigatoriedade de EIA/RIMA para as PCHs com até 30MW e 3km2 de reservatório . Agora, o deputado estadual Pedro Satélite apresentou em abril passado projeto de lei que altera novamente o Código Ambiental onde elimina-se a apresentação de EIA/RIMA para licenciamento de hidroelétricas com reservatório superior a 3 Km2. Coincidentemente, a própria ANEEL estuda a revisão do conceito de PCHs e deve ainda este ano publicar resolução com novas regras.

Técnicos , ambientalistas e autoridades da área ambiental são unânimes em afirmar que as pequenas centrais hidroelétricas são bem menos impactantes por não necessitar de obras nos rios e grandes reservatórios provocando alagamentos e modificando cursos de água. Outro ponto conciliador é que as PCHs são de baixo custo , baixo impacto ambiental e geram energia para pequenas comunidades ou áreas rurais.

Hoje estão em fase de construção 7 pequenas hidrelétricas em construção: no rio Rochedo , município de Novo Mundo, no rio Braço Norte , em Guarantã do Norte, no rio Jauru, em Indiavaí, e no rio Caeté, em santo Antônio do Leverger Já ficaram prontas a PCH do Alto Jauru, em Jaurú, a braço Norte III, no rio Juruena, em Guarantã do Norte e a PCH Cabixí II , no rio Lambari em Comodoro. Também ficaram prontas as UHEs do rio Jauru, do grupo Queiroz Galvão, em Araputanga, com 110 MW, e a Guaporé da rede Cemat, no município de São Domingos, com 120 MW.

As pequenas usinas , mesmo sem a obrigatoriedade de fazer um EIA e RIMA precisam de licenciamento ambiental. Segundo o chefe do departamento de Infra Estrutura da Fundação Estadual do Meio Ambiente – Fema, Lourival Alves Vasconcelos, a possibilidade de ampliar a área do reservatório acima de 300 hectares pode representar riscos. Do ponto de vista ambiental isso não é bom porque aumenta o desmatamento que influencia na qualidade da água e da fauna. Passaria a ter mais impacto, disse. Mas Lourival diz que os rios de Mato Grosso que nascem no planalto tem vazão regularizada , muitas quedas e bom desnível entre a nascente e a foz o que facilita construir pequenas centrais hidrelétricas sem a necessidade de reservatórios.

Com relação aos conglomerados de PCHs como no rio Juruena, Lourival diz que este rio não tem ictiofauna rica por causa dos impedimentos naturais como as cachoeiras. Além disso não há uso do rio para irrigação e nem turismo. Mesmo sem EIA/RIMA a Fema tem solicitado vários estudos e diagnósticos ambientais obrigatórios para o licenciamento. É o caso de três PCHs que estão sendo construídas no córrego Saia Branca, da empresa Maggi Energia S/A , no município de Jaciara.

Segundo Lourival, esse córrego é afluente do rio Tenente Amaral, um dos importantes rios para o ecoturismo e abastecimento de Jaciara. A Fema solicitou alguns programas ambientais ; um plano de recuperação de áreas degradadas , controle de erosão , controle da variação do nível de vazão , educação ambiental e programa de qualidade da água. Nos diagnósticos quase tudo que pede um EIA/RIMa é avaliado; meio físico, biológico e sócio-econômico. São averiguados os impactos ambientais e as medidas de controle. A única diferença é que o custo é bem menor nestes estudos e não há audiência pública, que demora em média 40 dias para avalizar o empreendimento, comenta Lourival.

O ex-secretário de Meio Ambiente da Fema, Frederico Muller, que junto com a Assembléia Legislativa do Estado promoveu mudanças no Código Ambiental ampliando de 10 para 30 MW as centrais hidrelétricas que não precisem de EIA/RIMA acha que uma nova modificação passando para 50MW e ampliando ainda mais a área do reservatório é preocupante. As PCHs são muito menos impactantes e movimentam a economia mas ampliar os reservatórios seria necessário novos estudos de bacias. É preciso analisar com cuidado, diz. Frederico acha que o mais importante é que exista o licenciamento ambiental que já solicita vários estudos de impacto, principalmente se estiver numa área sensível.

Ongs acompanham mudanças junto a ANEEL  
 
Em abril deste ano, grupos brasileiros da sociedade civil organizada, reunidos no Grupo de Trabalho Energia do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento elaboraram um documento a partir do encontro nacional das organizações do GT Energia, reunidas de 21 a 23 de maio de 2002. O documento faz várias recomendações ao Governo Federal e recomenda à ANEEL a revisão do conceito de PCHs e a exigência de estudos integrados e estratégicos das bacias hidrográficas antes da liberação de autorizações e concessões para o aproveitamento hidrelétrico, entre outras. O GT Energia congrega 24 entidades brasileiras. A coordenadora do grupo e integrante da ong internacional Coalizão Rios Vivos, Lúcia Ortiz diz que a proposta do GT Energia é que seja considerada a bacia hidrográfica como um todo e não apenas um empreendimento. se você tem um conglomerado de PCHs é óbvio que o rio não vai correr naturalmente e haverá impacto na biodiversidade , diz ela. No próximo mês o GT Energia se reúne para debater alernativas de modelos energéticos .

O professor Klemens Laschefski, especialista em energia e residente em Belo Horizonte diz que a função social das PCHs é preciso ser reavaliada. Na sua opinião as PCHs estão servindo mais para as horas de pico do alto consumo de energia e complementar os geradores de energia de grande porte de grandes empreendimentos e não para promover o desenvolvimento das comunidades rurais carentes. Ele diz também que as PCHs causam impactos ecológicos específicos como, por exemplo variações diárias no npivel de água em trechos extensos a juzante da barragem. Para aproveitar uma maior queda de água geralmente a casa de força é situada distante da barragem, recebendo a água através de um túnel . Assim , por alguns quilômetros trechos dos rios ficam secos impedindo a migração de peixes , alertou.  

Josana Salles

I Fórum de Turismo Regional no MT

Estação Vida – Reunir produções científicas e promover palestras e debates em torno do desenvolvimento local e regional é um dos objetivos do I Fórum de Turismo Regional, organizado pelo departamento de Geografia, campus de Cáceres e Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, ICSA. Os temas do evento irão abranger as áreas de educação e gestão;desenvolvimento e meio-ambiente.

O evento ocorre nos dias 29 e 30 maio, quinta e sexta-feira, e 2 e 3 de junho, segunda e terça-feira, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, Sematur. O Fórum é destinado à comunidade acadêmica da Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat, e pretende discutir temas atuais pesquisados por professores e estudantes da Instituição.

Na abertura, 29, às 19:30h, será proferida a palestra Perspectivas do Ecoturismo em MT com a professora Miramy Macedo, em seguida, pós-graduandos em Turismo apresentarão monografias. No encerramento, 2, às 20:30h, a professora Alaíde Montecchi Durão debate o tema Perspectivas e Desdobramentos do Turismo Rural. 
 

Ibama quer exploração sustentável de florestas

Agência Brasil – ABr – O Ibama quer que as florestas nacionais deixem de ser uma massa de árvores intocáveis, tenham vida, produzam em bases sustentáveis e sirvam à sociedade, interagindo com a população do entorno. Com esta nova visão, o instituto vem trabalhando para quadruplicar a cobertura com florestas rentáveis, num prazo de dez anos, e resgatar suas importantes funções estratégicas: que sirvam como base de um programa de extensão rural, funcionem como laboratórios de fusão das técnicas bem sucedidas de uso sustentável e estejam no centro das pesquisas nacionais.

Para atingir estas metas, o Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente está incentivando a produtividade destas unidades de conservação. Com este objetivo, a Diretoria de Florestas do Ibama vem realizando encontros com os chefes das 63 Flonas. A partir de hoje (27), até o próximo dia 30, o encontro será na Flona do Araripe, no Ceará, com as seis florestas da região Nordeste e as duas do centro-oeste. A primeira reunião foi em abril com as nove Flonas do sudeste. Em meados de junho, será a vez das Flonas da região Sul e, em julho, com as da região Amazônica.

Um dos principais itens da agenda destas reuniões é a discussão do roteiro metodológico para a implantação dos respectivos planos de manejo florestal – obrigatórios para definir as atividades e o uso sustentável dos recursos naturais das florestas nacionais.

A metodologia é inovadora no Ibama como modelo de gestão participativa, indispensável para atender a realidade. Ao utilizar profissionais do Instituto para conduzir os projetos, o Ibama pretende simplificar o processo sem prejudicar a qualidade técnica, reduzir custos e fortalecer a transversalidade com outras instituições governamentais de ensino e de
pesquisa e com Ongs.

Na Flona do Araripe, o Ibama está implantando o primeiro Plano de Econegócios em Florestas, que inclui alternativas de manejo, melhorias tecnológicas da produção e fortalecimento da gestão comunitária – uma parceria com o Banco do Nordeste, o Instituto Brasileiro de Educação em Negócios Sustentáveis, a Fundação Araripe e o Centro Tecnológico do Cariri.

A proposta é montar uma mini-usina de beneficiamento do pequi – produzido artesanalmente como alimento e cosmético -, transformar os produtores em microempresários e montar uma ilha de informática para capacitar a comunidade local com esta finalidade. Futuramente, será
apoiado o beneficiamento da Fava DAnta, usada como colírio para tratamento do glaucoma. Outro grande negócio para aumentar a rentabilidade das Flonas e beneficar a comunidade do entorno, é a produção sistematizada de sementes e de mudas de espécies nativas para
programas de fomento – uma parceria do Ibama com as redes de sementes existentes em cada bioma.

Fazem parte destes encontros: elaboração do Plano de Investimento coerente com o potencial de arrecadação de cada Flona e do Planejamento Plurianual até 2007; implantação dos Conselhos Consultivos que farão o controle social das Flonas; além de trabalhos de campo para mostrar experiências da Flona Araripe com ecoturismo, trilhas e planos de manejo de produtores rurais que podem incentivar iniciativas rentáveis nas outras Florestas Nacionais.

Situada no topo do privilegiado Vale do Cariri, a Floresta Nacional do Araripe foi a primeira criada no país, em 1946, para assegurar a manutenção dos recursos hídricos desta região semi-árida do Nordeste.

 

Seminário discute a produção de peixes no Cerrado

Agência Brasil – ABr – Aliar a produção de peixe à geração de renda e à conservação da biodiversidade do cerrado. A idéia será uma das atrações apresentadas no Seminário Experiências Comunitárias de Meios de Vida Sustentáveis no Cerrado, promovido pela Embrapa Cerrados, em parceria com o Ibama e a Universidade de Brasília. O evento acontece hoje e amanhã, no auditório da Embrapa-sede, nesta capital.

O projeto de hortipiscicultura será implantado nos próximos sessenta dias no assentamento Serra Dourada, a 250 quilômetros de Brasília. O objetivo é criar peixes no rio Araguaia, como a Caranha, o Piau Cabeça Gorda e o Matrichã, a partir de ração a base de frutos do cerrado.

A receita inclui frutos como genipapo, jatobá, baru, mangaba, murici, goiaba e araticum. O projeto também prevê a instalação de um abatedouro, onde a produção de peixes será comercializada com valor agregado. Estima-se que a produção possa chegar a 1,5 mil quilos do alimento, no final de um ano. O resíduo do abatedouro, rico em nutrientes, será processado e incorporado à ração que vai voltar a alimentar os peixes dos tanques, fechando o ciclo de produção.

A intenção do zootecnista Luis Roberto Carrazza, que coordena o projeto em Serra Dourada, é que a iniciativa se transforme em exemplo de política pública para a reforma agrária e o assentamento de sem-terra, já que a piscicultutra a base de frutas do cerrado é mais econômica e não polui o meio ambiente. “Além de ser um exemplo de produção sustentável, piscicultura integrada a uma horta é uma forma de geração de renda para as comunidades assentadas”, destacou o zootecnista. O custo do projeto está orçado em R$ 120 mil.

Lílian Tahan

II Fórum Amazônico sobre Águas

Agência Brasil – ABr – Com o objetivo de debater de forma aprofundada o tema recursos hídricos, para que os conhecimentos e informações existentes possam subsidiar decisões políticas na defesa e aproveitamento racional da água em nossa região, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Amazonas (CREA-AM) promove o II Fórum Amazônico sobre Águas, reunindo pesquisadores, profissionais da área, estudantes, parlamentares, representantes do governo, de órgãos públicos, de organizações não governamentais, e da sociedade em geral. O evento acontece nos dias 28 a 30 de maio de 2003, no Studio 5 – Centro de Convenções, em Manaus, Amazonas, e é realizado pelo Confea, Mútua, instituições governamentais e empresas da iniciativa privada.

Segundo o coordenador da Câmara Especializada em Geologia e Minas do CREA-AM, presidente da comissão organizadora, geólogo Daniel Borges Nava, este encontro já desponta no calendário de eventos técnico-científicos da Amazônia. “Traz à tona o grande desafio regional de: combater o lançamento de lixo e efluentes domésticos e industriais diretamente e sem tratamento nos rios; de estudar e monitorar o comportamento das cheias e secas, evitando a erosão e o assoreamento dos cursos dágua pelo uso inadequado do solo; e de garantir o acesso à água em quantidade e qualidade adequadas nos seus diversos usos”, afirma.

Cobrindo uma área superior a 4,58 milhões de quilômetros quadrados (aproximadamente 57% do território nacional), a Região Amazônica Brasileira abrange todos os estados da região Norte, a maior parte da região Centro-Oeste e parte da região Nordeste (Estado do Maranhão). Hidrograficamente, a Região Amazônica é formada essencialmente pelo rio Amazonas, seus afluentes e lagos, que por sua vazão média anual superior a 222.000 m3/s, é considerado o maior rio em volume dágua do mundo. Nos contrastes de suas águas barrentas, negras e claras, a mais importante bacia hidrográfica do Planeta desperta preocupação quanto à vulnerabilidade da qualidade das suas águas, e quanto ao aproveitamento racional dos recursos hídricos, fator fundamental para o desenvolvimento sustentável da região. Esses e outros assuntos serão amplamente discutidos durante o evento.

Organizações ligadas à educação indígena entregam carta ao MEC

ISA – As nove ONGs indígenas e indigenistas que integram a Rede de Cooperação Alternativa, entre elas o ISA, encaminharam na semana passada, à professora Maria José Feres, secretária de Educação Fundamental do Ministério da Educação (MEC), um documento sobre o impasse da política adotada pelo órgão federal no apoio a projetos de educação indígena.

Leia a seguir o texto na íntegra.

Brasília, 19 de maio de 2003

Prof. Maria José Feres
Secretaria de Educação Fundamental
Ministério da Educação
Esplanada dos Ministérios – Bloco L – sala 500
70047-900 Brasília DF

Prezada Sra.

Vimos externar nesta carta nossa preocupação quanto à indefinição, por parte do Ministério da Educação, de medidas concretas que venham possibilitar a continuidade de programas de apoio à educação indígena propostos por organizações não governamentais, sem fins lucrativos, que trabalham em parceria com os povos indígenas no Brasil.

Nós, que assinamos esta carta, fazemos parte da Rede de Cooperação Alternativa (RCA-Brasil), composta por nove instituições não governamentais indígenas e indigenistas, responsáveis pela condução de programas de educação indígena junto a inúmeras comunidades de diferentes povos em diferentes regiões do Brasil. Esta rede recebe recursos da cooperação norueguesa, por intermédio da Fundação Rainforest da Noruega. Alguns de nossos programas já duram mais de vinte anos e nossas práticas serviram de referência tanto para a nova legislação educacional indigenista, que se consolidou nos últimos anos, quanto ao próprio estado brasileiro na definição das diretrizes que orientaram a formulação de novos paradigmas e de modelos de escola indígena, que o MEC vem tentando propor como política pública nessa área.

No MEC, a questão do financiamento à iniciativas de melhoria da qualidade do ensino em terras indígenas seguiu dois caminhos distintos. Para as secretarias estaduais e municipais de educação foram destinados recursos do FNDF. Para as ONGS e universidades, criou-se uma linha de financiamento, via convênio MEC-PNUD, que ainda que limitada e restrita, possibilitou apoios importantes para o início e para a continuidade de programas de formação de professores indígenas e de produção e publicação de materiais didático-pedagógicos diferenciados. Esse financiamento sempre foi parcial, sendo necessário contar com o apoio de agências internacionais, cujos recursos tornam-se cada vez mais escassos.

A interrupção no financiamento do MEC aos projetos propostos pelas ongs desde o ano passado e a não sinalização do equacionamento dessa questão, deixa-nos apreensivos e compromete o programa de trabalho que vimos desenvolvendo há vários anos junto a diferentes povos indígenas. Nesse sentido, precisamos saber como e quando as parcerias do MEC com a sociedade civil irão se definir, e em que bases elas serão construídas.

Sabemos que as escolas indígenas são responsabilidade dos governos estaduais e municipais e que seus orçamentos anuais já deveriam estar alocando recursos para garantir o prosseguimento das aulas nas comunidades indígenas em todo país. Mas lembramos que o MEC também está comprometido com uma boa parcela da qualidade de ensino que tem sido aplicado em projetos que, se não majoritários, foram formulados para servir de apoio ou mesmo de referência para algumas iniciativas em diversas terras indígenas no Brasil. Sejam iniciativas em parceria com municípios ou estados, sejam iniciativas autônomas, mas que dialogam com setores do governo e seguem as diretrizes do MEC. Essas instituições não-governamentais contam com a participação do estado brasileiro para realizar uma parte representativa de seu trabalho.

Nossa preocupação reside da constatação de que o pressuposto dos doadores – na maior parte fundações estrangeiras que atentam para os aspectos jurídico-legais dos países beneficiários – é que, nos países democráticos, as áreas de saúde e educação são compromisso dos estados nacionais. O campo de negociação de instituições sem fins lucrativos e não governamentais para a execução de projetos nessas áreas fica comprometido quando não apresentam uma contrapartida das instâncias governamentais, expressando sua responsabilidade com a questão da educação no país.

Ainda que em número reduzido, mas expressivos qualitativamente, os projetos de educação desenvolvidos por nossas instituições vinham contando com linhas de financiamento do MEC. Por isso nossa preocupação quanto à paralisação desses aportes financeiros.

Passamos, na gestão anterior, por um governo que se esqueceu de incluir no PPA a rubrica da educação indígena, dando sinais de que seria esse um assunto secundário dentro das prioridades do executivo. Desde que, em 1991, ao MEC foi passada a responsabilidade de assumir, no plano do ensino fundamental, a regência do ensino escolar às populações indígenas no Brasil, vimos que a FUNAI, desincumbida legalmente da tarefa, tem se mostrado muito mais mobilizada em captar recursos do PPA para assegurar, ainda que minimamente, a continuidade de planos de trabalhos que ela tinha em sua agenda.

Desde a promissora reunião extraordinária do Conselho Nacional de Educação, ocorrida em março deste ano, pudemos testemunhar a disposição do atual governo de instalar o diálogo da SEF-MEC com os setores governamentais competentes e a sociedade civil comprometida com a educação indígena. Assumimos como certa a prontidão da SEF em tomar medidas efetivas, inclusive com o apoio da Procuradoria Geral da República, para enquadrar a enorme demanda por qualidade e efetividade de ações no campo da educação escolar conforme os dispositivos jurídico-legais.

Confiantes de que o governo popular buscará reforçar as alianças do estado com a sociedade civil organizada, no sentido de melhorar a qualidade dos programas educacionais em áreas indígenas, despedimo-nos, aguardando um posicionamento efetivo do MEC quanto à continuidade do financiamento de projetos e de criação de um espaço de discussão e de construção coletiva da política nacional de educação indígena.

Aguardamos um posicionamento, externando nossa consideração.

Atenciosamente,

Marina da Silva Kahn – ISA
Coordenadora da RCA-Brasil

ATIX – Associação Terra Indígena Xingu
CCPY – Comissão Pró Yanomami­­­­­
CTI – Centro de Trabalho Indigenista
CPI-AC – Comissão Pró-Índio do Acre
FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena
ISA – Instituto Socioambiental
OPIAC – Organização dos Professores Indígenas do Acre
Vyty-Cati –Associação das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins

c.c. Comissão Nacional de Professores Indígenas

 

Ambientalista indiana fala sobre biopirataria

ISA – Vandana Shiva visita o Brasil em combate à biopirataria e aos transgênicos
Na última semana, a ambientalista e física indiana Vandana Shiva reuniu-se com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e realizou uma palestra sobre biopirataria na Universidade de Brasília (UnB), ocasiões em que também criticou duramente os organismos geneticamente modificados (OGMs) e a possível liberação de seu plantio e comercialização no país.

Para a ambientalista de notoriedade internacional e coordenadora da Fundação de Pesquisa para Políticas de Ciência, Tecnologia e Recursos Naturais da Índia, a biopirataria é o “neocolonialismo”, praticado por empresas multinacionais, principalmente pelas indústrias farmacêutica e química, por meio da apropriação dos conhecimentos retirados de comunidades tradicionais do terceiro mundo para o desenvolvimento de diversos produtos.

Durante sua palestra na Universidade de Brasília (UnB) na sexta-feira (23/05), Vandana criticou a privatização do conhecimento tradicional e coletivo associado ao uso da biodiversidade, defendendo a implementação de sistemas especiais de proteção que assegurem o reconhecimento e a adequada repartição de benefícios para as comunidades.

Ela descreveu a apropriação do conhecimento tradicional como capitalismo desesperado, que precisa descrever o roubo como criatividade. De acordo com a ambientalista, o capitalismo desesperado rende, anualmente, US$ 50 bilhões à indústria de biotecnologia dos Estados Unidos.

A ambientalista equiparou a biopirataria à estratégia adotada pelas empresas de sementes, como a Monsanto, de subordinar a produção de alimentos no mundo a seus interesses econômicos. Sobre este assunto, Vandana deixou um recado ao novo governo: “o programa Fome Zero só será bem sucedido se for também uma campanha Transgênicos Zero”, pois, segundo ela, esses organismo são uma maneira de causar fome e espalhar doenças.

Ela acusou as empresas de inventar dados e promover falsas pesquisas, citando matéria recentemente publicada na revista inglesa Science, que superestimava supostos benefícios das culturas geneticamente modificadas em solo indiano. A ambientalista entregou à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, estudos desenvolvidos por universidades, institutos e organizações não-governamentais que contradizem dados da publicação. “Os cientistas que assinam aquele artigo nunca estiveram na Índia, apenas repassaram informações recebidas de uma grande empresa de biotecnologia.”

Além disso, Vandana comentou sobre a inversão do princípio do poluidor pagador que vem sendo adotado pelas empresas de semente. A Monsanto já processou diversos agricultores, transferindo para eles o ônus da contaminação genética de suas lavouras, situações que continuam a ser ignoradas pelos defensores dos OGMs e pela grande imprensa brasileira. O caso mais conhecido é o do canadense Percy Schmeiser, que prestou um depoimento sobre o assunto no Fórum Social Mundial deste ano.


Transgênicos no Brasil

Ela disse não entender o interesse do Brasil pela soja transgênica, uma vez que a performance positiva do país no mercado externo do grão, principalmente na Europa, estava diretamente relacionada à ausência de organismos geneticamente modificados, uma exceção entre os grandes produtores mundiais.

De acordo com a ativista, a tentativa de avanço das culturas transgênicas na Índia se assemelhou em muito ao que vem ocorrendo no país, especialmente no Rio Grande do Sul. Lá também a Monsanto tentou forçar a política de fato consumado, estimulando agricultores a utilizar as sementes modificadas sob a promessa de maior produtividade, o que não se concretizou. “Os organismos geneticamente modificados estão agora proibidos na Índia devido ao fracasso, sob todos os aspectos, das experiências que se realizaram em quatro Estados”, destacou.

Após relatar casos de funcionários do governo norte-americano que já trabalharam na Monsanto, ela aproveitou para alertar sobre a visita do representante do comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, ao Brasil nesta semana. Oficialmente, Zoellick discutirá a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas, segundo a ambientalista, o oficial norte-americano também incluirá entre os assuntos a serem abordados um pedido para que seja retirada a proibição dos transgênicos no país.

Apesar das oposições, Vandana espera que ainda possa haver uma articulação internacional com o governo brasileiro para a construção de uma alternativa global aos organismos geneticamente modificados.

Adriana Ramos

 

Leis para coibir biopirataria

Agência Brasil – Combater a pirataria não implica em travar o avanço cientifico e tecnológico do planeta. Buscar meios de bloquear essa atividade ilegal é regular os princípios básicos de proteção e do uso dos recursos naturais e estabelecer uma forma de divisão dos lucros. Seria importante, por exemplo, que as multinacionais descobrissem a cura para o câncer a partir de plantas brasileiras, mas também seria interessante que o lucro desta descoberta fosse dividido com o país.

Segundo o pesquisador Darani Sudaram, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pelo menos oito princípios ativos de recursos naturais das florestas nacionais já foram patenteados no exterior, sem que o Brasil ou as comunidades indígenas que detém os conhecimentos tradicionais das plantas se beneficiassem da industrialização desses recursos. “Até DNA de índio já foi registrado nos Estados Unidos. Com US$ 500 é possível comprar informações sobre o sequenciamento genético dos índios de Roraima”, afirma o pesquisador.

De acordo com a Embrapa, 50% de tudo que é produzido pelas indústrias farmacêuticas tem origem natural e 30% provem de produtos vegetais, como as mais de 25 mil plantas utilizadas na fabricação de medicamentos. Grande parte deste arsenal é originário da floresta amazônica.

Jacaré também está na lista de animais perseguidos

No Brasil, a biodiversidade e os conhecimentos tradicionais são protegidos pela Medida Provisória 2.186, de 2001, que condiciona o acesso aos recursos naturais à autorização da União e prevê a repartição de benefícios, em caso de uso ou comercialização. A partir da MP, o acesso e a remessa do patrimônio genético do país passou a depender de deliberação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, composto por representantes do governo, cientistas, comunidades indígenas e locais.

Outros projetos de lei sobre o assunto tramitam no Congresso Nacional, entre eles o da senadora e atual ministra do meio Ambiente, Marina Silva, que dispõe sobre os instrumentos de controle do acesso aos recursos genéticos nacionais e a utilização sustentável deste patrimônio. O projeto estabelece, entre outros, os seguintes princípios básicos: soberania do poder público sobre os recursos genéticos existentes em território nacional, participação das comunidades locais e dos povos indígenas nas decisões sobre acesso aos recursos genéticos; prioridade no acesso aos recursos naturais para os empreendimentos nacionais e a garantia dos direitos sobre os conhecimentos associados à biodiversidade.

Pelo projeto, as pesquisas desenvolvidas em solo brasileiro serão vistoriadas por órgãos públicos e devem ser realizadas em parceria com instituições de pesquisa nacionais. De acordo com especilistas, a rigor, as medidas são mais que suficientes para as pesquisas de boa-fé, mas claramente inoperantes para as outras, uma vez que é praticamente impossível controlar o trânsito de amostras biológicas retiradas clandestinamente.

Segundo o cientista Ricardo Secco, o Brasil já perdeu centenas de milhares de dólares com registros no exterior de patentes baseadas em espécies vegetais da Amazônia contrabandeadas e tecnologicamente aprimoradas. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Biopirataria constatou que cerca de US$ 3 bilhões são movimentados anualmente por meio do trafico de animais e plantas silvestres brasileiros.

A legislação internacional de patentes se ocupa de direitos individuais ou corporativos, e é pouco sensível a direitos coletivos. Diante desta realidade, pesquisadores, cientistas e ambientalistas defendem a adoção de uma política intensiva de pesquisa interna capaz de reduzir o espaço e a rentabilidade da biopirataria. O raciocínio é simples: o problema hoje é a patente e não a semente. Ao fomentar uma exploração direta, intensiva e inteligente dos recursos biológicos nacionais, o país criaria uma estrutura produtiva, estimuladora de parcerias e geradora de patentes próprias.

Mauricio Cardoso

Governo salva Companhia de Navegação do São Francisco (Franave)

O Plenário aprovou o projeto de Lei de Conversão 13/2003, da Medida Provisória 109/2003, autorizando o Executivo a conceder subvenção econômica para a cobertura de déficit de manutenção da Companhia de Navegação do São Francisco (Franave), criada em 1963. O governo poderá também implementar ações e obras destinadas à recuperação da Hidrovia do São Francisco.

O relator, senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), disse que a empresa encontra-se em situação lamentável sem condições sequer de pagar o salário dos seus funcionários. Ele apresentou emenda supressiva à matéria para eliminar citação de lei já revogada. A matéria vai à sanção.

Senado Federal aprova Secretaria de Promoção da Igualdade Racial

O Plenário aprovou a Medida Provisória nº 111/2003, que cria a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
República. A secretaria terá como estrutura básica o Conselho Nacional de
Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), o gabinete e até três subsecretarias. O
CNPIR será presidido pelo titular da secretaria e terá sua composição,
competências e funcionamento estabelecidos até 31 de agosto deste ano pelo
Executivo. A matéria vai à promulgação.